Velhos e novos golpes são cometidos todos os dias e os principais alvos, de norte a sul, continuam sendo as pessoas idosas. Foi o que aconteceu com Dona Cida, uma senhora de 76 anos, aposentada e super ativa, que caiu no antigo golpe do bilhete premiado às vésperas do ano novo. Dona Cida passou a entrada do ano em prantos. Culpava-se por ter sido tão burra. Mas não foi burrice. O golpe é isso. Ele se vale de um descuido, das fragilidades. Se os gerentes de banco tivessem só um pouquinho de atenção poderiam evitar muitos golpes.
Dona Cida tem 76 anos. Trabalhou por mais de 40 anos. É aposentada e tem casa própria. Mora sozinha. É uma mulher cheia de vida, lúcida e tem experiência suficiente para se prevenir de golpes. Pensava assim até ser vítima do mais comum dos golpes.
Há alguns meses recebeu uma ligação.
– Tia, sou eu.
– Marcelo?
O golpista conta com um descuido bobo para atingir seu objetivo. Dona Cida forneceu o nome de um dos sobrinhos e o malandro deitou e rolou.
– Sou eu tia, estou no aeroporto, preciso muito de sua ajuda, é urgente. Ai, Marcelo, fala logo o que aconteceu.
– Bati o carro, mas está tudo bem, não se preocupe. Fiz um acordo com o rapaz. Só preciso transferir oito mil para a conta dele. A senhora pode me ajudar?
– Claro. Você pegou os dados do rapaz?
– Anota aí, tia. Nome, banco, agência, conta e CPF.
– Anotei, Marcelo, confere. Agora fala para o rapaz ficar tranquilo que já vou depositar.
– Te amo, tia.
Dona Cida desligou e ligou para o sobrinho em seguida. Marcelo, tudo bem? Tudo, tia. Você não sabe o que aconteceu… Dona Cida não caiu no golpe porque os sobrinhos – dona Cida não tem filhos -, sempre a alertaram sobre o perigo dos golpistas.
– Nunca vão me pegar! – vangloriava-se.
Mas a pegaram com o golpe mais antigo da história, o bilhete premiado.
Foi no final do ano. Dona Cida deu uma passadinha no banco para retirar um dinheirinho. Não gosta de sacar nos caixas eletrônicos. Gosta de conversar com o gerente, falar com as mocinhas e com o pessoal da segurança. Aproveitou para desejar Feliz Natal e Boas Festas.
Caminhava feliz e distraída quando uma senhora a abordou. Uma pessoa simples. Usava sombrinha para se proteger do sol. Sacou um papel com um endereço, mas não sabia ler direito. Estava escrito Casa Lotérica e havia o nome de uma rua. Dona Cida não conhecia.
A mulher se dizia muito nervosa. Vinha de longe. Estava sem comer desde cedo. E com medo. Passava até mal de tanto medo. Medo de quê? A senhora contou de um jeito desconfiado. Tremia e suava. Mostrava a mão trêmula. Era uma história confusa. O sobrinho sempre participa de um bolão. Viajou e deixou o bilhete com ela. O homem da lotérica ligou cedo para dizer que o bilhete foi premiado.
Dona Cida adora ajudar as pessoas. Queria chamar um táxi, pagar pela viagem, se fosse o caso até ir junto. Motorista de táxi conhece todos os endereços. Não. A senhora não confiava em motorista de táxi. Agora era as pernas que tremiam.
Dona Cida desconfiou. Havia uma agência da Caixa logo ali, vamos lá. Já fui. O gerente informou que o dono da Casa Lotérica sacou o dinheiro. Tinha que pegar com ele. Na casa lotérica.
Deve ser prêmio pequeno, dona Cida pensou. Nesse momento um anjo caiu do céu. Uma doce mocinha se aproximou das duas e ofereceu ajuda. Dona Cida tomou a iniciativa.
Mostrou o endereço e a mocinha viu no google maps. Era razoavelmente perto, mas não dava para ir a pé.
Para sorte das duas, a mocinha estava de carro e podia levá-las. Dona Cida confiava, mas a dona do bilhete premiado estava insegura. A não ser que dona Cida fosse junto.
A essa altura dona Cida estava envolvida até o pescoço. Dava atenção e confiava nas duas. A mulher começou a passar mal. Precisava tomar água com açúcar. Comer alguma coisa. A coitada saiu de casa cedo e estava com o estômago vazio. Uma lanchonete ali pertinho resolveu o problema. Papo daqui, papo dali, o segredo foi revelado. A mocinha conferiu os números e confirmou, o bilhete era mesmo premiado. Oito cotas. Mostrou para dona Cida e fez as contas. A cada cota caberia quatro milhões. Imagina que o sobrinho prometeu 10% do prêmio para a tia. 400 mil. A mulher começou a passar mal com a possibilidade de meter a mão em tanto dinheiro. Propôs dividir sua parte com as amigas. Ficaria com 200 mil. Caberia a dona Cida e a mocinha 100 mil cada. Foi a vez de dona Cida passar mal. De jeito nenhum. Não quero seu dinheiro. O que é meu é meu, o que é seu é seu. Vocês estão me ajudando, vocês merecem. É só um agrado. 200 mil já é muito. 100 mil não é nada…
– Vão buscar o dinheiro pra mim. Eu não tenho condições de sair daqui. Minhas pernas tremem.
– Vamos, dona Cida! A senhora leva o bilhete…
A mulher ia passar o bilhete, mas ficou desconfiada. Pediu uma garantia. A mocinha tirou um cordão de ouro e entregou na mão dela. Dona Cida quase fez o mesmo com um anel que era de sua avó, mas a mocinha não deixou. A mulher queria algo mais substancioso para poder confiar. Dona Cida tomou uma atitude. Foi com a mocinha até sua casa e pegou tudo o que encontrou, joias, dólares e euros, umas sobras, pois de vez em quando viaja para fora.
A senhora, na sua simplicidade, não sabia avaliar aquilo. A mocinha perdeu a paciência e disse logo para dona Cida o que deixaria a mulher tranquila, dinheiro. Dona Cida tinha 400,00 na carteira, mas não era nada perto dos 100 mil que a mulher lhe daria. Foi ao banco e sacou tudo o que havia na poupança, 11 mil.
– Vou voltar com mais – disse para o gerente.
Deixaram o dinheiro com a senhora que passou o bilhete e perguntou se iam demorar. Seu medo agora era outro, ficar com aquele dinheiro ali sozinha.
– Se a senhora está melhor, vamos juntas!
Entraram todas no carro. Dona Cida se deu conta que não fazia sentido seu dinheiro estar com a senhora no banco de trás. Pensou em educadamente pegá-lo de volta, mas quando olhou para trás viu que a simples senhora manipulava uma arma. A mocinha parou o carro diante do prédio de dona Cida e só disse uma frase: sabemos onde a senhora mora.
Dona Cida passou as festas em pranto. Culpava-se por ter sido tão burra. Mas não foi burrice. O golpe é isso. Ele se vale de um descuido. Se os gerentes de banco tivessem só um pouquinho de atenção e fossem capacitados em relação ao envelhecimento poderiam evitar muitos golpes. Quando um idoso se apresenta para sacar uma quantia que foge do seu perfil habitual, pode estar sendo vítima de um golpe.
É só dificultar um pouco. Conversar. Dizer que caiu o sistema e vai demorar. Convidar para tomar um café. Dar uma chance para o idoso refletir ou se abrir. A ladra normalmente fica do lado de fora para não ser filmada.
Infelizmente os gerentes estão mais preocupados em “aplicar seus golpes”, em fazer o idoso comprar títulos de capitalização, seguros e coisas do tipo…
BRASIL URGENTE
Datena, apresentador do Brasil Urgente, recebeu no seu celular a informação que foi premiado com um carro zero e mais 60 mil em dinheiro. Para receber o prêmio, o golpista oferecia dois telefones para o interessado ligar e confirmar.
Quem liga de volta vai no mínimo receber uma proposta indecorosa, tipo deposite x na conta tal para seu prêmio ser liberado.
Datena ligou ao vivo para chamar o golpista de mané e dizer que estava de olho nele. (veja o vídeo)
Acontece que na maioria das vezes o bandido está preso e, de dentro de sua cela, passa o dia inteiro trabalhando duro, aplicando golpes, faturando em cima dos incautos.
O idoso é o alvo preferencial dos golpistas, não custa alertá-los.
Principais golpes
O Bilhete Premiado, como o que aconteceu com Dona Cida, é antigo. Os golpistas atuam em dupla, mas normalmente são monitorados por outros membros da quadrilha que podem estar armados. Quando utilizam carro, colocam-se diante da placa para evitar que a vítima em algum momento a vejam. Quem cai no golpe fica em estado de choque, chora de vergonha de si mesma, sente a autoestima baixa e quanto maior o prejuízo, maior a dificuldade de superar o trauma.
Outro golpe aplicado por duplas é parecido com o do Bilhete Premiado, é o chamado Duplicata. Consiste em convencer a pessoa idosa a ajudá-los a cobrar um falso devedor.
O golpe da Previdência é muito comum, ocorre por telefone, pessoalmente em lugares próximos a agências do INSS, por correspondência e até por e-mail. Informam que existe valores bloqueados ou atrasados. Para receber/desbloquear tem todo um trâmite e a vítima acaba depositando algum dinheiro em uma determinada conta. O golpista se vale de termos jurídicos e um bom conhecimento do assunto para convencer a vitima.
O Falso sequestro e falso acidente, como relatado no início desta matéria, são bem comuns. O sequestro se vale de tortura psicológica, pressão, é pagar para um parente não sofrer nas mãos do bandido. O golpe do acidente apela para o lado emocional, é um pedido de ajuda que normalmente vem da parte de um sobrinho, por isso ficou conhecido como BENÇA TIA.
A Recarga Premiada em nome das operadoras de celular, Vivo, Tim, Claro etc, já pegou muita gente. O criminoso diz que a vítima foi sorteada com um prêmio em dinheiro e muitas vezes além do prêmio, um carro zero. O objetivo é levar a vítima até um caixa eletrônico para autorizar a transferência automática do prêmio para sua conta. Na hora, a vítima se atrapalha e acaba fazendo o inverso, mandando dinheiro para a conta do golpista.
O falso conserto do sinal de TV/Internet e falsa dedetização são outros golpes bastante aplicados nos idosos, que acabam deixando os criminosos entrar em suas residências.
No entanto, o maior golpe aplicado contra idosos visa sua aposentadoria: é o do empréstimo consignado. Em 100 fraudes contra idosos, 80 são desse tipo. Pelas facilidades que tem de fazer o empréstimo, o idoso se tornou presa fácil sob o patrocínio do Estado.
Para diminuir o número de fraudes, uma solução já apresentada em alguns estados, como no Ceará, seria a exigência da presença física do idoso, e não aceitar uma procuração assinada pelo mesmo. Outra solução seria o gerente checar, ligar para o idoso.
Muitos gerentes atuam para evitar fraudes, mas é clara a falta de capacitação da categoria para lidar com tais problemas.
No Youtube existem vários vídeos denunciando golpes de todo tipo. Do mais simples ao mais sofisticado.
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