Metade de todas as iatrogenias poderia ser evitada, diz estudo

Metade de todas as iatrogenias poderia ser evitada, diz estudo

A iatrogenia nos idosos é associada a vários agravos à saúde como: quedas, déficits cognitivos, depressão, desnutrição, infecções resistentes, imobilidade, déficits de audição e visão, tonturas e morte prematura.


Iatrogenia é uma das grandes síndromes geriátricas e pode ser definida como sendo qualquer dano, direto ou indireto, decorrente de ações ou omissões praticadas por médicos e/ou outros profissionais da saúde, em qualquer tipo de diagnóstico ou terapêutica. Hoje as iatrogenias são consideradas uma das principais causas de mortalidade e adoecimento em países desenvolvidos, estimando-se que, por exemplo, nos EUA já sejam a terceira causa de mortes no país.

Sabe-se que as mortes e sequelas da iatrogenia são subestimadas, que a iatrogenia afeta 1 em cada 20 pessoas que procuram um serviço de saúde e que mais da metade destas iatrogenias podem ser evitadas.

As iatrogenias inevitáveis fogem totalmente do controle dos médicos e serviços de saúde e incluem as reações adversas aos medicamentos. Já as evitáveis, podem incluir, por exemplo, erros ou omissões de profissionais de saúde, falhas do sistema de saúde, prescrição inadequada de medicamentos, sobrediagnóstico ou subdiagnóstico, falhas relacionadas à técnica do procedimento médico e as relacionadas à infecção hospitalar.

Recente estudo realizado no Reino Unido, pela Universidade de Manchester, publicado agora no dia 17 de julho na revista British Medical Journal, analisou dados de mais de 330.000 pacientes provenientes de todo o mundo. O estudo demonstrou que 12% destes pacientes sofreram iatrogenias consideradas graves, as quais causaram incapacidade permanente ou até morte do paciente. Quase metade destes incidentes estavam relacionados com medicamentos e condutas terapêuticas e aproximadamente um quarto com procedimentos cirúrgicos. Destes, 6% dos casos foram considerados evitáveis pelos pesquisadores.

As especialidades médicas complexas são as que mais produzem iatrogenias evitáveis. Assim, especialidades médicas cirúrgicas e a medicina de emergência são as que apresentam maior risco, sendo que a maior parte dos casos de iatrogenia evitáveis relacionou-se com o centro cirúrgico e unidades de tratamento intensivo (UTIs) e a menor foi registrada na obstetrícia, sem diferenças entre as diversas regiões do mundo. Pacientes crianças e idosos foram os mais afetados.

Os editorialistas da revista que publicou o artigo destacam que ele “suscita graves preocupações sobre a segurança dos sistemas de saúde”, mas lembram que as iatrogenias nem sempre são comunicadas, que não há consenso sobre se um erro pode ou não ser considerado evitável e que especialidades como psiquiatria e medicina de família, por serem praticadas fora do ambiente hospitalar também podem ter níveis de iatrogenia evitáveis que não são mensurados.

Mesmo destacando estes pontos, os editorialistas destacam a necessidade de aprimorar a capacidade de detectar a iatrogenia e de engajar os pacientes e o público na identificação das causas dos problemas.

Nos idosos, a iatrogenia é associada a vários agravos à saúde como: quedas, déficits cognitivos, depressão, desnutrição, infecções resistentes, imobilidade, déficits de audição e visão, tonturas e morte prematura.

Outro estudo realizado na França, com 503 pacientes com idade igual ou superior a 75 anos, em 2012, mostrou que uma expressiva parcela da incapacidade que acometeu estes idosos foi devida a eventos iatrogênicos e que, em sua maioria, poderiam ser evitados. O mesmo trabalho destaca a necessidade de os profissionais de saúde ser instruídos a respeito das necessidades específicas das pessoas idosas.

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

A iatrogenia medicamentosa é especialmente preocupante na população idosa, pois conforme envelhecemos, algumas alterações que normalmente ocorrem no nosso corpo fazem com que determinados medicamentos possam gerar mais efeitos danosos. Além do que, alguns idosos podem fazer uso concomitante de vários medicamentos simultaneamente, o que pode agravar o aparecimento de efeitos colaterais e interações entre os remédios nem sempre desejadas.

Na sociedade atual, onde os medicamentos são vistos como soluções fáceis para problemas do dia a dia, verdadeiras mercadorias, o uso de medicamentos por conta própria ou prescritos por médicos vem aumentando, o que piora a ocorrência de iatrogenias.

Referências

Panagioti et al. Prevalence, severity, and nature of preventable patient harm across medical care settings: systematic review and meta-analysis. https://www.bmj.com/content/366/bmj.l4185

Sourdet et al. Preventable Iatrogenic Disability in Elderly Patients During Hospitalization. Journal American Medicine,16(8):674-81,2015.

Manso et al. Iatrogenia medicamentosa em idosos: uma realidade, inúmeros aspectos. REVISTA PORTAL de Divulgação, n.58, Ano IX. Out/Nov/Dez. 2018. ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.com/revista-nova


Saiba mais em: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/cursos/

Maria Elisa Gonzalez Manso

Médica e bacharel em Direito, pós-graduada em Gestão de Negócios e Serviços de Saúde e em Docência em Saúde, Mestre em Gerontologia Social e Doutora em Ciências Sociais pela PUC SP. Orientadora docente da LEPE- Liga de Estudos do Processo de Envelhecimento e professora titular do Centro Universitários São Camilo. Pesquisadora do grupo CNPq-PUC SP Saúde, Cultura e Envelhecimento. Gestora de serviços de saúde, atua como consultora nas áreas de envelhecimento, promoção da saúde e prevenção de doenças, com várias publicações nestas áreas.

Compartilhe:

Avatar do Autor

Maria Elisa Gonzalez Manso

Médica e bacharel em Direito, pós-graduada em Gestão de Negócios e Serviços de Saúde e em Docência em Saúde, Mestre em Gerontologia Social e Doutora em Ciências Sociais pela PUC SP. Orientadora docente da LEPE- Liga de Estudos do Processo de Envelhecimento e professora titular do Centro Universitários São Camilo. Pesquisadora do grupo CNPq-PUC SP Saúde, Cultura e Envelhecimento. Gestora de serviços de saúde, atua como consultora nas áreas de envelhecimento, promoção da saúde e prevenção de doenças, com várias publicações nestas áreas.

Maria Elisa Gonzalez Manso escreveu 44 posts

Veja todos os posts de Maria Elisa Gonzalez Manso
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS