Envelhecer não é sinônimo de passividade, resignação e tampouco aceitação para todo tipo de coisas que as pessoas se julgam no direito de fazer ou dizer. Por que os “cabelos brancos” nos colocam nessa ingrata posição submissa? Pode até ser que o “outro” nos veja “diferente”, mas será que sabemos em quem realmente nos transformamos no andar dos anos?
Com base na reportagem que saiu na grande imprensa nas últimas semanas sobre Betty Faria, ousamos dizer que sim, algumas poucas pessoas, a exemplo da atriz, caminham pelo tempo de mãos dadas com as transformações da mente e do corpo. E o que comanda tanta impetuosidade e coragem diante da vida? Quem sabe, o desejo de ser e de se sentir livre, diante de tudo e de todos.
O texto começa assim: “Em pleno verão fora de hora no Rio de Janeiro, a atriz Betty Faria decidiu fazer o programa óbvio: ir à praia. Até aí, nada de mais. Mas a praia carioca é o paraíso dos paparazzi. Betty, que além de ter 69 anos não está na sua melhor forma, foi fotografada de biquíni e acabou usando seu blog para um longo desabafo: “O problema é a burka. Sim, burka para as mulheres fora de forma, para as velhas e desabadas”, escreveu a atriz, que viveu no cinema e na televisão personagens provocantes e fogosas, como Tieta, na novela homônima, e Salomé, de Bye Bye Brazil”.
E o protesto não parou por aí. Ao ouvir de um amigo, num tom de crítica, a recomendação de que ela deveria se “proteger mais”, Betty, soltou a bomba: “O que fazer se o fotógrafo tem mal gosto e publica uma foto minha branca, sem sol, gorda, pançuda, fora de forma e de BIQUÍNI PEQUENININHO? É falta de semancol da minha parte ou é a minha liberdade?”
Rebeldia, por que não?
Betty é filha de um general do Exército e orgulha-se de ser uma eterna rebelde: “O mundo quer uma burka para as mulheres que estão tentando viver e sobreviver aos tempos, às décadas, às agruras da vida, e muito mesmo a uma vida bem vivida. Não quero burka, não!”, desabafou a atriz. “Vou morrer velhinha de biquíni na praia. É uma sensação de liberdade tão boa. É o mínimo nesse Brasil tão careta”.
Viver as mudanças na linha do tempo, não é favor, menos ainda limitação a certos padrões impostos por muitos, aquele tal dever de “enquadrar-se à idade avançada”. Envelhecer, em qualquer estilo e modo de vida, é direito de cada um. E Betty quer viver o seu, a sua maneira.
Liberta, ela protesta em seu blog (com sucesso na rede): “Quem não gostar que não olhe, não fotografe e não encha o saco”. Como diz a reportagem: “O texto foi uma redenção para mulheres de diferentes cantos do Brasil e também do exterior que se sentem oprimidas pela ditadura do corpo perfeito”.
Betty completa: “Alguns homens escreveram elogiando, achando inteligente o que escrevi. Ah, mas as mulheres se identificaram direto. Tem uma portuguesa que escreveu que vai à praia amanhã, mas sem burka! Há uma cobrança muito forte pela boa forma nesse Brasil de mulheres-fruta”.
Bem, na verdade, entendemos que há espaço para todo mundo: mulheres-fruta, mulheres-burka, mulheres-executivas, mulheres-intelectuais, mulheres-do-lar e a lista segue.
Irreverente, Betty está levando o episódio com extremo bom humor. Aos risos, conta a reportagem, “ela debocha do paparazzo, dizendo que ele fotografa mal e poderia ter achado um ângulo melhor”. Sem perdão, ela diz: “Eu só queria saber quanto pagaram a ele por essa foto horrorosa. Ele tem muito mau gosto”.
Assim como Betty, muitas mulheres querem ser ouvidas, protestarem sobre esse tirano culto ao corpo e a boa forma. É como se elas dissessem: “Olha aqui, tem gente dentro de mim, viu!”.
Referências
LEMOS, R. (2013). Betty Faria protesta pelo direito de envelhecer. Disponível Aqui. Acesso em 29/05/2013.
