“Mulher brasileira em primeiro lugar?”

“Mulher brasileira em primeiro lugar?”

O que dizer da mulher brasileira e da velhice feminina de um país cantado em versos e também cotado em rankings vergonhosos.

Adriana de Oliveira Alcântara (*)


O mundo da velhice é majoritariamente feminino e, conforme a idade aumenta, mais velha é a população das mulheres, sobretudo na faixa etária dos 80 anos. É o que atesta o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). E como pensar a despeito do significado de envelhecer hoje no Brasil, tomando como perspectiva a dimensão do gênero? Sim, alcançar a questionável “melhor idade” neste país requer a compreensão de que homens e mulheres envelhecem distintamente, não só em relação aos aspectos biológicos, mas especialmente no que se refere às condições socioculturais, cujo processo de formação brasileira revela os papeis e os lugares determinados em função do sexo.

Envelhecer mulher num contexto de retirada e desmonte de direitos é preocupante, haja vista que esta camada necessita de cuidados específicos, a exemplo da saúde, portanto, é um tempo em que se espera maior proteção social e não extinção. Um fato merecedor de atenção que implica em considerável impacto sociodemográfico, reside no costume das mulheres brasileiras se casarem com homens mais velhos. Ao que tudo indica, assumem o cuidado destes, ficam viúvas, porém, sob que circunstâncias vivem mais? Para mencionar tão somente uma situação, com a reforma (ou melhor, desconstrução) da Previdência Social, sendo a viúva dependente, caso não haja filhos menores, sua pensão será 60% da aposentadoria do esposo!

Vale lembrar que uma característica comum da atual geração de mulheres maiores de 60 anos é a sua não inserção no mercado de trabalho, ou seja, são do lar, dependendo apenas da renda do esposo e, diante da viuvez contará com uma renda menor. Ademais, a canção é ficção – a mulher brasileira não ocupa o primeiro lugar em termos positivos, uma vez que a realidade mostra o contrário face a uma conjuntura tão limitante, acarretando numa velhice empobrecida, como bem evidencia o “Relatório Mulheres, Empresas e o Direito”, divulgado pelo Banco Mundial em 2019: O Brasil está no 70º. lugar no índice que calcula a diferença de gênero no tratamento jurídico.

Infelizmente, ainda há outros rankings assustadores como feminicídio, desigualdade salarial, somados a posturas machistas advindas da autoridade máxima do Brasil. O que a velhice nos reserva? Tal cenário está gritando que, para envelhecer com dignidade, independentemente de ser homem ou mulher, velhos ou não, urge lutar e parar de encobrir que tudo o que está acontecendo não nos diz respeito.

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Assim, ao invés de continuar nos encaixando na canção “Que país é esse?” (Legião Urbana) ou “Brasil” (Cazuza), quem sabe não poderíamos mudar na esperança de que realmente “amanhã será outro dia, pois “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” num país predominantemente feminino e tão carente de empatia. Por isso, meninos, por que não usar rosa, de modo a atender ao apelo da autora nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie? Sejamos todos feministas!!!

(*) Adriana de Oliveira Alcântara (Assistente Social, Mestre em Gerontologia, Dra. em Antropologia Social, Professora do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Fametro (UNIFAMETRO). Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected]

Foto destaque de Alcides Freire Melo


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