Em 2015 o consagrado sambista Martinho da Vila começou a cursar RI (Relações Internacionais) na Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Logo, no próximo ano, 2018, aos 80 anos, estará com seu canudo em mãos, pois segue firme e forte na graduação. Um bom exemplo para idosos que sonham com esse ambiente fértil e gostoso que a maioria dos professores de salas de graduação imagina ser exclusivo para jovens.
Sim, a maioria dos professores se sente incomodada com pessoas idosas na sala de aula. Acabam por forçá-los a desistir. Alguns cursos mais, outros menos, mas minha experiência pessoal é relevante: professores, inseguros, acabam por perseguir os idosos que se aventuram a voltar a estudar. E cada vez são mais.
Você lembra da sua turma na faculdade? Havia idosos? Quantos seguiram até o fim?
Na minha, psicologia no Mackenzie (SP), todos os idosos ficaram pelo caminho. Nenhum se formou. A direção deveria no mínimo desconfiar do fenômeno, mas é conivente.
Todos, repito, abandonaram o curso pela mesma razão: sentiram-se pressionados e perseguidos pelos professores. Idadismo. Já falamos sobre isso. É mais comum do que se pensa, infelizmente.
E olhem que não falo de idoso à lá Martinho da Vila que, aos 76 anos, corajosamente pediu passagem na Estácio (faculdade, não escola de samba), para frequentar o curso de Relações Internacionais (RI). Falo de gente na faixa de 30 anos que, estabelecido, reuniu capacidade para pagar uma faculdade, enfrentou um vestibular e viu seu sonho ir pelo ralo porque o tal corpo docente, despreparado, desconfia de idosos na sala de aula, encarando-os como concorrentes.
São os estereótipos: professor, idoso; aluno, jovem.
O professor de faculdade não está preparado para orientar um aluno mais velho.
Martinho não é qualquer um. Formado pela Escola da Vida, tira de letra qualquer pressão… e quem vai querer pressionar um cara que é todo paz, sossego, devagar, devagarinho…
Quando o idoso se coloca na condição de aluno, a mensagem é clara, mais que qualquer jovem sua proposta é aprender e não rivalizar com o professor na sala de aula.
Martinho é claro no seu projeto: estou aqui em busca de conhecimento.
Na prática, é um catedrático, mas sente falta da teoria, da história, e humildemente senta na sua carteira, presta atenção, anota, lê, delicia-se com textos que justificam e enriquecem sua prática de embaixador (desde 2006) da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Faz parte da alma do sambista da Vila Isabel pesquisar, aprimorar-se, ir em frente, sempre. A idade não é uma barreira ao aprendizado. Martinho, enquanto tiver forças, removerá todas as crostas de comodismo para se renovar, pois o compromisso do verdadeiro artista é com o novo, o inédito, o surpreendente.
Devagar, devagarinho, mas sempre em frente.