Demências: como lidar com sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais

Demências: como lidar com sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais

Intervenções ambientais, suporte ao cuidador e técnicas de reabilitação cognitiva podem reduzir a intensidade dos sintomas neuropsiquiátricos.


Gabriela dos Santos e Thais Bento Lima da Silva (*)

A demência é caracterizada pelo declínio progressivo das funções cognitivas, afetando diversas habilidades como memória, linguagem e a capacidade de realizar atividades diárias. Além das manifestações cognitivas, é comum que as pessoas com demência apresentem sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais, que impactam significativamente a própria qualidade de vida, assim como a de seus cuidadores e familiares​.

Os sintomas neuropsiquiátricos incluem agitação, agressividade, apatia, depressão, ansiedade, delírios e alucinações. Além disso, podem ocorrer distúrbios do sono, deambulação excessiva e comportamento social inapropriado​.

Estudos indicam que até 90% dos indivíduos com demência apresentarão algum desses sintomas ao longo da progressão da doença (Kales et al., 2014). Esses sintomas aumentam a sobrecarga dos cuidadores e o risco de institucionalização das pessoas com demências.

O manejo dos sintomas neuropsiquiátricos na demência deve ser fundamentado em estratégias individualizadas, adequando abordagens não farmacológicas e  farmacológicas.  Segundo Livingston et al. (2020), intervenções ambientais, suporte ao cuidador e técnicas de reabilitação cognitiva podem reduzir a intensidade dos sintomas e retardar a necessidade de medicamentos.

Além disso, é essencial identificar possíveis fatores associados, como dor, fome, desconforto, privação de sono e excesso de estímulos ambientais, que podem aumentar as manifestações comportamentais. Veja a seguir algumas estratégias que podem ser utilizadas para o manejo de sintomas neuropsiquiátricos de pessoas com demência.

Agitação e agressividade
– Evitar confrontos diretos e falar com calma, usando frases curtas e objetivas;
– Identificar gatilhos como fome, sede, dor ou necessidade de ir ao banheiro;
– Proporcionar atividades relaxantes, como música e alongamentos​.

Depressão e apatia
– Incentivar a participação em atividades prazerosas, como arte, jardinagem e jogos;
– Estimular a interação social sempre que possível;
– Observar sinais de tristeza persistente, que podem exigir intervenção profissional.

Ansiedade e comportamento repetitivo
– Redirecionar a atenção para uma atividade tranquila, como dobrar toalhas ou olhar álbuns de fotos;
– Garantir que o ambiente seja previsível e sem mudanças bruscas;
– O toque e a comunicação verbal suave podem ser eficazes para acalmar a pessoa acometida por demência.

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Delírios e alucinações
– Manter a calma e evitar tentar “corrigir” a percepção do paciente, o que pode gerar mais ansiedade;
– Avaliar se há fatores ambientais que possam estar influenciando, como sombras que parecem figuras humanas;
– Se os delírios forem muito angustiantes, consultar um médico para avaliação de intervenção medicamentosa.

Alterações no Sono
– Manter uma rotina regular de horários para dormir e acordar;
– Evitar cafeína e atividades estimulantes no período noturno;
– Incentivar exposição à luz natural durante o dia e a prática de exercícios leves.

Destaca-se que o acompanhamento de profissionais especializados é fundamental para o monitoramento e gerenciamento das práticas de cuidados.

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Referências
CARAMELLI, P. et al.. Tratamento da demência: recomendações do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Dementia & Neuropsychologia, v. 16, n. 3, p. 88–100, set. 2022. DOI 10.1590/1980-5764-DN-2022-S106PT. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-5764-DN-2022-S106PT. Acesso em: 14 fev. 2025.
KALES, H. C. et al. Management of neuropsychiatric symptoms of dementia in clinical settings: recommendations from a multidisciplinary expert panel. Journal of the American Geriatrics Society, v. 62, n. 4, p. 762-769, 2014. DOI 10.1111/jgs.12730. Disponível em: https://doi.org/10.1111/jgs.12730.  Acesso em: 14 fev. 2025.
KRUGER, A. J. O.; TOLEDO, C.; SHUPECHECK, C. K.; et al. Manual do cuidador – Doença de Alzheimer. Ponta Grossa – PR: Atena Editora, 2022. 44 p. ISBN 978-65-258-0763-8. DOI: 10.22533/at.ed.638222710. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/manual-do-cuidador-doenca-de-alzheimer. Acesso em: 14 fev. 2025.
LIVINGSTON, G. et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. The Lancet, v. 404, n. 10452, p. 572-628, 2024. DOI 10.1016/S0140-6736(24)01296-0. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)01296-0. Acesso em: 14 fev. 2025.

(*) Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: santosgabriela084@gmail.com.
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: thaisbento@usp.br


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