Diabetes tipo 2 como fator de risco para o surgimento de demência

A Diabetes Mellitus tipo 2 em pessoas idosas, e possivelmente também na meia idade, está associada a maior risco de desenvolvimento de demências.

Em colaboração com Tawane Carneiro e Millene Abrantes (*)


Uma das principais doenças crônicas hoje no mundo e, em especial, entre as pessoas idosas, é a Diabetes Mellitus (DM). Segundo a Federação Internacional de Diabetes (FDI), 382 milhões de pessoas no mundo têm a doença e estimativas apontam que, a cada ano, mais e mais pessoas recebem o diagnóstico da doença, estimando-se que, em 2035, 592 milhões de pessoas terão DM. O DM é um distúrbio metabólico relacionado ao hormônio insulina (responsável por transportar a glicose até o interior das células do corpo e regular a quantidade de glicose no sangue), sendo que existem vários tipos, porém, em adultos e nas pessoas idosas, o mais comum é o denominado DM tipo 2.

As pessoas com DM tipo 2 apresentam resistência à insulina, isto é, o organismo é incapaz de produzir a quantidade de insulina necessária para a manutenção do metabolismo normal, o que causa acúmulo de glicose no sangue. A resistência à insulina, na maioria das vezes, apresenta predisposição genética, isto é, é mais frequente em pessoas que tem outros familiares que tiveram ou que têm diabetes. Mas, sua causa ainda não está bem estabelecida.

A resistência à insulina encontra-se comumente associada à obesidade, tabagismo, sedentarismo, aumento da gordura abdominal, alimentação com excesso de carboidratos; pressão alta e aumento do colesterol e triglicerídeos no sangue.

A preocupação com o DM tipo 2 relacionam-se, sobretudo, às diversas complicações em diversos órgãos do corpo decorrentes das alterações no metabolismo da glicose. Assim, doenças cardiovasculares; retinopatias (doença ocular) e consequente cegueira; amputações de extremidades devido à patologia arterial periférica; insuficiência renal e aterosclerose (formação de placas de gorduras e outros elementos na parede do coração e outros locais do corpo) estão frequentemente associadas às alterações ocasionadas pelo DM tipo 2.

Demências

Em 2014, The World Alzheimer Report (WAR) destacou que a presença de DM tipo 2 em pessoas idosas, e possivelmente também na meia idade, está associada a uma maior probabilidade (ou risco) de desenvolvimento de todas as formas de demências.

As demências, ou transtornos cognitivos maiores, são caracterizadas pelo declínio nas habilidades cognitivas, ou seja, memória, linguagem, capacidade de aprendizagem e funções executivas, de intensidade o suficiente para interferir na independência do indivíduo no que se refere as atividades de vida diária: cuidar da higiene pessoal, se vestir, se alimentar, ir ao banheiro etc.

O tipo mais comum de transtorno cognitivo maior é a Doença de Alzheimer, que corresponde a cerca de 60-80% dos casos. Os sintomas iniciais mais comuns envolvem dificuldade de lembrar de eventos recentes, depressão e apatia (estado de desinteresse). Com a progressão da doença, os sintomas se intensificam e incluem prejuízo de comunicação, confusão, alterações de comportamento, desorientação no espaço e até mesmo dificuldade para falar, engolir, andar, urinar e evacuar.

O segundo tipo mais prevalente é a Demência Vascular. Esta corresponde a cerca de 10 a 30% dos casos e pode ocorrer devido a infartos cerebrais, hemorragia e doenças de pequenos vasos. Já seus sintomas iniciais diferem bastante da Doença de Alzheimer, pois há maior prejuízo das funções executivas, que incluem planejamento, organização e monitoramento das atividades. Há, ainda, diversos outros tipos de transtornos cognitivos maiores, cada qual causado por um motivo e com diferenciação de sintomas iniciais e progressão.

Independentemente do tipo, estudos comprovaram que o índice elevado de glicose no sangue pode ser um fator significativo para a incidência destes transtornos cognitivos maiores. Ainda, pessoas com baixo controle da doença e que mantem níveis elevados de glicose no sangue e por períodos prolongados, têm de 22% a 78% mais risco de desenvolver demência, além de terem um declínio cognitivo em uma velocidade maior daquelas que não possuem DM.

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Isso ocorre porque a insulina em nível adequado auxilia a manter a integridade das funções neuronais e o bom funcionamento da estrutura cerebral, importante para a memória, regulação de emoções, aprendizado, entre outras funções importantes para manutenção da autonomia e independência das pessoas. Desta forma, existindo alterações no metabolismo da insulina, ocorre tanto a dificuldade de funcionamento da comunicação entre dois ou mais neurônios, quanto a morte destes.

O DM tipo 2 está particularmente associado à Doença de Alzheimer e à Demência Vascular, assim, é de suma importância não só um tratamento adequado da doença, mas a prevenção desta. Existem evidências de que mais da metade dos casos de DM tipo 2 poderiam ser evitados com o controle do peso, boa alimentação e diminuição do sedentarismo.

Destaca-se que os hábitos alimentares ocidentais, vulgo dieta ocidental, são considerados como padrões alimentares que aumentam as probabilidades de desenvolver demência no futuro. Isto ocorre devido ao alto consumo de alimentos ultra processados (fórmulas industriais compostas por componentes oriundas de outros alimentos), industrializados e açucarados característicos deste tipo de dieta. O alto consumo de bebidas alcoólicas também se mostra como um fator de risco.

Assim, uma dieta adequada, rica em produtos naturais tais como frutas e verduras, bem como atividade física regular pode prevenir não só o DM tipo 2, mas, também, as Doença de Alzheimer e à Demência Vascular consequentes à presença do diabetes.

Referências
OLIVEIRA, Kênnia Stephanie Morais; CARVALHO, Francisca Patrícia de; OLIVEIRA, Lucídio Cleberson de; et al. Avaliação do risco da doença de Alzheimer em idosos com diabetes mellitus. Rev Enferm. Foco. 2021; 12(4) 760-766. Disponível em: <http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/4561/1226>

MATIOLI, Maria Niures Pimentel dos Santos. Associação entre Diabetes Mellitus e demência: estudo neuropatológico. São Paulo, 2016. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5138/tde-18112016-111336/publico/MariaNiuresPimenteldosSantosMatioli.pdf>

CARDOSO, Sofia Alves; PAIVA, Isabel. Nutrição e alimentação na prevenção e terapêutica da demência. Acta Portuguesa de Nutrição 11 (2017) 30-34. Disponível em: <https://actaportuguesadenutricao.pt/wp-content/uploads/2018/01/n11a05.pdf>

(*) Tawane Carneiro e Millene Abrantes são graduandas do Centro Universitário São Camilo, estagiárias do Programa Bolsa Talento.

Foto destaque de Olya Kobruseva/Pexels


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Maria Elisa Gonzalez Manso

Médica e bacharel em Direito, pós-graduada em Gestão de Negócios e Serviços de Saúde e em Docência em Saúde, Mestre em Gerontologia Social e Doutora em Ciências Sociais pela PUC SP. Orientadora docente da LEPE- Liga de Estudos do Processo de Envelhecimento e professora titular do Centro Universitários São Camilo. Pesquisadora do grupo CNPq-PUC SP Saúde, Cultura e Envelhecimento. Gestora de serviços de saúde, atua como consultora nas áreas de envelhecimento, promoção da saúde e prevenção de doenças, com várias publicações nestas áreas.

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Médica e bacharel em Direito, pós-graduada em Gestão de Negócios e Serviços de Saúde e em Docência em Saúde, Mestre em Gerontologia Social e Doutora em Ciências Sociais pela PUC SP. Orientadora docente da LEPE- Liga de Estudos do Processo de Envelhecimento e professora titular do Centro Universitários São Camilo. Pesquisadora do grupo CNPq-PUC SP Saúde, Cultura e Envelhecimento. Gestora de serviços de saúde, atua como consultora nas áreas de envelhecimento, promoção da saúde e prevenção de doenças, com várias publicações nestas áreas.

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