De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) o câncer de próstata é o segundo mais comum entre homens no Brasil, atrás apenas dos tumores de pele. As estimativas do Instituto revelam que somente em 2010 foram diagnosticados cerca de 50 mil novos casos da doença no País. Muito mais do que outros tipos de câncer, o de próstata é considerado uma doença da terceira idade. Três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, de 2001 a 2005, foram registrados 1.165 casos entre homens até 54 anos. Acima dessa faixa etária, foram 14 mil diagnósticos.
Isabela Morais *
Daher Cezar Chade (foto), médico da clínica urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) revela que a doença já chegou a ser a principal causa de morte da população masculina no País. “Nos últimos anos, porém, o número proporcional de óbitos tem diminuído, porque os casos passaram a ser conhecidos ainda numa fase curável. Os diagnósticos durante esse período aumentaram, por causa da evolução nos métodos utilizados para detectar o tumor”, diz.
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Os novos tratamentos
Grandes novidades da urologia estão acontecendo nas etapas de tratamento do câncer de próstata. Para os casos em que o diagnóstico foi realizado cedo e a doença ainda pode ser curada, os avanços tecnológicos permitem a realização de cirurgias com um robô ou o tratamento com ultrassom. Já em casos avançados, as novidades incluem um novo bloqueador hormonal e duas vacinas. O urologista Daher Chade esteve, em maio, no Congresso Americano de Urologia, em Washington nos Estados Unidos, onde esses avanços foram apresentados.
Segundo Chade, o uso da robótica para realização de cirurgias em tumores curáveis vem ganhando espaço. “Nos Estados Unidos, acontecem muito mais cirurgias com robôs do que com o método convencional.” Já o procedimento de destruição das células cancerígenas pelo chamado Ultrassom Focal de Alta Intensidade (HIFU) é muito recente e precisa ser melhor avaliado. “É um método minimamente invasivo, que apresenta poucas sequelas e efeitos colaterais, mas os primeiros resultados de sua aplicação em casos de câncer de próstata estão saindo agora e ainda não são definitivos. O procedimento tem apresentado bons resultados quando aplicado em casos de câncer de mama e de útero”, revela o médico.
Nos casos em que o tumor é detectado num estágio avançado, ou quando ele volta após outros tratamentos, os avanços da medicina são mais promissores. Segundo o médico, são três as novidades básicas.
A primeira delas é um bloqueador hormonal chamado Abiraterona, mais eficiente do que os bloqueadores utilizados atualmente. Bloqueadores são usados para “travar” o crescimento do tumor por alguns anos. Mas, após algum tempo, o câncer torna-se resistente e volta a crescer. Quando isso ocorre, o tratamento segue com quimioterapia. De acordo com Chade, a Abiraterona é mais forte do que os bloqueadores atuais, controla as células cancerígenas por mais tempo e é capaz de adiar a necessidade da quimioterapia.
As duas outras novidades apontadas pelo médico são vacinas que deverão ser utilizadas nessa etapa posterior à ação do bloqueador hormonal. A primeira delas é chamada Sipuleucel. Ela é a primeira vacina autorizada para uso em câncer de próstata no mundo, pela FDA (agência norte-americana que regulamenta fármacos). “Nessa fase de tratamento avançado, se consegue muito pouco ganho de sobrevida para os pacientes. A Sipuleucel conseguiu um aumento de vida de em média 4 meses. Pode parecer pouco, mas ela foi além do que qualquer outro tipo de tratamento”, comenta o médico. A vacina, porém, tem um preço muito elevado e por isso as perspectivas para a utilização do método são restritas. São necessárias três aplicações, num custo total de 90 mil dólares.
Mais promissora é a vacina por terapia gênica, que ainda não está em uso, mas vem sendo pesquisada em diversos centros no mundo. Diferente da medicação hormonal ou da Sipuleucel que são iguais para todos usuários, esse tipo de vacina é individualizada. Chade explica que, para produzi-la, são retiradas células do tumor e da corrente sanguínea do paciente. Após uma série de exames é produzida uma vacina específica para combater o câncer daquele indivíduo. “O mesmo método vem sendo utilizado para tratar câncer de pele e sarcoma e os resultados apresentados são muito promissores. Ainda vamos ouvir falar muito desse tipo de vacina por terapia gênica que individualiza o tratamento. Isso parece ser o futuro da medicina”, conclui.
Os velhos preconceitos
O gráfico apresenta as taxas de mortalidade por câncer de próstata nos estados. Em São Paulo, a cada 100.000 homens, a taxa de mortalidade é de 12,7.
Mesmo com toda tecnologia desenvolvida para tratar a doença, os métodos preventivos mais eficazes continuam sendo os exames de sangue (chamado de PSA) e o de toque retal. “Só assim é possível realizar o diagnóstico numa fase curável”, explica o médico.
Apesar de fundamental, o exame de toque retal ainda é visto com preconceito pelo brasileiro. Segundo uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia em 2009, 76% dos homens brasileiros reconhecem a importância do exame, mas apenas 32% o realizam. Ao serem questionados, 77% dos entrevistados afirmaram que a população masculina não realiza o exame por preconceito, mas apenas 8% admite que não realiza o exame por esse motivo.
Chade diz que há 20 anos, quando o exame de sangue PSA foi descoberto, muitos deixaram de realizar o outro procedimento. Após algum tempo, porém, observou-se que só o PSA não era suficiente para detectar a doença. “É importante que os homens acima dos 45 anos façam os dois exames pelo menos uma vez ao ano. Aqueles que têm histórico de câncer na família devem se preocupar ainda mais. Como a expectativa de vida tem aumentado, o risco aumenta para todos os homens”, conclui o médico.
Fonte: Revista Espaço Aberto No. 130. Disponível Aqui, em 5/08/2011.