É preciso falar mais do envelhecimento do que da velhice em si

É preciso falar mais do envelhecimento do que da velhice em si

O psiquiatra Júlio Machado, português, em sua coluna “Por falar nisso”, vem refletindo sobre o processo de envelhecimento na tentativa de ajudar a sociedade a envelhecer da melhor maneira.


Já é sabido que o envelhecimento começa quando nascemos e que as sociedades estão cada vez mais envelhecidas. Mas em quais condições estas velhices se apresentam hoje? Para responder a esta questão, invocamos o psicólogo alemão Paul B. Baltes (1939-2006), o qual deu uma grande contribuição à Psicologia do Envelhecimento e à Psicologia do Desenvolvimento, principalmente, já que o estudo científico a respeito do envelhecimento pela Psicologia é bem recente. Antes, a Psicologia definia a velhice como anos de declínio, ao menos era assim que se pensava nos 60 primeiros anos do século XX: a Psicologia do desenvolvimento era apenas orientada à vida adulta, ou seja, à produtividade e à autonomia física e cognitiva. Tal pensamento ainda é muito comum nos muitos currículos de cursos de Psicologia do país afora.

Por que trazemos Baltes para esta discussão? Porque ele criou o paradigma do desenvolvimento ao longo de toda a vida, mais conhecido teoricamente como Lifespan, ou ciclo vital. Ou seja, o desenvolvimento como um processo contínuo, multidimensional e multidirecional de mudanças organizadas por influências genético-biológicas e socioculturais de natureza normativa e não-normativa, marcado por ganhos e perdas concorrentes e por interatividade indivíduo-cultura e entre os níveis e tempos das influências.

Ele também pesquisou sobre a plasticidade da inteligência na vida adulta e na velhice e fez investigações interdisciplinares sobre a velhice avançada. Desses estudos nasceu o termo “envelhecimento bem-sucedido”, baseado em seleção de metas, otimização dos meios para atingir essas metas e busca de compensações. Baltes acreditava na importância do meio ambiente e cultura no desenvolvimento humano ao longo da vida.

Talvez seja por isso que o psiquiatra português Júlio Machado Vaz, em sua coluna “Por falar nisso”, tenha salientado uma máxima defendida por todos os profissionais de saúde, ou seja, de que é essencial investir na Educação para a Saúde ao longo da vida. Vaz sugere falarmos mais do processo do envelhecimento e não da velhice em si, uma vez que esta tem por trás uma modalidade de estar, enquanto envelhecimento indica um processo contínuo. Vaz destaca que “As incapacidades que vão surgindo com o envelhecimento não estão diretamente relacionadas com esse envelhecimento”, como assinala, inclusive, a organização Mundial de Saúde. Para ele não é uma relação de causa-efeito.

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Embora não mencione Baltes, Vaz aponta justamente o que o psicólogo já assinalava: “estas incapacidades decorrem, muitas vezes, de situações que aparecem ao longo da vida e que, não raro, são modificáveis por nós”. É o que ultimamente falamos aqui no Portal do Envelhecimento: envelhecer bem é uma escolha social, pois depende do meio ambiente e da cultura, mais do que da genética. É uma falácia dizer que “envelhecer bem é uma escolha individual”.

Como aponta Vaz em sua coluna, “a saúde é uma empresa global”. Por isso, para o psiquiatra, “quando falamos de estilo de vida saudável”, não nos devemos restringir às recomendações para a prática de exercício físico, uma alimentação saudável e evitar o stress. Em termos gerais, comenta Vaz, para melhorar a saúde, é preciso que haja uma conjunção de vontade e de empreendimento que, de modo algum, dependem apenas dos profissionais de saúde e das pessoas. “Assim como uma boa reforma se prepara com 10 anos de antecedência, um bom envelhecimento prepara-se ao longo de uma vida inteira”, esclarece Vaz.


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