Devolvam meu estrógeno!

Devolvam meu estrógeno!

Cogitamos a ideia de que nossos atos, responsáveis pelas alterações que almejamos, estão sob nosso controle. Mero engano, nossas ações são impulsionadas pelos hormônios, algo que foge ao nosso controle. São eles que regem nossa vida e a falta deles dá o tom desafinado à nossa entrada na velhice. São os hormônios os maestros destas sinfonias que enaltecem os cabelos brancos e a pele ressecada e não duvidem disso! Precisamos de estrógenos!

 

Adoro esta época do ano e mesmo morando em uma cidade como São Paulo, gosto de imaginar que em algum lugar o outono se faz presente nas folhas das árvores que colorem especialmente este tempo. As folhas secas que se acumulam no chão são um convite para um andar repleto de sonoridade. O tric trac das folhas se partindo tornam o caminhar sobre elas algo ingenuamente divertido.

A vida acontece em ciclos e o outono nos faz perceber esse viver que exige mudanças de tempos em tempos. A velhice é uma delas.

Não há transformação sem energia e nós, seres curiosos que somos, cogitamos a ideia de que nossos atos, responsáveis pelas alterações que almejamos, estão sob nosso controle. Mero engano, afinal nossas ações são impulsionadas, ou não, por algo que foge ao nosso controle: Os hormônios. São eles que regem nossa vida e a falta deles dá o tom desafinado a nossa entrada à velhice. São os hormônios os maestros destas sinfonias que enaltecem os cabelos brancos e a pele ressecada e não duvidem disso!

Peço aqui licença para falar no feminino, afinal a mulherada é muito mais preparada para entender o que aqui tentarei descrever, afinal, nós estamos habituadas a oscilar neste vai e vem hormonal mensalmente vivendo de várias maneiras a TPM. Se falarmos sobre estas variações de humor com uma garota de vinte anos ela, assim como uma mulher de quarenta, saberá compreender e se solidarizará com esta dura realidade.

Aprendemos ao longo da nossa vida feminina e feminista a conviver com essas sensações que permeiam nossa luta por igualdade e que parecem apenas dar uma trégua diante de uma panela de brigadeiro que logo se acaba.

Em ambientes femininos fica fácil perceber o efeito desta variação hormonal. Numa turma de mulheres sempre existe alguém em momento crítico e, aí, o melhor a fazer é ter muita paciência e caso isso não seja possível, a melhor opção é sair de perto.

Minha filha de 20 anos já sabe bem a dificuldade de viver as loucuras causadas mensalmente e nós aqui de casa identificamos com facilidade esses momentos vividos por ela que diariamente toma seu banho ao som de funks engraçados ou rock nacional, até que os hormônios amalucados cantam Ana Carolina a plenos pulmões.

Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar…

As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar

Sim! Tudo poderá mudar e mudará, mas não se enganem! Tudo pode piorar! E como! Ultimamente tenho sentido saudades de quando a TPM era apenas em um período do mês. Na menopausa ela se torna diária e constante. Caso decida fazer uma enquete sobre a constante TPM na meia idade, sei que teria resultados significativos das internautas.

Nós mulheres não nos damos conta da preciosidade do estrógeno e apenas quando suas taxas ficam mais abaixo do que a sola do pé é que entendemos que éramos felizes e não sabíamos.

Como as folhas de outono, nossa pele nos coloca em nossas mãos, literalmente, a passagem do tempo que tentamos amenizar com kilos de hidratante. O Outono parece estar instalado em nossos corpos como um anúncio de uma velhice por vir. A Arte também aborda o tema e o outono foi muito retratado nas paisagens de Monet.

Claude Monet (1840-1926), pintor francês que fez parte do movimento impressionista foi um dos mais importantes pintores de paisagens da História da Arte. Sua pintura “Efeito do outono em Argenteuil” (Destaque) retrata a estação com uma paleta de cores que nos mostra o colorido característico desta época. Ao retratar esta pequena cidade às margens do Rio Sena, Monet faz a vastidão da lagoa, conduzir nosso olhar para dentro do quadro. A Arte tem dessas coisas e quando nos damos conta, fazemos parte da paisagem. Com as manchas típicas dos impressionistas, o pintor nos entrega um outono repleto de borrões e nuances. Na época da pintura (1873) mudanças sociais aconteciam a sua volta e Monet não se incomodava em excluir construções que causassem desarmonia à cena escolhida por ele. Nesta paisagem, ao fundo vemos a chaminé de uma fábrica que passa a ser camuflada pelas pinceladas do pintor. Chaminé que polui e contamina o ambiente passa então a se assemelhar à torre de uma igreja, incapaz de causar danos ambientais à cena pensada pelo artista.

Olho para a pintura de Monet e tento descobrir um meio de disfarçar este mau-humor e irritabilidade que poluem o meu outono. Preciso, assim como este grande mestre do impressionismo, achar um meio de controlar as chaminés que deturpam e estragam o ambiente do momento. Como?

Escuto e canto Ana Carolina como se através da canção – essa dor que vem do nada e que proclama – minha velhice possa ser aliviada.

Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto
Daria pra escrever um livro, se eu fosse contar
Tudo que passei antes de te encontrar.

Quero meu estrógeno de volta!

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Numa época que tanto se fala mal da reposição hormonal fica difícil saber como agir, afinal, fazê-la nos coloca em riscos, não fazê-la pode ser uma garantia de viver a fumaça da chaminé na sua plenitude.

A vida tem sido difícil! As folhas que, antes me divertiam com seus trics tracs de secura, parecem estar distantes demais para alcançá-las. E a torre da igrejinha dá lugar à fábrica poluente que transforma o azul do céu em um cinza opaco e sem graça.

Algo deve ser feito.

Por hora sigo cantando com a certeza de que uma ajudinha profissional cairá bem, afinal não posso ter uma panela de brigadeiro como salvação!

Sigo em frente pelas ruas de outono numa procura ininterrupta pela luz que me guiará a uma velhice, por mim bem construída. Longe das chaminés que descolorem esta fase, tento segurar as rédeas da minha vida enquanto canto Ana Carolina aos gritos.

Pego sua mão e peço pra me escutar
Seu olhar me diz que você quer me acompanhar
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cristiane T. Pomeranz

Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemorias.art.br E-mail: [email protected].

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Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemorias.art.br E-mail: [email protected].

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