Este momento pede uma atenção especial aos familiares de idosos e a cada idoso em si. É hora de ficar atentos a sinais e sintomas que podem revelar que uma depressão se faz presente.
A depressão já era um transtorno mental frequente entre idosos, agora com a pandemia do coronavírus, a tendência é que este número se eleve. As incertezas frente ao futuro, mudanças repentinas na rotina e a redução do contato físico e social com familiares e amigos podem ser fatores geradores de uma sobrecarga emocional, que ultrapassa a capacidade de enfrentamento de qualquer indivíduo, independente da faixa etária.
Idosos são particularmente mais vulneráveis aos efeitos prejudiciais da Covid-19 pois, além de ser o grupo de maior risco, sofrem diretamente os efeitos do isolamento e distanciamento social, uma vez que a recomendação é de que fiquem em casa. Sabe-se também que este será um dos últimos grupos a retomar a normalidade.
Nas últimas décadas houve um crescente incentivo a esta parcela da população para que saísse de suas casas, frequentassem grupos de idosos, fossem fazer atividades que lhes dessem prazer. Eles sentiram o gosto deste protagonismo e a liberdade proporcionada, aprenderam a se valorizar e viver de uma forma mais plena. Eis que chega este vírus e a orientação agora é justamente ao contrário, fique em casa! As relações sociais, que sempre foram fatores protetivos a sua saúde mental agora são restritas a ligações e vídeo chamadas, na sua maioria.
Para muitas pessoas não está sendo fácil a adaptação a esta nova realidade, porém lutar contra ela pode não ser a atitude mais inteligente. Precisamos cultivar a cautela, paciência e sabedoria, características essas que muitos idosos tem de sobra, afinal tiveram longos anos de vida os quais passaram por diversas dificuldades, que de uma forma ou de outra, sempre saíram exitosos. As cicatrizes são para nos lembrar que fomos fortes o suficiente para seguir em frente.
Este momento pede uma atenção especial aos familiares de idosos e a cada idoso em si. É hora de ficar atentos a sinais e sintomas que podem revelar que uma depressão se faz presente. É importante uma intervenção adequada antes da patologia se instalar de forma mais arraigada.
A depressão se manifesta através do aparecimento de sintomas, que seguem abaixo:
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– Alterações de apetite (perda ou ganho de peso),
– Perda de interesse por atividades que anteriormente lhe dava prazer,
– Alterações de sono (insônia ou excesso de sono),
– Diminuição da autoestima, descuidando da sua aparência,
– Cansaço, fadiga e perda de energia,
– Aparecimento de sentimentos de tristeza, angústia, ansiedade e mesmo de irritabilidade,
– Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio,
– Dores pelo corpo, queda da imunidade, ou outras somatizações, diminuindo a resistência física a doenças,
– Perda recente do interesse por sexo,
– Dificuldade de concentração, memória e raciocínio,
– Diminuição da capacidade de sentir alegria.
Uma dúvida comum entre as pessoas é a diferença entre depressão e tristeza, que num primeiro momento pode parecer ser tudo a mesma coisa, mas não é.
-Tristeza sentimento é uma resposta normal e adaptativa do ser humano diante de situações adversas, e pode ser um momento de reflexão e de preparação para novas ações no futuro.
-Depressão vai além. É uma doença mental, invade o indivíduo afetando não só seu humor, mas também seu comportamento e pensamento.
É importante se ter cautela com este diagnóstico, pois ele é clínico e seu médico deverá descartar algumas doenças que podem simular um quadro depressivo, sendo que cada caso deve ser avaliado individualmente. Ressalto que para o diagnóstico a maioria dos sintomas listados devem se fazer presentes, na maior parte do dia, quase que diariamente e por pelo menos duas semanas.
O tratamento da depressão, comumente envolve a farmacoterapia e a psicoterapia, ou seja, remédio para os sintomas e diálogo para os problemas, com profissional psicólogo.
Segue abaixo algumas dicas que podem prevenir e afastar a depressão da sua vida, neste período da quarentena:
– Manter o contato com amigos e familiares. O distanciamento não significa cortar relações, ele é físico e não precisa ser emocional.
-Manter uma rotina regular e saudável. Procure garantir uma alimentação balanceada e nutritiva além de uma rotina regular de sono. Evitar recorrer a hábitos negativos para lidar com a situação, como uso de cigarro ou álcool.
– Esteja em atividade. Preencha seu tempo dentro de casa com ocupações que gosta, como ler, desenhar, assistir filmes, cuidar das plantas, se dedicar a uma atividade manual, culinária, aprender coisas novas etc. Lembre-se: Para se manter em equilíbrio é necessário manter o movimento!
– Reservar um tempo para relaxamento. Pode ser através de meditação ou ioga (tem vários aplicativos na internet com aulas). Esse tipo de técnica nos ajuda a gerenciar melhor o estresse do momento.
-Evitar consumir muita informação sobre a pandemia ou mesmo a política. Se informar uma vez ao dia é o suficiente. Não é necessário assistir a todos telejornais ou notícias do whatsapp.
É muito importante que os cuidadores, familiares e os próprios idosos fiquem atentos aos primeiros sinais de tristeza, desânimo, falta de energia, pensamentos negativos, falta de esperança e mudanças de comportamento. Se persistir por mais de duas semanas busquem auxílio profissional especializado.
Eu, particularmente, em casos mais delicados tenho atendido presencialmente no consultório, ou no próprio domicílio, assim como também realizado atendimentos online, por chamadas de vídeo. As possibilidades estão aí, não sofra sozinho. Lembre-se, vai passar, mas você precisa manter-se emocionalmente bem durante esta travessia, para assim desfrutar de todo porvir.
Foto destaque: Andrea Piacquadio/Pexels