Um futuro grisalho ou, talvez “pintado” nos espera. É o que nos diz Joaquim Parra Marujo (foto), Doutor em Antropologia Social e Cultural, Mestre em Clínica de Saúde Mental e Diretor da Licenciatura em Gerontologia Social na Escola Superior de Educação João de Deus, de Lisboa, que acredita que no futuro teremos uma nova geração de pessoas idosas. Dessa geração de “maiores”, os idosos que realizem um envelhecimento ativo terão outra qualidade de vida e uma melhor saúde física, emocional, mental, cognitiva e espiritual.
Marujo continua sua reflexão trazendo alguns dados estatísticos alarmantes para compreendermos “quem é quem” dentro de 20 anos. As previsões das Nações Unidas referem que até ao ano de 2050, os países da Europa do Sul, terão as mais altas proporções de pessoas com ou mais de 65 anos de idade. Em Portugal e segundo as projeções do INE “o número de idosos com mais de 65 anos será de 2,95 milhões em 2050, (…) e em 2046 a proporção de população jovem reduzir-se-á a 13% e a população idosa aumentará dos atuais 17,2% para 31%”.
No mundo, o número de idosos aumentará rapidamente e passará de 606 milhões (no ano 2000) para perto de 2 mil milhões em 50 anos. O aumento será mais marcante nos países pobres, onde a população idosa se quadruplicará, passando de 374 milhões para 1,6 mil milhões.
Agrisalhamento demográfico
Trata-se de um envelhecimento progressivo da população a que alguns autores denominam de “agrisalhamento demográfico”: um fenômeno sociopolítico que produziu mudanças profundas no cenário político e intelectual contemporâneo. No Brasil, o cenário não será diferente: estima-se que em 2025, os idosos atingirão aproximadamente o número de 30 milhões de pessoas, o que equivale a 15% da população.
Ver oportunidades neste cenário, conforme explica Marujo, comporta em si mesmo um estatuto de experiências, olhares-saberes e olhares-saber-fazer a serem aproveitados. Mas, ao mesmo tempo, o que fazer com a letra escarlate impressa no peito, o estigma de um ser já desvinculado social, cultural e economicamente que transporta o rótulo e a etiquetagem do mito da inflexibilidade face à mudança, o mito da improdutividade laboral e o mito da (falta de) autoestima!
Se é velho, está aposentado, se está aposentado, está improdutivo e se está improdutivo, está em depressão pela baixa autoestima. Parece cruel demais, mas é a realidade do que se vê hoje, diariamente. Um velho entrando no metrô no horário de pico, de maior movimento? É certo que você ouvirá algum infeliz dizendo: por que razão este senhor não está em casa vendo novela, ao invés de estar aqui, ocupando um assento, de direito, de tantas pessoas que batalharam o dia todo!
Não há como ignorar falas como essas. Para Marujo, o quadro demográfico futuro é preocupante e com os dados demográficos apresentados e com as iatrogenias do envelhecimento urge a necessidade de estreitar a relação entre a população idosa e a juventude. Ou seja, o diálogo com as demais gerações é fundamental.
E como se trabalharia questões tão delicadas? Marujo acredita que através da educação, pelas universidades que podem e devem preparar seus licenciados em Gerontologia, a planearem e intervirem na prevenção da estabilidade da arquitetura: intelectual, informacional, lúdica, perceptiva, sensorial e cenestésica da pessoa idosa.
Neste processo estigmatizador que sofre o indivíduo considerado improdutivo, o idoso acaba por receber uma imagem de dependência e fragilidade, como se o envelhecer fosse uma etapa distinta e o aproximasse da morte e do fim de perspectivas possíveis. As idades psicológica, biológica e social nem sempre estão em conformidade com a idade cronológica. Entender a velhice em múltiplas dimensões, como processo inerente à vida, é fundamental, até para compreendermos as nossas próprias mudanças no decorrer dos anos.
O antropólogo acrescenta a toda essa problemática, as doenças, consideradas pela população como sendo próprias do envelhecimento e que provocam na pessoa idosa sentimentos de vazio social, dependências – familiar, econômica, social, cultural e política – e de exclusão social.
E as consequências não poderiam ser diferentes: inúmeros sofrimentos que contribuem, significativamente, para a estigmatização, o isolamento e a exclusão social, levando o idoso à tristeza e depressão. Deprimido, aliena-se de tudo o que o rodeia, culminando, num quadro extremo, na sua morte por isolamento familiar e sociocultural.
É importante lembrar que o envelhecimento não é um processo homogêneo que acontece da mesma forma para todos. O círculo social onde está inserido pode e muito contribuir para um envelhecimento saudável e com respeito às diferenças de cada indivíduo. Cada um carrega consigo suas percepções e experiências de mundo – e continua com elas em todos os processos e etapas.
Marujo afirma que para que “o mais velho” usufrua de uma melhor qualidade de vida – saúde física, psicológica e espiritual – urge estimulá-lo através de atividades psicomotoras (educação física), de estimulação cognitiva (leitura, música, pintura, etc.), técnicas de relaxamento e de meditação (o envelhecimento ativo). Todas estas atividades otimizarão a autoestima, a autoconfiança e a autoimagem.
Parece tanto a fazer que acabamos nos sentindo cansados. Não se trata de crítica, mas um alerta para o entendimento das reais necessidades e desejos de cada ser. Não se pode obrigar alguém que, nunca fez atividade física, a iniciá-la, simplesmente, porque está “dito e sacramentado” que é importante para uma velhice saudável! Se estas questões não forem analisadas com cuidado, poderemos ter pessoas vivendo em verdadeiras “camisas de força” impostas pela ciência ou pelo senso comum. O que torna tudo bem pior!
Referências
MARUJO, J.P. (2012). O futuro será “grisalho”. O futuro será idoso e dos idosos. Disponível Aqui. Acesso em 19/01/2012.
POHLMANN, L. (2012). Perspectivas e desafios no processo de envelhecimento. Disponível Aqui. Acesso em 20/01/2012.