O objetivo da minha atuação não mudou, mas ela em si, sim. A escuta, o acolhimento e a empatia transformaram meu atendimento, tornando-o mais humanizado.
Priscilla Viana e Almeida (*)
CONFIRA TAMBÉM:
“O que menos importa é a morte digna. O bem maior e de valor incalculável que precisa ser privilegiado é a possibilidade de uma vida digna nos seus mais variados espectros até o seu último instante”. (Bonis, M, 2017)
Por muitos anos da minha vida envelheci sem medo de envelhecer. Acredito que isso aconteceu por ter pouco conhecimento sobre o envelhecimento, de como nosso corpo se modifica, de como muitos se tornam dependentes fisica e emocionalmente, por não ter a noção do quanto amadurecemos e nos tornamos pessoas resilientes, por ter percebido que somos finitos não apenas quando ficamos velhos, mas em qualquer momento da vida.
Em 2021 com a pandemia da COVID-19 tive um despertar, um novo olhar para a minha vida pessoal e profissional. Sou Fisioterapeuta e o maior perfil de clientes que atendo são idosos, e naquele período percebi o quanto a pessoa idosa estava sendo preterida, desvalorizada por ser velha. Senti uma angústia muito grande e comecei a refletir sobre determinados tipos de comportamento para com a pessoa mais velha.
A falta de empatia, de compaixão, de cuidado, de amor ao próximo, a discriminação ficou muito evidente com essa parcela da população, o que para mim se tornou mais forte naquele momento. Então decidi me aprofundar mais sobre o envelhecimento, entender como o que acontece com o ser humano quando envelhece (fisica e psicologicamente) e a partir de então transformar a minha vida e o meu trabalho mais humano.
Em 2022 iniciei uma Pós em Gerontologia e concomitante a Pós iniciei um curso que falava das fragilidades da pessoa idosa no âmbito social. A junção desses estudos me fez abrir os olhos para uma infinidade de possibilidades sobre o envelhecimento, mas o maior despertar foi em relação ao trabalho e tratamento humanizado. O quanto isso se tornou essencial e base para meus atendimentos, o olhar que antes era físico, hoje é biopsicossocial; e ter essa percepção da integralidade do ser humano mudou a minha vida e minha atuação.
A população idosa cresce exponencialmente e, com ela, muitos desafios, e a forma que tenho em ajudar as pessoas nesse processo de envelhecimento é proporcionar qualidade de vida para que elas tenham o tripé que é a base da longevidade: autonomia, independência e funcionalidade. O objetivo da minha atuação não mudou, o que mudou foi a minha forma de atuação que através da escuta, do acolhimento, da empatia, transformou o atendimento, tornando-o mais humanizado.
Conhecer mais sobre o processo do envelhecimento me fez ter mudanças de hábitos, cuidar mais da minha saúde física e mental. Envelheço todos os dias, mas agora escolho de que forma quero envelhecer, de como desejo ter a minha velhice, mesmo sabendo de tantas perdas que irão me acometer. O medo não é mais de envelhecer e sim o que deixei de viver.
(*) Priscilla Viana e Almeida – Fisioterapeuta formada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Pós graduada em “Desvios do Desenvolvimento” pela faculdade Santo Amaro – SP; Pós Graduanda em Gerontologia pelo Albert Einstein (Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa). Trabalha no Instituto Bahiano de Reabilitação –Salvador –Bahia. Texto escrito no curso “Fragilidades: o envelhecimento sob a perspectiva da gerontologia social”, promovido pelo Espaço Longeviver/Portal do Envelhecimento, no segundo semestre de 2022. E-mail [email protected].
Foto destaque de Tima Miroshnichenko/pexels.