O Guia de Tai Chi deveria ser o livro de cabeceira de gestores de políticas públicas de saúde, de acadêmicos e do público que cada vez mais busca por sistemas não biomédicos de cuidados de saúde devido aos efeitos adversos, à ultraespecialização e aos questionamentos sobre o paradigma mecanicista e cartesiano, a despeito das aplicações cada vez mais espetaculares da ciência básica na medicina ocidental.
Prof. David Hruodbeorth (*)
Finalmente chega às livrarias a versão em português do Guia de Tai Chi da Escola Médica de Harvard, de Peter Wayne e Mark Fuerst, pela Ed. Pensamento.
Os consumidores, que têm direito a informações confiáveis para tomar suas decisões entre as várias opções de cuidados de saúde, agora dispõem de uma preciosa ferramenta.
Para a UNESCO, a medicina tradicional e a medicina moderna poderão coexistir se pontes forem construídas entre elas; este é exatamente o trabalho que nos apresenta em uma linguagem compreensível o Dr. Wayne, pesquisador da HMS, um profundo conhecedor de Tai Chi, solidamente alicerçado em modernas pesquisas (existem mais de 700 publicações científicas revisadas por pares e mais de 180 testes randomizados). Ele nos assegura que o Tai Chi tem o potencial de causar impacto nos cuidados de saúde ocidentais e ajudar a manter as sociedades física e psicologicamente saudáveis.
Harvard, uma das melhores escolas médicas do mundo, considera o Tai Chi como uma “medicação em movimento” que pode ser a “atividade perfeita para o resto da vida”, “prevenir ou aliviar muitos males do envelhecimento” e ajudar a manter a força, a flexibilidade e o equilíbrio.
O Tai Chi está entre as mais elevadas técnicas da multimilenar Medicina Tradicional Chinesa. De acordo com a OMS, a China, que foi pioneira em intervenções como dieta, exercícios, uso de remédios à base de plantas e consciência das influências ambientais sobre a saúde, a mais de cinco mil anos já tinha bem estabelecido que seria “melhor prevenir que curar”. E prevenção é, hoje, a pedra angular em termos de saúde.
O Tai Chi é um método seguro, eficaz, de alta qualidade, simples, barato, e de fácil aprendizado e execução; no Tai Chi não há competição, superação de limites ou quebra de barreiras; segundo seus princípios, deve haver equilíbrio entre o movimento e a serenidade, entre o corpo físico e a energia, e isto é feito através de movimentos lentos e circulares, sem uso de força e sem forçar o ritmo cardíaco e respiratório, e o treinamento da serenidade do coração, de forma que haja uma perfeita circulação de sangue e energia pelo organismo, beneficiando corpo e mente.
Um dos destaques do Guia está no uso da técnica para as DNTs, doenças não transmissíveis, um “desastre iminente” que medicamentos, dispositivos e tecnologias, cada vez mais sofisticados e caros, não conseguirão evitar, segundo a OMS.
Este deveria ser o livro de cabeceira de gestores de políticas públicas de saúde, de acadêmicos e do público que cada vez mais busca por sistemas não biomédicos de cuidados de saúde devido aos efeitos adversos, à ultraespecialização e aos questionamentos sobre o paradigma mecanicista e cartesiano, a despeito das aplicações cada vez mais espetaculares da ciência básica na medicina ocidental.
Esperamos que esta valiosa contribuição, não obstante as quase intransponíveis muralhas culturais, linguísticas e epistemológicas, auxilie a integração entre a moderna ciência biomédica e o saber multimilenar da tradição no Brasil. Medicina Integrativa, bem entendido, não signifia apropriação de uma pela outra, da tradicional pela moderna.
Se é o Tai Chi o “embaixador cultural da China”, o Dr. Wayne ocupa um alto posto no corpo diplomático.
Serviço
Título original: The Harvard Medical School Guide to Tai Chi
Autores: Peter M. Wayne e Mark L. Fuerst.
Tradutora: Mirtes Frange de Oliveira Pinheiros
Editora: Pensamento
Edição: 1ª
Ano de Lançamento: 2016
(*) Prof. David Hruodbeorth – Doutor em Acupuntura pela World Federation of Acupuncture-Moxibustion Societies (WFAS). Artigo escrito para o Jornal Maturidades da PUC-SP. E-mail: [email protected]