Recomendações da ONU e algumas ponderações a partir dos altos índices de óbitos em idosos, ajudam a minimizar os impactos da pandemia nessa população.
No dia 01 de maio de 2020, a ONU – Organização das Nações Unidas publicou um relatório sobre os impactos que a COVID-19 tem causado nas pessoas idosas. Trata-se de um documento que apresenta análises e recomendações mundiais para toda uma população que vem enfrentando medo e sofrimento incalculáveis por ser mais velha. A abordagem feita pela ONU informa sobre os altos índices de óbitos em idosos, fazendo menção também aos casos de pessoas com 80 anos ou mais que têm uma mortalidade cinco vezes maior do que a mortalidade global.
Segundo os apontamentos da Organização, na medida em que o vírus se espalha por países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a sobrecarga no sistema de saúde pode elevar ainda mais os números de casos e de óbitos, que já são expressivamente significativos. Por essa razão, há um alerta sobre o maior risco de pobreza, de discriminação e de isolamento que a pandemia da COVID-19 vem causando, principalmente aos que vivem em países em desenvolvimento.
A realidade advinda da pandemia da COVID-19 fez com que as pessoas mais velhas, em uma grande maioria, começassem a pensar na morte muito mais, principalmente por conta da escassez de recursos, em especial com relação aos da área da saúde.
Igualmente, tornou-se bastante comum um grande temor sobre as situações de idosos que estejam em Instituições de Longa Permanência – ILPI´s, considerados ainda mais vulneráveis por serem estes locais considerados como grandes focos de disseminação e de contágio do novo coronavírus.
Em consideração a estas questões que se tornaram tão latentes, uma das recomendações da ONU é a conscientização de que as decisões em saúde devem respeitar os direitos humanos em condições de igualdade, a fim de que toda e qualquer dignidade humana seja e esteja amparada, independentemente da idade de quem delas precise.
É importante a compreensão a respeito do que traça o documento neste sentido, já que inexiste qualquer possibilidade de se pensar ou de se cogitar que, por ser velho, não haverá amparo à saúde, ou de que existirá um “descarte” de atenção para com os casos de quem venha a passar por uma complicação em situação em saúde e que já tenha uma idade elevada.
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Situações em saúde envolvem uma elegibilidade técnica em decorrência de uma urgência e de uma emergência, e não por conta da idade de quem precisa de amparo. Ainda que sejam incontáveis os casos de divulgação midiática em sentido contrário, não é a idade cronológica do sujeito doente que determina nada.
A ausência de recursos, amplamente divulgada em praticamente todos os meios de comunicação da atualidade, leva a conclusões precipitadas muitas vezes.
Cada caso é um caso e assim deve ser pensado, considerado e, a depender da situação, levado à apreciação judicial, a fim de que toda individualidade, dignidade humana e todas as responsabilidades por parte de todos os envolvidos em qualquer ordem de infringência ao que assegura a legislação vigente, estejam e sejam apreciados em condições de máxima igualdade.
Saúde mental em pauta
As doenças mentais também estão no centro das preocupações da ONU. O documento menciona a respeito das dificuldades reais que as pessoas mais velhas ainda têm para acessar as plataformas digitais de comunicação, o que pode acabar impactando em um isolamento ainda maior aos que estiverem nesta situação em uma época em que o recomendado é a ausência do contato físico
Por esta razão, a ONU salienta a importância dos esforços sociais para que as barreiras criadas pelo distanciamento físico e pelas dificuldades digitais sejam superadas. Aqui, salientamos a importância de se buscar contato com os mais velhos, seja por chamadas telefônicas (ainda mais acessíveis aos mais idosos), por vídeos ou por outras plataformas de comunicação (quando possível), por parte da família, de amigos e de conhecidos.
Na história da humanidade que coabita este mesmo século de existência nunca foi tão importante estar junto, ainda que não fisicamente, e jamais foi igualmente tão importante se pensar e se agir em conjunto, buscando alternativas pelo uso das tecnologias disponíveis, a fim de que a proximidade seja algo muito mais sentido do que visto e palpável.
Questão econômica
Outra questão que tem causado muita aflição e muitos questionamentos aos idosos, igualmente ponderada pela Organização Mundial, é a questão econômica, já que é relevante o número de pessoas mais velhas que recebe pensões do Governo ou que ainda precisa trabalhar, em sua maioria mulheres.
Todavia, ainda que seja uma realidade a depressão econômica que assola o mundo, de forma geral, levando à inevitável conclusão de que os que são pensionistas, aposentados e trabalhadores mais velhos também serão impactados negativamente em suas atividades econômicas, é importante salientar que os mais velhos, ainda que em meio à pandemia, continuam a ser os líderes que sempre foram, já que muitas das pessoas nestas condições continuam a prover as necessidades básicas de suas famílias, inexistindo qualquer motivo para que lhes sejam retiradas a voz e/ou o poder de ação e de expressão apenas porque são velhos.
Empatia social
Os idosos, ainda que mais vulneráveis à situação de saúde mundial, não devem ser tratados como invisíveis ou inúteis, sendo inegável, mais uma vez, por esta mesma razão, a necessidade de que a empatia social seja uma máxima, a fim de que haja uma maior preservação possível dos idosos, mas que ela não seja revestida de atitudes que retirem dos mais velhos a autonomia para as decisões que puderem ter e para as atividades que precisem exercer. É preciso compreender que a proteção não deve jamais se revestir de qualquer ordem de violação, transgressão ou supressão de direitos.
É preciso o afastamento de um cenário apto a levar a uma taxação coletiva, rasa e simplista, de que os mais velhos agem sem saber o que estão fazendo, já que o porquê de estarem fazendo é o grande motivador de seus atos e eles têm absoluta consciência disso, em um expressivo número de situações.
Violência
Questão ainda preocupante à ONU é a violência que os idosos vêm enfrentando por conta do isolamento social, seja por parte de seus cuidadores, de seus familiares ou de seus conhecidos próximos.
A ausência de contatos físicos constantes ou acessíveis com pessoas que estejam além das portas, pode levar a um elevado número de casos de violências, das mais variadas ordens, vivenciada diuturnamente por incontáveis idosos, mundo afora.
Todavia, é importante salientar que as denúncias podem e precisam continuar sendo feitas sempre que se tiver conhecimento de qualquer tipo delas, sob pena de, a depender do contexto, estar claramente configurada uma cumplicidade por parte de quem deveria fazer alguma coisa, mas prefere se manter calado.
Seja por denúncias telefônicas, como o DISQUE 100 – central que recebe denúncias anônimas, 24 horas/dia, por meio de discagem gratuita de qualquer telefone fixo ou móvel, decorrentes de situações das quais, aquele que aciona a central, sabe ou desconfia ser vítima de violência uma criança, um adolescente, um idoso, uma pessoa com deficiência, dentre outros – ou ainda pelos endereços eletrônicos de mensagens dos órgãos do Ministério Público. Vale lembrar que cada Estado disponibiliza em sua página uma central de comunicação para consulta e acesso. Em São Paulo há algumas informações no site do Ministério Público, por exemplo, por exemplo, os relatos de violências de que se tenha conhecimento precisam e devem ser feitos.
Desafios
A ONU relata que a pandemia da COVID-19 trouxe desafios sem precedentes para toda humanidade, mencionando sobre a importância de serem minimizados os riscos deles decorrentes, enfrentados pela população idosa.
Salientando que boa parte dos desafios e dos riscos não são atuais, por ser precária a proteção de direitos humanos e por serem negligenciadas as políticas públicos e os programas governamentais que tem como objeto central a proteção de direitos mínimos dos mais velhos desde muito tempo, espera-se que, no futuro, exista uma construção de uma sociedade mais inclusiva, sustentável e que seja, efetivamente, amiga dos idosos.
Assim, deseja-se, com os mesmos ideais perseguidos pela ONU, que a realidade vivida hoje, decorrente de uma consciência coletiva sobre os déficits, as desigualdades, as ausências de inclusão, as dificuldades em se ouvir quem precisa e sobre se saber acerca do que realmente pode sanar as necessidades, sejamos todos motivados a ressignificar o mundo e a melhorar o futuro que virá com ele, no qual boa parte de nós será igualmente idosa ou velha, a depender de como queira chamar.
Que a pandemia nos permita sermos amparados por uma empatia coletiva e impulsionados por um sentimento de projeção para com os próximos anos, dos quais todos nós pretendemos fazer parte.
Nestes próximos anos, num futuro não tão distante, que possamos caminhar juntos, construindo lado a lado o que é importante e bom para toda uma coletividade, sem distinções de qualquer natureza, a fim de que ninguém fique pelo caminho, num tempo no qual a realidade de hoje será apenas uma lembrança ruim e no qual as cidades serão todas amigas, dos idosos e de todos os seus.
Em tempo – nota da Redação Portal
No Brasil, acabou de ser criado o Projeto TelePSI, uma iniciativa do Ministério da Saúde que, em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19. Os trabalhadores que estiverem em sofrimento psíquico podem utilizar o canal 0800 644 6543. A ação conta com o apoio de diversas instituições acadêmicas e da sociedade, provendo métodos embasados em evidências científicas, a partir de pesquisa sobre a eficácia de diferentes modalidades de psicoterapia para problemas emocionais durante a pandemia. Para saber mais sobre as ações do MS frente ao contexto de crise no endereço https://coronavirus.saude.gov.br e http://aps.saude.gov.br/ape/corona .
Foto destaque: Philip Justin Mam/Pexels
Atualizado às 09h53