As estratégias não farmacológicas, como intervenções que incluem atividade física, desempenham um papel relevante no cuidado à pessoa com doença de Alzheimer.
Liga Acadêmica de Gerontologia EACH USP (*)
A doença de Alzheimer vai além da perda de memória: ela impacta na identidade, na autonomia, na qualidade de vida e na rede social do indivíduo. Por conseguinte, são relevantes estratégias que vão além do uso de medicamentos, pois estes permitem intervir nos múltiplos aspectos da vida do indivíduo, promovendo não só controle de sintomas, mas também manutenção da independência, bem-estar emocional e engajamento social.
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Nesse contexto, as estratégias não farmacológicas desempenham um papel relevante no cuidado à pessoa com doença de Alzheimer, complementando as intervenções medicamentosas. Intervenções que incluem atividade física, estimulação cognitiva, socialização e cuidados emocionais têm demonstrado melhorar a qualidade de vida, reduzir sintomas neuropsiquiátricos e preservar a autonomia dos pacientes (Sims et al. 2024).
Essas abordagens promovem um cuidado integral, considerando não apenas os aspectos clínicos, mas também os físicos, emocionais e sociais do indivíduo. Dentre elas, destaca-se a atividade física e o seu impacto.
A prática regular de atividade física apresenta benefícios multidimensionais. Sua simplicidade, acessibilidade e flexibilidade permitem adaptações a diferentes níveis de capacidade funcional. Além disso, seus efeitos vão além do físico: ao mesmo tempo em que promove a autonomia física, também estimula a cognição, melhora o humor e reduz o isolamento social. Assim, constitui uma intervenção holística, capaz de integrar a mente e o corpo em favor da qualidade de vida de pessoas com Alzheimer.

Outro ponto relevante é o seu papel preventivo. Estudos indicam que níveis mais elevados de atividade física são uma estratégia promissora para um menor risco de declínio cognitivo e demência comparado com pessoas sedentárias (Yamasaki, 2023). Esses efeitos são explicados, em parte, pelos mecanismos de neuroplasticidade estimulados pelo exercício, que favorecem conexões sinápticas e a consolidação da memória. Além disso, a atividade física otimiza a função cerebrovascular ao favorecer a regulação da atividade das células da glia, responsáveis por nutrir e proteger os neurônios e tecido nervoso.
Sob a perspectiva da saúde pública, a atividade física se apresenta como uma estratégia sustentável e de baixo custo, principalmente em países de baixa e média renda, onde o acesso a medicamentos de alto valor pode ser limitado (Blondell, 2014). Além de contribuir para a cognição, o exercício físico contribui para dimensões sociais e emocionais, reduzindo o isolamento, promovendo interação e fortalecendo a autoestima do paciente.
Vale ressaltar também o potencial da atividade física no campo diagnóstico. A análise da marcha, por exemplo, pode funcionar como um sinal de alerta para indícios de demência. Segundo o livro Exercício Físico no Envelhecimento Saudável e Patológico (2013), a alteração nos parâmetros da passada, como o comprimento, cadência, variabilidade e velocidade, tem se mostrado preditores do risco de desenvolvimento da doença. Logo, a avaliação por tarefa dupla, a qual combina marcha e desempenho cognitivo, tem ganhado relevância como forma de rastreamento precoce de comprometimento cognitivo e de demência.
Diante desse conjunto de evidências, torna-se evidente a necessidade de uma mudança de paradigma no cuidado ao Alzheimer. O tratamento e cuidado não deve se limitar somente à farmacologia, mas integrar estratégias não medicamentosas que promovam saúde, autonomia e dignidade. Entre elas, a atividade física se destaca como uma prática de intervenção, prevenção e até mesmo como diagnóstico. Mais do que exercício para o corpo, ela representa estímulo para a mente e resgate da qualidade de vida.

Referências
Blondell SJ, Hammersley-Mather R, Veerman JL. Does physical activity prevent cognitive decline and dementia?: A systematic review and meta-analysis of longitudinal studies. BMC Public Health. 2014 May 27;14:510. doi: 10.1186/1471-2458-14-510. PMID: 24885250; PMCID: PMC4064273.
Coelho, F. G. M., Gobbi, S., Costa, J. L. R., & Gobb, L. T. B. (2013). Exercício físico no envelhecimento saudável e patológico.
Vu, H. T., Nguyen, H. T., & Nguyen, A. T. (2024). Effectiveness of Non-Pharmacological Interventions for Dementia among the Elderly: A Randomized Controlled Trial. Geriatrics, 9(2), 52. https://doi.org/10.3390/geriatrics9020052
Yamasaki T. Preventive Strategies for Cognitive Decline and Dementia: Benefits of Aerobic Physical Activity, Especially Open-Skill Exercise. Brain Sci. 2023 Mar 21;13(3):521. doi: 10.3390/brainsci13030521. PMID: 36979331; PMCID: PMC10046723.
(*) Liga Acadêmica de Gerontologia EACH USP. Texto escrito pela integrante da Liga: Ysis Barreto Donati – Educação Física e Saúde da EACH/USP. E-mail: ligagerontologiausp@gmail.com
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
