Temas tão diversos, mas com o mesmo objeto de estudo, o envelhecimento, constituiu o evento intitulado “Gerontologia – Desafios Teóricos e Práticos”, coordenado pela antropóloga Maria Helena V. Boas Concone, e promovido pelo grupo de pesquisa Saúde, Cultura e Envelhecimento e pelo Pós em Gerontologia da PUC-SP, realizado no final de outubro. A abertura foi realizada pela médica e mestre em Gerontologia pela PUC-SP, Maria Elisa G. Manso, que falou sobre interdisciplinaridade e envelhecimento, baseada em autores como Japiassu, Fazenda, Demo, Jantsch, Veiga Neto e Morin.
Gislaine Gil *
Segundo Manso, Japiassu entende que uma equipe para ser interdisciplinar não basta conversar entre si, pressupõe-se modificações, as quais, para Fazenda, devem ser na construção de um novo saber, cujos integrantes têm que ter disposição pessoal para dialogar, compartilhar experiências e visões de mundo. A interdisciplinaridade deveria ser exercida desde a graduação. Deveria ser a marca registrada nas teses, como assinala Demo e as pesquisas da equipe deveriam se aproximar da realidade objetiva, como lembra Veiga Neto.
Será que nessa maior aproximação com a realidade objetiva cabe a interação com a música? Pergunta Virginia Coronago, a segunda palestrante, à plateia. A resposta é sim. Coronago é coordenadora do grupo Viva Ativa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e relata que a música permeia toda a história de vida da pessoa idosa e que a cantoterapia faz “aflorar” essa vivência que já é intrínseca ao sujeito. Segundo Sr. Francisco, um dos participantes do grupo de canto, “o trabalho realizado no grupo preenche seu vazio interno”.
O “espírito existencial” é preenchido com a música, mas a ferramenta que preenche o corpo ativo é a atividade física, assinala Anderson Pedroso, educador físico, e terceiro palestrante. Pedroso convence idosos da população rural e urbana de Pimenta Bueno, em Roraima, a praticar exercício físico de todos os tipos, aeróbicos e anaeróbicos. A razão da prática de exercícios inclui: o reforço da musculatura e do sistema cardiovascular. Para muitos especialistas, exercícios físicos realizados de forma regular ou frequente estimulam o sistema imunológico, ajudam a prevenir doenças (como cardiopatia, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2), moderam o colesterol, e ajudam a prevenir a obesidade.
Ana Maria Tabet, quarta palestrante, também trabalha com o corpo, mas com o corpo dos portadores da doença de Alzheimer. Através do toque a fisioterapeuta acredita melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. De acordo com ela, associar treino fisioterápico a treino cognitivo e afetivo restabelece a integração dos demenciados ao convívio social.
Tanto Manso, Coronago, Pedroso e Tabet, profissionais de diferentes especialidades, têm como objetivo construir uma outra perspectiva sobre “as velhices”, tema tratado por Bernadete Oliveira, última palestrante do evento, que diante da heterogeneidade de nosso longeviver tenta responder “quem cuidará de nós em 2030”. Os palestrantes deixaram claro que os desafios são muitos, e para os enfrentarmos devemos começar a refletir sobre “quem seremos nós em 2030?”.
Referências
JAPIASSÚ, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976.
Fazenda VCA. Didática e Interdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998.
DEMO, P. Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1998.
JANTSCH, AP e BIANCHETTI L. Interdisciplinaridade – para além da filosofia do sujeito. In: Jantsch, AP, Bianchetti l. (orgs.) Interdisciplinaridade – para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: vozes, 1997a.
VEIGA, NAJ. A ordem das disciplinas. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 1996.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2005.
* Gislaine Gil é neuropsicóloga do Check-up da Maturidade do Fleury, Coordenadora do Programa de Estímulo à Atenção e a Memória do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]