O papel do assistente social em ILPI é garantir que a pessoa idosa seja reconhecida como indivíduo, dentro dos seus direitos, a fim de exercer a sua cidadania.
Thaís Teixeira Carvalho (*)
O trabalho dentro de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) ainda conquista espaço dentro e fora das instituições, onde muitas profissões permanecem no anonimato e no espaço do desconhecimento acadêmico sobre as suas reais atribuições, por isso hoje iremos desvendar um pouco sobre a atuação do assistente social dentro deste campo de trabalho. O assistente social é o profissional responsável por trabalhar com as expressões da questão social.
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Ou seja, é o profissional que atua com a transformação social, de forma que ele identifica onde está as expressões da questão social (desigualdade de gênero, de raça, falta de acesso aos serviços públicos, trabalho escravo etc.), diante das suas diversas mazelas sociais, que podem ser elas: falta de acompanhamento da pessoa idosa em serviços de saúde, negligência ou abandono da pessoa idosa, ausência de rede de apoio familiar etc. Para um país que está inserido em um contexto mundial de envelhecimento populacional, esses casos se apresentam em diversos contextos e classes econômicas.
Hoje as ILPI privadas oferecem um ótimo atendimento, porém inacessível para boa parte da população, assim como o Estado oferece uma parcela muito pequena de instituições públicas para cumprir com seu papel, em que a maior parte do público que carece de poder econômico é absorvido pelos serviços filantrópicos, as famosas ILPI do terceiro setor, pois estas prestam um serviço para os municípios e recebem um repasse de verba para gerir esse espaço, junto com uma contrapartida da instituição.
Algumas pessoas costumam associar apenas o trabalho do assistente social apenas com o trabalho em locais filantrópicos ou públicos, isso é comum pela concepção de que apenas nesses locais existem expressões da questão social, mas essas expressões acontecem diariamente em qualquer espaço. Seja por meio da opressão machista do patriarcado na família, seja através da negligência e abandono familiar diante da concepção de que apenas pagar um bom lugar para o idoso é suficiente. Muitas vezes nesses ambientes em que há um público com mais poder aquisitivo podem haver diversos conflitos familiares, violações dos direitos dos idosos, de forma que se faz necessário o olhar atento do profissional de serviço social para estes espaços.
O papel deste profissional dentro da ILPI é garantir que a pessoa idosa seja reconhecida como indivíduo, dentro dos seus direitos, a fim de exercer a sua plena cidadania em conjunto tanto com seus familiares, funcionários e com a sociedade em geral. Esse trabalho é realizado através do fortalecimento de vínculos familiares, quando existem, diante da mudança da pessoa idosa para uma instituição, qual espaço ela passa a ocupar naquela família, qual papel social ela passa a desempenhar, como o vínculo pode se fortalecer sem que haja prejuízo diante da falta de convivência diária, ou diante da falta de autonomia da pessoa idosa.
Além disso, principalmente no caso das pessoas idosas que não possuem familiares, o papel do assistente social é de garantir que os seus direitos sejam preservados, em busca de uma análise de todas as pendências jurídicas, de saúde, assistência social que o idoso possa necessitar, se há necessidade de articular com a rede de serviços sobre alguma demanda, ou no caso de ser necessário fazer encaminhamento para um serviço que possa atender a demanda da pessoa idosa.
Outro aspecto importante do trabalho do assistente social é o fortalecimento de vínculos dentro da instituição, visto que um espaço coletivo pode oferecer diversos conflitos diante da convivência. Divisão dos espaços privados, diferenças ideológicas e formas de se comunicar podem ser diversos motivos para que as pessoas idosas do espaço não se sintam acomodadas, ou não se sintam respeitadas dentro daquele ambiente. Para isso é realizado um trabalho de análise e construção de grupos de socialização, a fim de avaliar quais são as atividades que podem ser desenvolvidas para cada grupo, de acordo com as suas características, além de criar um espaço de convivência mútua com a criação de rituais (festividades, atividades de socialização, celebração de dias importantes do ano etc.).
O que é mais incrível no trabalho do serviço social é de poder ressignificar histórias de vida. Dentro das ILPIs é possível redescobrir vínculos familiares já fragilizados que se fortaleceram, novos vínculos realizados com voluntários e funcionários, além de ser possível trazer para as atividades mais simples a discussão sobre a importância de se conhecer sobre as expressões da questão social, fazendo com que muitos idosos possam reavaliar as suas próprias escolhas, seus caminhos, enfim… É um processo de redescobrimento de vida!
Muitas idosas se descobrem mulheres capazes de amar novamente ou até mesmo pela primeira vez, muitos idosos se descobrem ótimos avôs depois de uma vida de ausência na vida dos filhos. Tudo é possível dentro do resgate de história de vida com acolhimento, com respeito e sem qualquer julgamento sobre as escolhas de vida de cada um.
O trabalho do assistente social vai muito além da concepção assistencialista de muitos colegas com senso comum, pois é uma profissão capaz de transformar a realidade social, combater as expressões da desigualdade social e, principal: reescrever histórias, transformar vidas, pois vidas idosas importam e muito.
Foto destaque de Mart Production/Pexels
