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ILPI’s Expo+Fórum: espaço dialógico para (e com) as instituições de longa permanência

O debate sobre novos paradigmas de cuidado e novas abordagens da velhice e envelhecimento no interior das ILPI’s se reiterou urgente no ILPI’s Expo+Fórum.

por Camila Rocha Ferreira e Germanne Patricia Nogueira Bezerra Rodrigues Matos (*)


A exposição “Memórias de Permanência” recepcionou todos os presentes da primeira edição do evento ILPI’s Expo+Fórum, que aconteceu em São Paulo, nos dias 17 e 18 de Agosto/23. A exposição registra o cotidiano dos residentes em ILPI’s cearenses, com destaque para os festejos, as atividades artísticas e terapias ocupacionais vivenciadas pelo público atendido, em uma abordagem que visa evidenciar as instituições como espaços de vida. Trata-se de uma iniciativa do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), com curadoria de Eliane Lobo, em parceria com a Associação Cearense Pró-idosos (Acepi), que teve como representantes presentes também no evento o promotor público Dr. Alexandre Alcântara e a assistente social Vejuse Alencar.

Esse fato marcou a que veio o ILPI’s Expo+Fórum, promovido pela Trevoo. É o primeiro evento brasileiro com foco exclusivo na discussão e reflexão sobre instituições de longa permanência para idosos, como lugar de vida. Frente a uma demanda crescente por moradias coletivas que possam efetivamente dar conta das demandas específicas das pessoas idosas na sociedade contemporânea, o debate sobre um novo paradigma de cuidado e sobre novas abordagens da velhice e do envelhecimento no interior dessas instituições se reiterou urgente. A heterogeneidade do envelhecer restou replicada na multiplicidade de realidades das ILPI’s pelo Brasil afora.

Estavam reunidos especialistas da área da saúde, assistência social e comunicação, assim como estudantes e professores universitários, profissionais liberais e servidores públicos de diversos estados brasileiros. Foi possível notar a expressiva participação das equipes multiprofissionais e de gestores de ILPI’s, tanto compondo a audiência quanto integrando as mesas da programação científica.

Se o Fórum nasceu com a proposta de abrir caminhos para as trocas de experiências, a disseminação de saberes e a construção de redes, ficou evidente que este objetivo foi alcançado.  Foram 2 dias de muitas informações, atividades práticas, palestras e encontros acadêmico-profissionais. A interação estabelecida durante a visita aos expositores também possibilitou o intercâmbio sociocultural e profissional, tendo como fio condutor as vivências, práticas e acadêmicas, relacionadas ao cenário das ILPI’s.

Todas as temáticas abordadas tratavam da busca por melhores práticas voltadas aos cuidados de pessoas idosas institucionalizadas. Os diálogos convidaram os participantes a ampliar o olhar acerca de melhores formas de habitação no processo de envelhecimento, validando o paradigma da ILPI como espaço de moradia, e, também, problematizando de que maneira as instituições podem se adequar às novas demandas das velhices dissidentes, com ênfase nos debates sobre a diversidade sexual e gênero.

Consideramos que espaços abrangentes de discussão intersetorial, pautados em uma pedagogia dialógica e contando com a participação efetiva de profissionais de múltiplas áreas – como esta iniciativa da ILPI’s Expo+Fórum –, são potencialmente transformadores e favorecem a composição de respostas criativas para questões recorrentes no cotidiano das ILPI’s. Na contemporaneidade brasileira, essa temática tem se tornado cada vez mais urgente e tem sido pauta para os experts da área do envelhecimento, que já vêm se debruçando para encontrar melhores caminhos para aprimorar os atendimentos e a oferta de cuidados de longa duração, visando a implementação de práticas mais eficazes e eficientes.

A presença de expositores que trouxeram novas tecnologias, tanto no âmbito da gestão administrativa quanto na organização de tarefas diárias, foi marcante. Várias empresas e startups apresentaram propostas inovadoras, com um só objetivo: a manutenção da qualidade de vida da população idosa, especialmente no que tange à perda de funcionalidade e de autonomia no ambiente institucional.

A escassa presença do poder público

A presença do MPCE como parceiro e apoiador do evento aponta uma lacuna observada no país: a escassa participação do poder público municipal e estadual. A única representante do Estado de São Paulo notadamente presente foi a promotora pública Dra. Juliana Andrade, do Ministério Público (MPSP), que compôs uma das mesas da programação científica do evento.

Ponderamos que essa é uma questão que precisa ser revista para as próximas edições, sobretudo para garantir o acesso de profissionais das ILPI’s públicas a esses ambientes de discussão e de proliferação de novas ideias. Além disso, problematizamos que tipo de contrapartidas poderiam ser oferecidas pelas empresas privadas que apresentaram produtos e tecnologias aparentemente tão essenciais para a melhoria do cuidado às pessoas idosas institucionalizadas, mas a custos que imprimem um recorte de acesso claro. Fica-nos a pergunta: como também incluir as classes que estão em uma situação de maior vulnerabilidade?

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Contou-se com uma fala do Secretário Nacional de Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva, que destacou a importância de consolidar as articulações entre municípios, estados e União; assim como, fortalecer a participação e o controle social, ressaltando o papel do reconstituído Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa.

Por fim, não poderíamos deixar de enfatizar a presença maciça da universidade compondo a programação da ILPI’s Expo+Fórum. Essa característica vem como um diferencial importante, especialmente por não se tratar de um evento científico. Pelo contrário, a proposta principal foi ampliar os diálogos sobre a prática e o cotidiano das ILPI’s. Nesse sentido, a participação de cientistas e pesquisadores da gerontologia e de outros campos do conhecimento realizou algo que deveria ser um intento precípuo da comunidade acadêmica: o estabelecimento de pontes entre teoria e prática, gestando um ambiente propício de ruptura com velhos paradigmas e composição de novos olhares acerca das velhices e dos envelheceres que acontecem nas instituições de longa permanência para idosos brasileiras.

(*)Camila Rocha Ferreira – Assistente Social, Pós-graduada em Gestão e Organização de Políticas Sociais, Psicologia e Saúde Pública e Gestão de Redes de Atenção à Saúde com residência em Serviço Social Hospitalar. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. E-mail: camilarochaoliveira@usp.br
Germanne Patricia Nogueira Bezerra Rodrigues Matos – Assistente Social. Pós-graduada em Tanatologia. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo, no Serviço Psicossocial Vocacional, onde coordena a Comissão de Pesquisa. E-mail: germannematos@usp.br

Fotos: divulgação

Atualizado no dia 25/08 às 9h13


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