Além da vulnerabilidade biológica devido à idade, existem implicações diversas da Covid-19 para as faixas etárias mais velhas. A primeira delas é o etarismo, o preconceito e a discriminação contra as pessoas mais velhas.
Cadernos de Saúde Pública/Fiocruz (*)
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Uma das características do novo coronavírus é que ele acomete mais severamente as pessoas mais velhas e aquelas com doenças crônicas preexistentes. No Brasil, até 5 de junho, 86% dos óbitos pela doença haviam ocorrido entre pessoas com 50 anos ou mais. A questão foi abordada pela pesquisadora da Fiocruz Minas, Maria Fernanda Lima-Costa, em suplemento da revista Cadernos de Saúde Pública, em que são apresentados os primeiros resultados da iniciativa Elsi-Covid-19. O periódico é publicado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
Para Lima-Costa, além da vulnerabilidade biológica devido à idade, existem implicações diversas da epidemia para as faixas etárias mais velhas. A primeira delas é o etarismo (ou ageism em inglês), que significa o estereótipo, o preconceito e a discriminação contra as pessoas mais velhas. Essa concepção inaceitável pode levar à “naturalização” da perda de vidas entre os mais velhos, implicando condições diferenciadas de apoio social, tratamento e medidas de prevenção.
Pelo menos duas outras condições tornam os mais velhos mais vulneráveis à epidemia do Sars-CoV-2, complementa Lima-Costa. Uma delas é a maior prevalência de doenças crônicas, que exigem monitoramento e uso contínuo de medicamentos (68% dos adultos brasileiros com 50 anos ou mais possuem duas ou mais doenças crônicas). Portanto, disse ela, não se pode menosprezar a possibilidade de piora dessas condições durante a epidemia, em função das dificuldades para a obtenção de consultas médicas e/ou de medicamentos, ou mesmo a adoção de comportamentos prejudiciais à saúde. Adicionalmente, existe a possibilidade do surgimento de novas doenças, como doenças cardiovasculares, doenças autoimunes e de problemas de saúde mental, em função do estresse gerado pela epidemia e do distanciamento ou isolamento social.
Existem muitas perguntas ainda não respondidas acerca do comportamento do Sars-CoV-2 na população, questiona a pesquisadora. Uma dessas perguntas é se a epidemia será contida na primeira onda ou se ondas sucessivas virão, até que surja uma vacina eficaz ou surjam outras medidas, ainda desconhecidas, que sejam capazes de conter a sua disseminação. Existe, portanto, uma grande necessidade de informações transparentes, oportunas e de boa qualidade para esclarecer a sociedade e subsidiar políticas públicas para a mitigação da epidemia e suas consequências no curto e longo prazos.
Em função desses desafios foi constituída a iniciativa Elsi-Covid-19, com o objetivo de produzir informações para o melhor entendimento da epidemia do coronavírus 2 e suas consequências nas faixas etárias mais velhas. Essa iniciativa é baseada em entrevistas por telefone realizadas entre participantes do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil), conduzido em amostra nacional representativa da população com 50 anos ou mais.
Neste Suplemento dos CSP são apresentados os primeiros resultados da iniciativa Elsi-Covid-19. O primeiro artigo descreve a metodologia da iniciativa. Os artigos subsequentes contemplam temas diversos, como isolamento social, saúde mental, doenças crônicas, uso de medicamentos e uso de serviços de saúde, entre outros temas não menos relevantes. Como estamos diante de uma crise sanitária, que exige respostas rápidas, alguns artigos estão na forma de comunicações breves para agilizar o processo de publicação. Espera-se, com esta primeira divulgação de resultados, mostrar as condições vividas pelos mais velhos durante esta terrível epidemia, e chamar a atenção da sociedade e das autoridades para a necessidade de medidas prementes para mitigar os problemas encontrados.
Leia o suplemento de CSP na íntegra.
Foto destaque de Marcelo Renda no Pexels