O Manual de Qualidade do Cuidado é resultado do empenho de muitas pessoas, que têm um desejo comum: apoiar as pessoas que são cuidadas em ILPI, as pessoas que ali trabalham, a rede sociofamiliar dos residentes. Uma publicação da Frente Nacional de Fortalecimento à ILPI.
Ana Amélia Camarano (*)
A pandemia da Covid-19 tornou visível uma população que vivia “retirada” e/ou “abrigada” nas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) e trouxe à tona a necessidade de uma reflexão sobre as suas condições de funcionamento, suas práticas de atendimento e formas de financiamento, independentemente de sua condição jurídica. Dadas as características dessas instituições de confinamento coletivo dos seus residentes e das condições de trabalho dos seus funcionários, que incluem seus deslocamentos em transportes públicos lotados sem higienização e proteção contra a pandemia, a transmissibilidade do vírus nesses espaços poderia ocorrer de forma intensa e rápida. E com isto uma alta letalidade, principalmente entre os idosos.
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Com essa preocupação, um grupo de profissionais de saúde e pesquisadores, liderados pela dra Karla Giacomin, se organizou em grupos de trabalho para propor à Comissão Parlamentar do Idoso na Câmara Federal dos Deputados orientações emergenciais para as ILPI brasileiras. Assim nasceu a Frente Nacional de Fortalecimento à ILPI. Essas orientações são destinadas a gestores públicos, conselhos de defesa de direitos dos idosos, conselhos de políticas públicas, órgãos profissionais de classe, mantenedores, proprietários, profissionais, familiares e residentes das ILPI.
A Frente completa o seu primeiro aniversário e presenteia a sociedade e as instituições com um manual visando aprimorar a prática destas. O manual é composto de dois blocos; um que aborda a questão da gestão e outro dos cuidados. No primeiro bloco, destaca-se a importância da capacitação dos funcionários, a rede sociofamiliar, o ambiente, dentre outras questões. Já o bloco cuidado, chama a atenção para a importância do cuidado centrado na pessoa, na nutrição, na funcionalidade, na demência, na sexualidade, dentre outros. Sem dúvida, este manual é uma grande medida de sucesso da Frente e da necessidade de ações desta monta.
Consciente de que além dos impactos sanitários e econômicos nas ILPI, a tragédia da pandemia da Covid-19 também chama a atenção para a vulnerabilidade da população idosa, independentemente de sua residência. Esta constatação levou a que o último capítulo deste Manual discuta a necessidade de uma política nacional de cuidados continuados, política esta que o Estado brasileiro tem apresentado resistências em implantar.
Como sabido, a Frente é constituída por voluntários distribuídos pelo território nacional e internacional. É um espaço aberto à participação dos cidadãos brasileiros e parceiros desde que tenham interesse em colaborar para fortalecer as ILPI, cuja demanda tende a crescer dado o envelhecimento populacional e as mudanças na família.
Por fim, gostaria de acrescentar que este Manual nos oferece mais do que recomendações de boas práticas nas ILPI, um exemplo da importância da participação social para assegurar uma vida com dignidade para todos.
PARABÉNS à Frente e vida longa para ela.
Boa leitura e boas práticas.
(*) Ana Amélia Camarano – É doutora em Estudos Populacionais pela London School of Economics. Mestre em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais. É pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (DISOC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). É membro do Conselho Técnico do IBGE e membro honorário da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Escreveu o prefácio do Manual, que pode ser baixado gratuitamente do site da Frente Nacional de Fortalecimento à ILPI.
Capítulos do Manual
A Melhoria da Gestão em ILPI: uma demanda urgente;
Cuidado Centrado na Pessoa Idosa Capítulo;
Higiene Corporal e Conforto de Residentes nas ILPI;
Cuidados com a Saúde Bucal de Residentes em ILPI;
Qualidade da Nutrição e da Hidratação;
Funcionalidade;
Capacitação e Educação Permanente em ILPI;
Relações Sociofamiliares em ILPI;
Controle de Infecção em Instituição de Longa Permanência;
Prevenção e Terapêutica de Lesões de Pele;
Continência Urinária e Cuidado com Fraldas;
Abordagem e Prevenção de Quedas em ILPI;
Exercício Físico e Lazer;
Qualidade do Ambiente e estrutura Física;
Cuidados à Pessoa Idosa com Demência e Manejo;
As Alterações e a Higiene do Sono;
Polifarmácia e Reconciliação Terapêutica;
A Vivência da Sexualidade no Âmbito Institucional;
Finitude, Terminalidade e Luto em ILPI;
Enfrentando Preconceitos para Construir uma Política Nacional de Cuidados Continuados.