Na minha experiência em atendimento com idosos de apoio cognitivo e emocional constato que se grava melhor e se tem menos tendência a esquecer as memórias de alto conteúdo emocional.
Estou com 87 anos, sou viúvo há oito anos e fui bem casado mas não tivemos filhos. No momento tenho apenas uma sobrinha que me visita uma vez por semana e me ajuda com remédios e na alimentação. Ultimamente tenho percebido que ando esquecendo de nomes, de trancar a porta e de não lembrar o que era para ser feito. Fico preocupado com esses lapsos de memória e gostaria de tentar melhorar e cuidar essa dificuldade!”
Memória é a capacidade da mente humana fixar, reter, evocar e reconhecer impressões ou fatos passados”, diz Fernandes e Loureiro (2009). Assim a memória constitui-se como forma de preservação e retenção do tempo, salvando-nos do esquecimento e das perdas (Neves, 2000).
Estudos mostram que existe uma grande heterogeneidade no envelhecimento cognitivo, sendo que alguns idosos apresentam declínio cognitivo expressivo enquanto que uma parcela variável de idosos tem desempenho comparável ao de adultos (Camargo, Gil& Moreno, 2006).
Para manter e cuidar bem de nossa memória devemos entender que a cognição é a capacidade do indivíduo adquirir e usar informação, a fim de adaptar-se às demandas do meio ambiente. O processo cognitivo se relaciona a respostas e ao processamento do indivíduo ao estímulo recebido. Ou seja, à avaliação e execução de tarefas.
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Segundo Izquierdo (2007) há vários tipos de memória: a de curta duração ou recente, que dura poucas horas; a de trabalho ou funcional, usada para entender a realidade que nos rodeia e poder formar ou evocar outras formas de memória; a de longa duração ou remota, que dura dias e anos.
A autoavaliação ou percepção da própria memória é chamada de metamemória e parece estar alterada em idosos. Entretanto, segundo pesquisas, ficou demonstrado que 54% dos idosos entrevistados que achavam que tinham queixa de sua memória, na realidade, de acordo com a pesquisa, apenas 12% tinham realmente prejuízo na memória.
Na minha experiência em atendimento com idosos de apoio cognitivo e emocional constato que toda memória é melhor adquirida e mantida em certo estado emocional. Observo que grava-se melhor e tem-se menos tendência a esquecer as memórias de alto conteúdo emocional.
Assim sendo, desenvolvo um atendimento de apoio cognitivo emocional estimulando a autoestima por meio de exercícios de interesse pessoal utilizando novas habilidades cognitivas através da técnica de seleção, otimização e compensação de Baltes (1991), em atendimento pessoal.
Esse trabalho pode ser também realizado na forma de oficinas de memória, pois segundo Bobbio (1997) “(…) somos aquilo que pensamos, amamos, realizamos, (…) somos aquilo que lembramos”.
O cuidado de nossa memória na velhice deve ser desenvolvido por meio de conhecimento, percepção de si e de sua própria história como percurso que não se finda aqui e agora, mas que continua no futuro, como assinala Sanchees-Justo; Vasconcelos (2010).
Assim vamos cuidar de nossa memória na velhice por meio de um trabalho de seleção e reconstrução de cada um de nós no presente, delimitado pelas relações sociais estabelecidas durante nossa vida!
Referências
Baltes (1991). Psycological perspectives on successful aging: The model of selective optimization with compensation. In Baltes, P. B. & Baltes, M. M. (Eds.). Perspectives from Behavioral Sciences. Cambridege: University Press.
Bobbio, N. (1997). O tempo da memória – de senectude e outros escritos autobiográficos. Rio de Janeiro: Campus.
Camargo, Gil & Moreno (2006). Envelhecimento normal e cognição. In C. M. C. Bottino, j. Laks, & S. L. Blay. Demência e transtornos cognitivos em idosos (pp. 13-22). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Fernandes M.G.; Loureiro, L.N. (2009). Memória e história oral: a arte de recriar o passado de idosos. A terceira Idade, v. 20, n.45, p.53-66.
Izquierdo, I (2007). A arte de esquecer, Rio de Janeiro. Vieira & Lente.
Neves, L. de A. (2000). Memória, história e sujeito: substratos da identidade. História Oral, n.3, p.109-116, 2000.
Sanches – Justo, J.; Vasconcelos, M. S. (2010). Pesquisa em psicologia social com a terceira idade. Revista de Psicologia da Unesp, v.9, n.2, p.168-171.