Empréstimo consignado e superendividamento

Empréstimo consignado e superendividamento

O empréstimo consignado é aquele descontado em folha e muito oferecido a aposentados e pensionistas, e que acaba levando as pessoas ao alto endividamento.


Recentemente o Espaço Longeviver ofereceu um workshop para tratar do superendividamento do idoso, suas possíveis causas e as consequências que podem gerar ou ampliar crises de interação no âmbito familiar. As professoras, Tirza Coelho de Souza e Emmanuela Carvalho Cipriano Chaves me cederam espaço para contar algo que estava entalado na minha garganta e que pode ser o início do endividamento de muitos idosos. Isso porque os idosos aposentados têm uma renda garantida advinda do INSS, bastante atrativo para os bancos os assediarem com a concessão de empréstimos, levando-os a contrair dívida sobre dívida.       

No ano passado, bem na segunda onda da pandemia, minha família teve que lidar com cerca de 20 ligações diárias em cada celular, mais o fixo. Você deve estar se perguntando o por que de tantas ligações, não? Simples, meu marido se aposentou e virou alvo de empréstimos consignados, aquele descontado em folha e muito oferecido a aposentados e pensionistas, e que acaba levando as pessoas ao alto endividamento. Ou seja, ao estar em um cadastro do INSS, os bancos não cansaram de nos ligar. Eu cheguei a bloquear cerca de 30 telefones em um só dia. O “Não Me Perturbe, da Anatel, infelizmente não funcionou.

Isso aconteceu porque o plano com a operadora de telefonia da família, envolvendo cinco celulares e mais o fixo, estava no nome dele. Imaginem o bombardeio de ligações oferecendo o “bendito” empréstimo consignado! O assédio passou dos limites ao ponto de deixarmos por dias seguidos eles totalmente desligados.

Não à toa que falam por aí que o “banco de dados de aposentados é o grande petróleo do mundo”. A quantidade de ligações de bancos oferecendo crédito consignado foi impressionante. Nunca vi tanto banco na minha vida com tantos números de telefones.

Por sorte, não precisávamos de nenhum crédito, mas fico imaginando muitos idosos ante uma demanda de seus familiares em que muitos, com boas e outros más intenções, acabam levando-o a um superenvidamento e, ele, o idoso, sem poder contar para o restante da família, sofre calado.

Facilidade de crédito e falta de educação financeira

Algumas das explicações sobre como os idosos se endividam são a facilidade de crédito e a falta de educação financeira. Mas não só. A pessoa idosa sofre por ter se aposentado quando na realidade queria continuar ativa. Sofre porque uma vez aposentada a pessoa vê diminuir o valor mensal de sua renda. Sua aposentadoria é menor que o salário que recebia. Se não planejar, a conta não fecha. Mas as pessoas não fazem esse planejamento. Percebe então que trabalhou mais de 30 anos e contribuiu a fim de na sua velhice garantir a mesma condição de vida. Mero engano. A reforma da previdência foi um desmonte, uma retirada de direitos sociais cujos idosos foram duramente atingidos. A pessoa idosa percebe que sua aposentadoria não dá e a possibilidade de partir para um endividamento é muito grande.

Aliás, a saída é fazer um consignado, afinal, há muita insistência e assédio mesmo e a pessoa idosa acaba caindo na armadilha, pois o limite do empréstimo consignado é 30% do salário. Ela não se dá conta que vai receber 30% a menos do que está acostumada com a sua aposentadoria, que é menos do que estava acostumada quando ativa. Ou seja, a pessoa idosa se endivida para suprir necessidades mais da família do que propriamente dela, pois de modo geral a pessoa idosa é mais contida na relação de consumo.

Quando isso ocorre, aprendi com Tirza e Emmanuela que o melhor a fazer é transferir a dívida para o familiar, mas segundo elas a maioria dos idosos – sem condições de comprar a própria comida nem seus remédios – não aceita por terem pena do familiar que o levou ao superindividamento. Outras vezes a família não tem noção da realidade financeira do idoso.

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Covardia Capital

Covardia Capital é um documentário do Instituto Defesa Coletiva que retrata artimanhas dos bancos para a concessão de crédito indiscriminado aos idosos. O documentário integra projeto de crédito consciente para idosos. Venceu a categoria júri popular do Festival Internacional de Cinema de Trancoso e foi tema do Prêmio Instituto Defesa Coletiva de Jornalismo.

Esse documentário retrata uma realidade cada vez mais presente e frequente e com ela o aumento do número de idosos inadimplentes. Aliás, dados do Serasa Experian apontam que os idosos são os que mais têm deixado de pagar as contas em dia. Entre outubro de 2018 e outubro de 2019, 900 mil pessoas com mais de 60 anos não cumpriram algum dos compromissos financeiros. Com elas, são 9,8 milhões de brasileiros, dessa faixa etária, inadimplentes. Um crescimento de mais de 10%.

“Aprendendo a dizer não”

O videoclipe da música “aprendendo a dizer não” é uma iniciativa do Instituto Defesa Coletiva, cuja letra é de autoria da cantora e compositora Rê Mineira. Um vídeo bem didático que merece ser trabalhado nos mais diversos grupos de idosos.


Alzheimer
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Beltrina Côrte

Jornalista, Especialização e Mestrado em Planejamento e Administração do Desenvolvimento Regional, Doutorado e Pós.doc em Ciências da Comunicação pela USP. Estudiosa do Envelhecimento e Longevidade desde 2000. É docente da PUC-SP. Coordena o grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, e é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), ambos da PUC-SP. CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver. Integrou o banco de avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Basis/Inep/MEC até 2018. Integra a Rede Latinoamericana de Psicogerontologia (REDIP). E-mail: [email protected]

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Beltrina Côrte

Jornalista, Especialização e Mestrado em Planejamento e Administração do Desenvolvimento Regional, Doutorado e Pós.doc em Ciências da Comunicação pela USP. Estudiosa do Envelhecimento e Longevidade desde 2000. É docente da PUC-SP. Coordena o grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, e é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), ambos da PUC-SP. CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver. Integrou o banco de avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Basis/Inep/MEC até 2018. Integra a Rede Latinoamericana de Psicogerontologia (REDIP). E-mail: [email protected]

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