Ainda é comum nos depararmos com a resistência de familiares quando se fala das Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs). Para quem não sabe esses “locais” oferecem uma modalidade de serviço específica, assim como escolas, creches e hospitais.
Para a técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ana Amélia Camarano: “há serviços bons e ruins”, mas é preciso saber escolher.
Fernando Genaro Junior, doutor em psicologia clínica do envelhecimento pela USP e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie explica à imprensa nacional: “Nosso ‘mal-estar’, hoje, é que no mundo da produção e do consumismo não há espaço para o idoso”.
Segundo o professor: “Há, sim, políticas públicas, mas elas, muitas vezes, infantilizam o idoso, como se ele fosse uma criança velha, e isso também não melhora o quadro social. Por outro lado, a cultura que se propaga é a de negar o envelhecimento a qualquer custo.
Camarano argumenta que “crueldade é envelhecer em um país que não tem oferta de leitos suficiente para todos os idosos que necessitam”. A situação é séria e percebemos uma enorme lentidão e preconceito quando o assunto é envelhecimento. Muitos ignoram que o país “tem, hoje, pouco mais de 5.500 instituições, sendo apenas 238 delas públicas, e a maioria de origem filantrópica”.
Se pensarmos que as projeções apontam para um crescimento do número de brasileiros idosos de 23 milhões para 35 milhões, nos próximos 15 anos, chegamos a uma cenário, no mínimo, preocupante e irônico: por um lado, avançamos na medicina, “combatendo e prevenindo doenças ligadas ao envelhecimento” e, por outro, vivemos mais e mais. Mas como? Com que recursos? Com que qualidade? E os familiares, costumeiramente, se veem diante do dilema: manter seu idoso em casa ou institucionalizá-lo? Se a ILPI for a opção, a questão é, como escolher?
O geriatra Márcio Borges alerta que a doença de Alzheimer é a grande vilã da terceira idade, porque exige cuidados em tempo integral. “Como é muito fácil chegar hoje à casa dos 80 anos, o número de idosos que sofrem desse mal aumenta muito. É sabido que 30% dos brasileiros nessa idade vão desenvolver a doença”, calcula o geriatra.
Para Thiago Gomes da Trindade, médico vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, idosos sozinhos, sem parentes próximos, acabam institucionalizados quando perdem sua independência, por doença física ou mental.
ILPI versus $$$
O site da “UOL Mulher” traz alguns valores:
– Casas de repouso podem custar entre R$ 3 mil e R$ 8 mil por mês, de acordo com o nível do atendimento médico e psicológico, se o quarto é individual ou compartilhado ou se há necessidade de tratamento intensivo (UTI). Em outros casos, asilos mais caros oferecerão serviços de convivência e lazer.
– Para quem opta por deixar seus idosos em casa, os custos, só com cuidadores contratados para as 24 horas do dia, giram em torno de R$ 3 mil (mínimo), sem contar os custos trabalhistas, adicionais noturnos e outros benefícios, remédios e instalações residenciais específicas que o idoso venha a precisar (macas, respiradores, rampas de acessibilidade para cadeiras de roda).
Se a família que é considerada a grande provedora de seus velhos não pode falir, perguntamos, a quem recorrer? “Subsidiariamente, a responsabilidade é do Estado (no Brasil, o Ministério Público), que fiscaliza instituições e cuida do idoso maltratado ou abandonado, inserindo-o no sistema institucional”, aponta o “UOL Mulher”. Mas será exatamente isso que acontece?
Então o problema permanece e provoca a reflexão: “Enquanto a população envelhece, a questão dos idosos se torna uma bomba relógio prestes a explodir, o que exige solução rápida. A grande preocupação é o que será de todos os jovens de hoje, quando se tornarem, todos ao mesmo tempo, os muitos velhos de amanhã”. Sim, porque, com sorte, envelheceremos todos.
A orientação é: pesquisar
Sendo impossível acolher o idoso em casa, a orientação é: pesquisar os serviços ofertados. Genaro Junior diz: “Deve ser um local de interlocução, comunitário, com cuidados técnicos especializados –cuidadores, enfermeiros, médicos, psicólogos, segurança–, na medida necessária a cada um”.
Ao entrar em contato com uma casa de repouso, fique atento aos pontos:
– Verifique a existência de um profissional da saúde que o convide para uma conversa.
– O entrevistador deve perguntar pelas expectativas e preocupações da família quanto à estadia e ficar curioso sobre as condições físicas e emocionais do candidato à vaga.
– Vale entrar em contato com famílias que já conhecem a instituição e com o próprio Ministério Público estadual, para checar se há denúncias, investigações em andamento ou processos judiciais contra a casa de repouso (por negligência ou violência contra o idoso).
Se nem tudo são flores…
Algumas vezes, encontramos casos, experiências de pessoas que viveram não “apenas bem” em uma ILPI (ou asilo), mas conseguiram “absorver” o amor, vivendo e desfrutando dos afetos, do amor carinhoso e que, claro, ainda faz tremer o coração. Quer mais? Então conheça a história dos idosos que se conheceram e se apaixonaram no asilo São Vicente de Paulo, na cidade de Criciúma e, adivinhem: se casaram.
“Dona Maria sempre sonhou em se casar na igreja, de vestido branco e um buquê de rosas vermelhas nas mãos. Ela nunca foi casada e tinha a esperança de, um dia, encontrar o príncipe encantado. Já o Sr. Afonso é viúvo e disse o sim pela terceira vez. Agora Dona Maria e Sr. Afonso deixam o abrigo para morar juntos.”
Como diria o poeta Vinicius de Moraes: “Que seja eterno, enquanto dure.”
Referências
GEROLLA, J. (2013). Asilo não é sinônimo de crueldade, mas idoso fica melhor em casa. Disponível Aqui. Acesso em 30/10/2013.
GLOBO.TV (2013). Idosos se apaixonam em asilo e se casam em Criciúma. Disponível Aqui. Acesso em 25/08/2013.