Senti naqueles minutos a importância de dar atenção àquela senhora. Maria das Dores procurava por ajuda e os filhos não estavam percebendo isso.
Tatiana Maria V. de Menezes (*)
Maria me encontra no corredor da lixeira do prédio e diz:
– Oh minha filha, sou moradora daqui do prédio há três meses e não conheci ninguém ainda!
CONFIRA TAMBÉM:
Percebi que aquela senhora estava procurando conversar com alguém, fazer amizade ou até mesmo algum contato mesmo que breve. Então iniciamos uma conversa que se estendeu por quase quarenta minutos.
– A senhora mora sozinha?
– Sim, minha filha! Acredita que venderam minha casa que era grande e venderam também quase tudo que era meu? Meus filhos venderam e me colocaram aqui, dizendo que eu estaria mais segura, não estou segura coisa nenhuma e é até perigoso eu morar sozinha, mas ninguém quer morar com uma velha não é mesmo? Só me procuram quando querem um dinheirinho emprestado.
E ela continuou:
– Eu, em minha casa ainda podia fazer algumas coisas como: pegar a correspondência no portão, varrer a garagem e a frente da casa, molhar minhas plantas e cuidar dos meus passarinhos, eram coisas simples, mas eu fazia. Aqui eu não faço nada e ainda estou numa solidão sem fim. Acredito que estou muito próxima de morrer, assim eles se livram de mim de uma vez.
Ouvi essa senhora atenta a tudo e pude perceber que ela realmente estava sofrendo com toda mudança em sua vida. Seus filhos, na tentativa de proteger e ajudá-la, fizeram ela se sentir muito só e limitada. O que não era verdade, pois, apesar dos seus 68 anos de idade, Dona Maria das Dores estava lúcida e com muita vontade de viver.
– Minha querida, você acredita que me forçaram a vender a minha casa e nem o dinheiro eu vi? Isso é triste, porque eu tinha uma história lá, cuidava das minhas coisas, tiraram até a minha televisão antiga que foi presente e ainda funcionava muito bem.
Senti naqueles minutos a importância de dar atenção àquela senhora. Ela estava procurando por ajuda e os filhos não estavam percebendo isso. Então conversamos por mais alguns minutos e nos despedimos.
A história de Maria das Dores não é a única, infelizmente centenas de idosos passam por situações idênticas e as doenças emocionais começam a aparecer nessa fase.
Alcançar a fase do envelhecimento é uma dádiva, mas muitas pessoas quando chegam a essa fase da vida são negligenciadas e até mesmo abandonadas pela própria família.
Esse é apenas mais um relato entre milhares de outros refletindo as várias formas de violências, tipos e graus, situações que precisam de intervenções imediatas, seja entre a sociedade, comunidade, saúde, segurança, governo e entre outros, pois estamos vivendo em um mundo onde as práticas egoístas e individualistas estão se tornando comum.
(*) Tatiana Maria V. de Menezes, serviço social, caçula de três, cuidadora principal. E-mail: tatamvmenezes@yahoo.com.br
Foto destaque de Mehmet Turgut Kirkgoz/Pexels