Como saber em quais informações sobre saúde confiar na internet?

Como saber em quais informações sobre saúde confiar na internet?

Veja dicas que podem te ajudar a selecionar informações na internet para suas dúvidas e também os resultados que encontramos em nosso estudo.

Gisele Garcia Zanca e colaboradores (*)


Ter acesso a informações sobre nossa própria condição de saúde é muito importante, pois permite que possamos participar mais de nosso autocuidado, ajudar a esclarecer dúvidas, conhecer e ter melhores resultados com os tratamentos. Porém, as informações só nos ajudam quando estão corretas, já que informações incorretas podem, muitas vezes, piorar nossa condição. Por isso, precisamos estar atentos à qualidade do que estamos lendo, principalmente quando buscamos na internet.

Entre as condições que mais causam diminuição da capacidade de realizar atividades entre pessoas com 50 anos ou mais, a dor nas costas e nas articulações (juntas) estão entre as mais comuns. A parte baixa das costas, na altura da barriga, é chamada de lombar e a dor nessa região, na grande maioria dos casos, não tem causa definida e não está relacionada a doenças graves. No caso das dores nas articulações, principalmente nas regiões da mão, do quadril e do joelho, uma das principais causas é a osteoartrite, também conhecida como artrose.

Considerando o quanto estas condições podem comprometer a qualidade de vida e a importância de obter informações corretas sobre essa condição, nossa equipe realizou uma pesquisa científica para investigar como estes temas são apresentados na internet, em sites brasileiros. Para isso, realizamos buscas na internet sobre dor lombar e osteoartrite e analisamos se os sites apresentam informações importantes, que podem ser consideradas pistas para ajudar o leitor a avaliar o quanto o conteúdo publicado é confiável. Ao todo, analisamos estas pistas em 106 sites encontrados em buscas realizadas no Google, que é a forma mais comum de buscas na internet.

Dicas

Veja a seguir as principais pistas que pesquisamos, com dicas que podem te ajudar a selecionar informações na internet para suas dúvidas e também os resultados que encontramos em nosso estudo.

1) Data de publicação ou atualização do conteúdo: Saber a data de publicação das informações nos mostra o quanto o site está atualizado. Principalmente na área da saúde, o conhecimento evolui rapidamente com as pesquisas científicas. Por isso, devemos nos preocupar em ler informações que foram publicadas ou atualizadas recentemente. Em nossa pesquisa, verificamos que mais de 40% dos sites não apresentavam a data em que o conteúdo foi disponibilizado, o que não permite que o leitor avalie sua atualidade e confie na informação.

2) Quem é o responsável pelo conteúdo publicado? Devemos verificar se o site mostra o nome, a profissão e onde trabalha ou estuda a pessoa responsável pelo conteúdo publicado. Assim, o leitor pode julgar o quanto irá acreditar nas informações que a pessoa está divulgando. Mais de 60% dos sites não apresentavam os nomes e outros dados dos autores dos textos avaliados em nossa pesquisa. Assim, os leitores não sabem quem são as pessoas por trás das informações publicadas.

3) Verificar se o site mostra de onde foram tiradas as informações publicadas. Isso geralmente aparece no final do texto, na forma de uma lista de “referências” ou “fontes”, apresentando os nomes dos livros, artigos publicados em jornais ou revistas, nos quais os profissionais se basearam para escrever o conteúdo. Quando sabemos de onde veio o conteúdo, podemos avaliar com mais clareza o quanto ele é confiável. A data das referências utilizadas também é importante. De que adianta uma publicação atual, mas baseada em informações sobre saúde que foram publicadas há muito tempo? Em nosso estudo, observamos que mais da metade dos textos não apresentava as fontes, mais uma vez, impedindo o leitor de avaliar a qualidade do conteúdo.

4) Buscar a quem pertence o site, se tem algum patrocinador e se tem algum potencial conflito de interesse. Conflito de interesse é o nome que damos quando alguém tem outro interesse ao divulgar o conteúdo além de informar. Estes interesses muitas vezes envolvem ganhos financeiros. Por exemplo, vamos pensar em um site que é patrocinado por uma empresa que vende um determinado tratamento. Ao ler um texto indicando este tratamento no site, devemos desconfiar da informação, pois pode existir um conflito de interesse. Ou seja, o tratamento pode estar sendo indicado não por ser realmente bom, mas sim porque o patrocinador do site irá lucrar com a venda do produto. É recomendado que os sites que publicam informações sobre saúde apresentem a chamada “declaração de conflito de interesse, patrocínio ou propriedade” de forma clara aos leitores. Isso faz parte da ética e transparência nas publicações. No entanto, em nosso estudo, esta declaração foi identificada em menos de 5% dos sites, o que é muito preocupante. Por este motivo, os leitores precisam ter atenção redobrada sobre este aspecto. Para te ajudar com isso, temos uma quinta dica, que vale principalmente para informações sobre tratamento.

5) Verifique se o site apresenta informações imparciais. Isso quer dizer que devemos desconfiar quando um site traz informações apenas sobre um único tratamento, mostrando apenas seus benefícios. Devemos buscar por informações que abordem os pontos positivos e negativos de diferentes tratamentos para nos informar melhor. Devemos desconfiar de tratamentos “milagrosos”.

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Assim, esteja atento a essas dicas e use a internet para aprender com segurança e cuidar da sua saúde da forma mais adequada.

Para mais informações sobre a pesquisa
MOURA, Josefina de Paula. Leiturabilidade e credibilidade de textos disponíveis na internet sobre desordens musculoesqueléticas prevalentes no envelhecimento. Dissertação (Mestrado em Ciência do Envelhecimento) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2022.

ZANCA, Gisele Garcia et al. Barreiras para o acesso a informações sobre dor lombar em textos publicados em páginas da internet. Revista Longeviver, n. 16, 2022. Disponível em: https://revistalongeviver.com.br/index.php/revistaportal/article/view/982/0

Referências das dicas apresentadas
CHARNOCK, Deborah; SHEPPERD, Sasha; NEEDHAM, Gill; GANN, Robert. DISCERN: an instrument for judging the quality of written consumer health information on treatment choices. Journal of Epidemiology and Community Health, v. 53, n. 2, p. 105, 1999.

SILBERG, William M.; LUNDBERG, George D.; MUSACCHIO, Robert A. Assessing, controlling, and assuring the quality of medical information on the Internet. JAMA, v. 277, n. 15, p. 1244–1245, 1997.

(*) Gisele Garcia Zanca (Departamento de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UNESP/Marília); Karina Gramani Say (Departamento de Gerontologia e Clínica da Dor da UFSCar); Sabrine Amaral Martins Townsend (Programa de Pós-Graduação em Letrasda Unisc/RS); Rodrigo Jorge Salles e Josefina de Paula Moura (Programa de Pós-Graduaçãoem Ciências do Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu); Kamille Coscione Oliveira, Larissa Santos Florêncio, Murilo Mateus de Amorim (Estudantes de Graduação em Fisioterapia da Universidade São Judas Tadeu).

O presente trabalho foi realizado com apoio do Itaú Viver Mais e do Portal do Envelhecimento. As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a visão do Itaú Viver Mais e do Portal do Envelhecimento.

Foto destaque: Pixabay

Saiba mais sobre esta pesquisa no dia 20 de outubro, quando o Portal do Envelhecimento e Itaú Viver Mais, junto a nove pesquisadoras, apresentarão os resultados do Edital Acadêmico 2021: envelhecer com futuro. o Seminário será online. Reserve essa data e horários. Nesse dia será lançado o Edital Acadêmico 2022!

Atualizado no dia 18/10/2022 às 11h47

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