Envelhecimento não é sinônimo de doenças. É o que garante a geriatra romena Mariana Jacob, 70 anos, que acaba de lançar, no Brasil, o livro Geriatria em Comprimidos para Todas as Idades (José Olympio Editora). “A obra é fruto da minha experiência de 40 anos de profissão e é dedicada aos leigos, e não aos médicos, porque eles dispõem de livros, de revistas acadêmicas, de congressos e de sites restritos à comunidade médica”, informa. De acordo com Mariana Jacob, que cuida do corpo e da mente de famosos como Michel Temer, Paulo Goulart e Nicete Bruno, o que determina o ritmo do envelhecimento são as agressões praticadas pelo próprio indivíduo, como sedentarismo e exageros. “Fumo e bebidas atrapalham o prolongamento da vida saudável e da aparência jovial. O estresse e a exposição ao sol também são fatores maléficos à saúde”, diz a geriatra. Nesta entrevista à repórter Cinthya Leite, ela fala, entre outras coisas, sobre desgaste orgânico e estilo de vida saudável.
JORNAL DO COMMERCIO – Em 1950, o Brasil tinha 2 milhões de idosos, hoje eles somam 14 milhões. Qual o principal impacto dessa extensão da vida?
MARIANA JACOB – O avanço pode ser atribuído à evolução das áreas científicas que subsidiam a medicina. Os responsáveis por essa longevidade são os antibióticos, as vacinas e os medicamentos para o controle do que chamo como os males do século: hipertensão arterial, doenças reumáticas e estresse. Ainda há os avanços cirúrgicos e os transplantes de órgãos. Muitas promessas da medicina genética também entram em discussão hoje, mas de nada adianta chegar à velhice com carência de saúde física e mental e sem a preservação da capacidade de ser útil e produtivo. Ou seja: só vale a pena longevidade com ‘longevitalidade’.
JC – E como alcançar o que a senhora chama de ‘longevitalidade’?
JACOB – Ao se tratar de saúde, o maior patrimônio do ser humano e o melhor investimento que se pode fazer, é importante contemplar a qualidade de vida desde cedo. As pesquisas comprovam que a prevenção é o segredo para desacelerar o envelhecimento biológico. Comer bem, beber muito líquido, fazer exercícios físicos, exercitar a mente através da leitura e dizer não ao fumo são medidas simples e que devem ser praticadas desde cedo para se evitar doenças crônicas. Alguns problemas que aparecem na velhice são tão graves que se tornam impossíveis de serem curados. Entre eles, está o mal de Alzheimer, doença tratável, mas que é progressiva e piora com o avanço do processo degenerativo cerebral.
JC – Para doenças desse tipo, a medicina já lança alguns tratamentos alternativos. O que acha deles?
JACOB – Com freqüência, os pacientes me perguntam sobre essas terapias que promovem a cura. Algumas têm fundamento científico, outras, não. Por exemplo, qual a ‘verdade’ sobre os perigos da ingestão de alumínio no desenvolvimento da doença de Alzheimer? Alguns estudos já comprovaram que o mineral está associado a alterações do tecido cerebral. De fato, estudos em cadáver portadores do problema demonstraram a existência de mais alumínio no cérebro das vítimas do que no das pessoas sem a doença. Então, deve-se evitar remédios que contenham a substância, como os antiácidos, e panelas confeccionadas com alumínio, pois as partículas do mineral podem ser incorporadas à comida.
JC – Se o seu livro trata de assuntos de interesses da geriatria, que se limita ao estudo das doenças da velhice, por que ele é dedicado a pessoas de todas as idades?
JACOB – Porque as pessoas precisam tomar conhecimento do processo de envelhecimento desde cedo. É o que se chama de educação geriátrica. Muitas das doenças degenerativas que afetam a população idosa podem ser combatidas se os jovens forem orientados a seguir uma alimentação adequada. Um exemplo é a osteoporose, ocasionada por perda de cálcio e proteína, presente em cerca de 30% das mulheres em pós-menopausa e que pode ocasionar fraturas devido à fragilidade óssea. O melhor que uma pessoa pode fazer é seguir um bom estilo de vida e procurar um geriatra no período de transição, que vai dos 45 aos 65 anos.
JC – É realmente necessário o médico geriatra dedicar cerca de duas horas a cada paciente?
JACOB – Realmente a consulta deve ser demorada. Eu, por exemplo, faço uma análise da saúde e dos aspectos psicossociais de cada pessoa, principalmente quando se trata de uma pessoa idosa. Ela tem o raciocínio mais lento, tem muitas histórias para contar e carrega um histórico de doenças (as mais comuns são hipertensão, diabete e artrose) das quais o geriatra tem obrigação de saber. Depois de toda a análise, é preciso explicar todos os detalhes da receita. O médico deve checar se o paciente entendeu como os medicamentos devem ser administrados. O paciente só deve deixar a sala quando compreender os passos que devem ser tomados.
JC – Por que a senhora trata a faixa etária dos idosos como a ‘Idade de Ouro’?
JACOB – O ouro é um mineral de grande valor, igualmente ao período da velhice. Assim sendo, as pessoas dessa faixa etária devem ser tratadas com respeito, pois são donas de experiências preciosas. No Canadá, por exemplo, as pessoas já assimilaram a idéia de que os idosos não são problemas e, por isso, merecem atenção especial, não são submetidos ao descaso. No Brasil, o processo de valorização da pessoa idosa ainda está em andamento, mas muito ainda precisa ser feito, principalmente por parte do Governo, das Organizações Não-Governamentais (ONGs) e das empresas.
JC – O Estatuto do Idoso, que entrou em vigor no início do ano, é fruto de um quadro de valorização social dos mais velhos?
JACOB – Foi dado um primeiro passo, mas, por enquanto, pode-se dizer apenas que os termos do documento são muito bonitos. A maioria ainda não saiu do papel, pois falta ação política e dinheiro para efetivar os ‘mandamentos’.
[1] Entrevista realizada por Cinthya Leite – pesquisadora mentora – para oJornal do Commercio, Caderno Família, 12/09/2004