O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento. A população idosa (60 anos e +) era de 2,6 milhões de pessoas em 1950 (5% da população total), passou para 19,8 milhões em 2010 (10% do total) e deve chegar a 67 milhões em 2050 (quase 30% do número total de habitantes do país).
José Eustáquio Diniz Alves *
Ou seja, o Brasil gastou 60 anos para ver o percentual de idosos dobrar de 5% para 10%, mas terá que enfrentar o desafio de ver o percentual triplicar (de 10% para 30%) em apenas 40 anos.
Até agora, o envelhecimento da estrutura etária brasileira foi benéfica para a economia e a redução da pobreza, pois o crescimento da população idosa foi relativamente pequeno, a redução da população dependente de crianças e jovens foi grande, enquanto o aumento das pessoas em idade produtiva possibilitou que a população economicamente ativa (PEA) aumentasse em relação à população total.
Houve um aumento dos “produtores líquidos” sobre os “consumidores líquidos”. Este fenômeno é conhecido como o primeiro bônus demográfico, momento em que a demografia ajuda a economia, contribuindo para o aumento da qualidade de vida humana.
Mas dentro de pouco tempo a janela de oportunidade começará a se fechar, com o percentual da PEA diminuindo em relação à população total. Nesta situação, cresce a preocupação com o envelhecimento, com a diminuição absoluta e relativa do número de trabalhadores, com o agravamento do desequilíbrio do sistema previdenciário, com o déficit fiscal do Estado e o endividamento das famílias, com o alto custo das doenças crônicas para o sistema de saúde e assistência social, etc.
É como se o país estivesse passando de uma situação de bônus para ônus demográfico. Porém, existem alternativas otimistas (ou menos pessimistas) para este novo cenário. Em artigo para a revista Exame (03/07/2014), o demógrafo David Bloom, da Universidade de Harvard, considera que o aumento da longevidade e da esperança de vida ao nascer é uma das maiores conquistas da história da humanidade e que o envelhecimento da população não se traduz automaticamente numa catástrofe econômica e social. Ele diz:
“Há estratégias que podem ser adotadas para minimizar possíveis problemas causados pelo envelhecimento, como mudanças nas regras de aposentadoria, políticas trabalhistas favoráveis a mulheres e programas de treinamento para trabalhadores mais velhos. Com toda a certeza, o veredito sobre esse tsunami grisalho ainda não foi dado”.
De fato, o envelhecimento, ao invés de ser visto de maneira negativa, como um desafio insolúvel, pode ser visto como uma oportunidade. O envelhecimento saudável e produtivo pode ser uma fonte de ganhos através do segundo bônus demográfico. Os idosos não devem ser vistos como custo para a sociedade, mas como capital humano capaz de melhorar a qualidade de vida geral.
A sociedade pode ganhar com o processo de envelhecimento e o fenômeno do segundo bônus demográfico, como diz Bloom:
“Tudo depende da preparação e do poder de adaptação, tanto do ponto de vista individual como coletivo. Antecipar uma vida mais longa significa que as pessoas provavelmente pouparão mais para os anos em que não estarão trabalhando. Indica também a revisão de políticas de aposentadoria para desestimular a saída precoce do mercado de trabalho”.
Se o idoso acreditar no seu potencial e a sociedade criar mecanismos de inclusão produtiva da população grisalha, o problema da redução da força de trabalho seria resolvido e o equilíbrio atuarial da previdência poderia ser solucionado.
O primeiro bônus demográfico é um fenômeno temporário que tem data limite de vencimento. Ele dura enquanto o percentual da PEA cresce em relação à população total e finda quando a população em idade ativa diminui. Mas o segundo bônus demográfico começa quando o processo de envelhecimento populacional atinge altas proporções, porém não tem prazo para terminar. Quanto maior for o envelhecimento maior poderá ser o segundo bônus demográfico.
As pessoas com mais de 30 anos eram vistas com desconfiança no passado. Havia a expressão “Não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Hoje em dia, o bem-estar da população como um todo depende cada vez mais da experiência e da disposição das pessoas com mais de 60 anos.
Referência
David Bloom. Dá para para tirar vantagem do envelhecimento da população. Exame, SP, 03/07/2014. Acesse Aqui
* José Eustáquio Diniz Alves – Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;
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