Memórias Lúdicas chega à quarta edição

Quem opta pelo curso se impacta com o conteúdo, a capacidade de transmitir conhecimento de Cremilda Medina e suas memórias vibrantes, sua paixão.


Em 2018, Etty Veríssimo e o professor Egídio Dórea convenceram a professora Cremilda Medina a retomar um antigo projeto – o Reproposta Para Todas as Idades – por meio da Universidade Aberta à Terceira Idade da USP. Projeto que durou de 1997, iniciado pelo professor Manoel Carlos Chaparro, da ECA-USP, até 2006, quando já era tocado pela professora Cremilda. Com a aposentadoria, ela resolveu se dedicar apenas a orientar doutorandos, mas não resistiu ao canto de sereia da dupla e voltou a formar uma turma que logo cruzou a barreira estudantes/professora e passaram a frequentar o apartamento da mestra, transformando as aulas em encontros gastronômicos recheado dos mais saborosos debates e memórias. 

Em 2019, dando sequência a essa proposta afetiva, trocamos a ECA-USP pela belíssima e histórica CEUMA (Centro Universitário Mária Antônia) e cada encontro era uma festa. No final, reunimos os textos em um belíssimo livro: Narrar é Longeviver – Caminhos da Memória. Em 2020 fomos surpreendidos pela pandemia da Convid-19 e todo o nosso entusiasmo sofreu um baque. E agora? A professora, defensora ferrenha do Ato Presencial, de atuar em suas aulas explorando os cinco sentidos, parecia resistente a uma proposta de mudança para uma sala virtual. Mas nos enganamos.

Como sempre foi de vanguarda, assim que o plano de migrar o curso para o Portal do Envelhecimento foi apresentado ela aceitou na hora. Quem ganhou com isso foi o Brasil, pois o que era um privilégio apenas ao alcance dos paulistanos, hoje pode ser acessado por interessados de todas as partes. Quem opta pelo curso, se impacta com o conteúdo, com sua capacidade de transmitir conhecimento, sua memória vibrante, sua paixão. É, sem sombra de dúvidas, uma das maiores professoras da USP de todos os tempos.

Quem ganhou com isso foi o Brasil, pois o que era um privilégio apenas ao alcance dos paulistanos, hoje pode ser acessado por interessados de todas as partes. Quem opta pelo curso, se impacta com o conteúdo, com sua capacidade de transmitir conhecimento, sua memória vibrante, sua paixão. É, sem sombra de dúvidas, uma das maiores professoras da USP de todos os tempos.

Aos 80 anos, esta professora sênior que tanto nos orgulha por fazer parte dos nossos quadros, segue influenciando a vida das pessoas como podemos ver nos depoimentos abaixo, colhidos entre os participantes do curso realizado no primeiro semestre de 2022:     

Das palavras afetadas, lúdicas, simbólicas – uma construção coletiva

Corajosa, comprometida com a humanidade, desassombrada, forte, imbatível, intutelável, libertária, multiviajada, poderosa, resistente, resiliente, superinformada, vencedora, verdadeira…
Quem será? A Mulher Maravilha?

Acolhedora, agregadora, armadora de confluências, compreensiva, cúmplice, curiosa, engajada, estimulante, facilitadora de redes de relação simbólica, incansável, inesgotável, observadora, protetora, solidária, sorridente, superafetiva, superfamília, supridora, terna…
Quem será? A Irmã Dulce?

Arquetípica, dialógica, iconoclasta: antiaspas, anti-itálico, antinegrito, antitravessões; anti-inércia, interrogante, instigante, lidertípica, lúdica, megaescritora, megajornalista, megaprofessora, megaorientadora, multifuncional, multilógica, multiprofissional, onisciente, onipresente, osmotípica, pluralógica, polifônica, polissêmica, politizada, presentificadora, provocadora, sinestésica, superafetada, supergenerosa, supermemorialista…
Quem será?  No entrenós, já não é mais segredo, mas e você, tem ideia de quem seja?

Em caso de dúvida, observe as falas a seguir:

A busca da emoção solidária está presente num narrar que traz alguma derrisão, um certo riso zombeteiro.

A escrita compartilhada tira o autor de seu estado de solidão.

A escrita e a conversa coletiva têm o efeito de uma solda.

Nossa essência é também coletiva, não totalmente individual.

A recepção da oratura e da escritura é sempre misteriosa.

O comportamento sujeito-sujeito é uma disponibilidade generosa, por meio da qual acontece o mistério das sintonias.

Há na narrativa uma pluralogia subjacente que nos afeta em profundidade e revolve o acúmulo de emoções solidárias.

Deve-se tentar estabelecer relações sujeito-sujeito. Ao fazer comentários sobre nossos protagonistas, estabelecemos uma relação sujeito-objeto, pela qual este deve ser convencido de…

O signo da relação é um processo que só ocorre em uma interação criadora pela qual os sujeitos se transformam.

A narrativa é mostração (mostra a ação); é fundamental mostrar (encenar), e não descrever (porque seria um simples relatório, provocaria distanciamento); a palavra tende a organizar os fatos, o pensamento, e nossa experiência de vida é maior que isso.

Lidamos não só com questões de técnica narrativa, mas de visão de mundo e de comportamento.

A realidade caótica transforma-se num código de narrativa.

A narrativa reorganiza o caos de nossas memórias.

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A regência narrativa pode ser ondulante ou rígida; surpreendente ou previsível.

Com base no passado e no presente podemos articular o futuro.

A presentificação é uma maneira de encarar o passado; ela traz vida e significado a uma experiência.

A seta do tempo, em sua atravessagem, assinala ciclos no/do tempo.

A atravessagem é um impulso sempre para frente.

A memória lúdica é emancipatória; caso permaneça enterrada, temos dificuldade para encarar o presente.

Deixe correr a intuição, deixe fluir o sexto sentido.

Em lugar do acontecimento podemos usar o desacontecimento.

O tempo é contraditório, não é a escadinha do progresso,

O sapiens é pobre quanto ao uso dos cinco sentidos: hipertrofiamos a visão e a escrita e subtrofiamos o paladar, o olfato e o tato.

Farra é alforria.

Dito de outro modo, a Professora Cremilda Medina convida a deixar-nos afetar a partir

– da aventura humana na realidade social; da dialogia social; da experiência; da humanização; do saber plural; da necessidade de se desenvolver maior sensibilidade e respeito pelo outro; da redução da arrogância; da liberação da intuição; da compreensão do mundo em sua complexidade.

– das palavras simbólicas guardadas na memória, que jorram carregadas de emoção pura – de vida; na maioria das vezes não percebemos o quanto estamos escrevendo dos entrenós, com os outronós que nós desconhecemos, e abrimos janelas e portas a partir do impulso afetado do olhar presentificado.  

– da importância de estar sempre afeto a…; do mergulho na delicadeza do cotidiano incerto e não sabido, experimentando a cumplicidade da relação sujeito-sujeito.

Pode-se dizer, ainda, que a Mestra traz, em suas oficinas de escrita, a magia da presentificação de nossas memórias em uma experiência singular de reviver o lúdico, não sem antes pedir permissão à trágica pandemia, deslizando da brasilidade do Cabeça de Cuia para o lusitano Capote Alentejano. E mais: ao nos apresentar seu tio Chico, abre a porta de nossos profundos afetos, nos libertando para biografar amorosa e alegremente.


Querida Cremilda,
As ideias registradas acima podem ser lidas como um mapa conceitual elaborado com base em suas falas durante nossos encontros. Nenhum dos registros foi inventado, tudo foi osmotipado a partir de suas oraturas. O resultado é embrião para um hipertexto. Foi a forma (afetada, lúdica, simbólica) que encontramos para dizer da nossa amizade e gratidão por nos deixar conhecer você mais profundamente, em alma, coração e mente.    

Finalizando

Depois desses depoimentos, o que ainda podemos acrescentar? Apenas informações técnicas. O próximo curso começa dia 14, ou seja, você tem poucos dias para fazer parte dessa história. Os participantes de cada curso são estimulados pela professora a escrever alguns textos que irão formar uma nova coletânea a ser editada pela Portal Edições, a editora do Portal do Envelhecimento. Contamos com você na próxima, abraços.

Foto destaque de Foto de Vlada Karpovich/Pexels


https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/oficina-de-narrativas/
Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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