Cresce em 66% no País o número de hospitais de planos de saúde

O número de hospitais administrados por planos de saúde aumentou 66% nos últimos dois anos no Brasil. O crescimento é motivado pela preocupação de operadoras do setor em reduzir custos com assistência médica e fomenta um intenso debate sobre possíveis prejuízos à qualidade geral dos serviços.

Fabiane Leite


Segundo dados do mercado, atualmente 500 hospitais no País são administrados por planos, ante 300 há dois anos. Um exemplo é o tradicional Hospital Nove de Julho, na região da avenida Paulista, que há cerca de seis meses é administrado pela empresa Esho, do controlador da Amil, Edson de Godoy Bueno. No entanto, ele continua aberto também para o atendimento de convênios de outras empresas.

“A idéia é ter um controle melhor do custo, é uma tendência”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida. O fenômeno, chamado de verticalização, é verificado principalmente entre operadoras de planos, uma vez que as seguradores têm limitações legais para adquirir serviços. As operadoras são as que têm mais usuários e que só permitem o uso de médicos indicados.

Almeida explica que as empresas do setor tradicionalmente possuem seus próprios serviços, mas a abertura recente de capital na Bolsa de Valores por grandes empresas do setor, como Amil e Medial, impulsiona novas aquisições.

Além disso, as compras de pequenas e médias empresas de planos por grandes companhias do setor faz com que determinadas operadoras tenham um maior número de serviços sob seu controle. “Enxergamos a verticalização como um modelo de gestão da saúde do beneficiário”, afirma Wilson Cappellete, diretor da unidade de negócios Hospitais da Medial, que recentemente assumiu hospital no DF.

Apesar de a Amil ter optado por não controlar todo o Hospital Nove de Julho, o caso é visto no mercado como principal exemplo do interesse do setor em controlar os prestadores de serviço. A Esho já administra diferentes serviços de saúde. Procurados, Bueno e Amil não quiseram comentar a aquisição

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Preocupação

“Nós olhamos essas mudança com muita preocupação”, diz o diretor-executivo do Hospital Santa Catarina, Fabio Tadeo Teixeira. Representantes de hospitais privados independentes, de grande porte, como o Santa Catarina, o São Luiz e o Albert Einstein têm alertado que a verticalização poderá afetar a qualidade geral de atendimento, com cortes de exames e insumos hospitalares. Destacam ainda que o fato de estarem sendo preteridos pelos convênios poderá significar menor recursos para que continuem a investir em tecnologias.

“Teremos uma redução de mercado e de investimentos, conseqüentemente os hospitais privados não conseguirão manter a evolução tecnológica e não temos garantia de que as operadoras farão isto. A expectativa é que o grau de qualidade reduza como um todo”, continuou Teixeira, que destaca que, diferentemente das operadoras, o setor tem limitações legais para abrir o capital na Bolsa. “Talvez tenhamos ilhas de qualidade, para pacientes particulares e internacionais. O mercado será nivelado por baixo.”

“Eles fazem esses questionamentos porque estão preocupados com a concorrência”, rebate Almeida, que destaca que são raros os hospitais de planos que atendem só um tipo de convênio médico. “E os outros convênios só internarão nesses lugares se o serviço tiver qualidade”, continuou.

“Concorrência é bom”, diz o diretor de Normas e Habilitação de Operadoras de Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar, Alfredo Cardoso. “Mas também já tivemos experiências de verticalização que não foram eficientes, o custo era maior e a qualidade, pior”, alertou.

Fonte: Jornal O Estado de S.Paulo,22/9/2008

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