Cenário da Doença de Alzheimer: medicamentos, terapia, pesquisas com células-tronco e o entendimento das emoções

Sobre a Doença de Alzheimer, Drauzio Varella escreve: “Enquanto na linguagem popular a palavra demência tem a conotação de loucura, em medicina é usada com o significado de declínio adquirido, persistente, em múltiplos domínios das funções cognitivas e não cognitivas”.


“O declínio das funções cognitivas é caracterizado pela dificuldade progressiva em reter memórias recentes, adquirir novos conhecimentos, fazer cálculos numéricos e julgamentos de valor, manter-se alerta, expressar-se na linguagem adequada, manter a motivação e outras capacidades superiores. Perder funções não cognitivas significa apresentar distúrbios de comportamento que vão da apatia ao isolamento e à agressividade”.

De repente, a pessoa esquece pequenos objetos, conversas, pessoas. É o esquecimento de si, do outro e de todas as coisas. Com o tempo, esses esquecimentos se tornam mais frequentes e outras funções são comprometidas. Esses são os primeiros sinais do Alzheimer, uma doença que está se tornando cada vez mais comum.

De qualquer forma, a evolução da doença é assustadora. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a doença de Alzheimer afeta atualmente entre 24 e 37 milhões de pessoas. Esse número está crescendo a cada ano e, segundo estimativas da organização, pode chegar a 115 milhões de pessoas até 2050. No Brasil não existem dados precisos sobre quantas pessoas têm a doença, mas a OMS estima que seja algo em torno de um milhão.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, ou seja, que destrói os neurônios progressivamente. Essa degeneração começa no hipocampo, área que processa a memória, e com o tempo se espalha por outras regiões do cérebro.

O geriatra Paulo Canineu, professor da Faculdade de Medicina e do Pós em Gerontologia da PUC São Paulo explica: “Existem dois mecanismos por trás da doença: as placas beta-amiloides (também conhecidas como placas senis), que são formadas pelo depósito da proteína beta-amiloide no espaço existente entre os neurônios, e os emaranhados neurofibrilares, que são formados pela proteína tau, que se deposita no interior dos neurônios”.

Uma das questões mais difíceis da doença é o fato de que o início das alterações se dá de forma lenta e os primeiros sinais geralmente são confundidos com o próprio envelhecimento. Mas, conforme a doença avança, os sintomas se agravam: começam a surgir dificuldades de linguagem e motoras, problemas para reconhecer familiares ou amigos, alterações no sono e no comportamento, desorientação no tempo e no espaço. Nos estágios mais avançados, a pessoa tem dificuldade de executar as tarefas mais básicas, como tomar banho, vestir-se e alimentar-se.

Os problemas da idade avançada

Ainda não se sabe exatamente qual é a causa do Alzheimer, mas se conhecem alguns fatores de risco. E a idade é o maior deles. O mal geralmente afeta pessoas com 65 anos ou mais – atingindo menos de 0,5% das pessoas abaixo de 40 anos. Porém, a partir dos 65 anos, o risco de desenvolvê-lo praticamente duplica a cada cinco anos – ou seja, uma pessoa com 70 anos tem o dobro de chance de desenvolver a doença em relação a uma de 65, e assim em diante.

E o que fazer com o acelerado envelhecimento da população? Se viveremos mais com os avanços da medicina, necessariamente teremos a doença de Alzheimer? Difíceis perguntas para complexas respostas.

O psiquiatra Cássio Bottino, professor do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) adverte: “As doenças cardiovasculares podem aumentar o risco e também acelerar a progressão do Alzheimer”

Devemos considerar também que o risco também é mais alto em pessoas que têm história familiar da doença ou de outras demências: “Ainda não sabemos todos os mecanismos genéticos envolvidos, entretanto, quanto mais jovem a pessoa com a doença, maior é a ocorrência dela no seu contexto familiar”, explica o psiquiatra Jerson Laks, coordenador do Centro para Doença de Alzheimer e outros transtornos relacionados ao idoso e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Medicamentos e terapia

Fernanda Gouveia Paulino, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) diz: “Em caso de suspeita da doença, a busca por profissional qualificado que faça o diagnóstico é um determinante no seguimento do quadro e resposta aos tratamentos”.

Quanto a medicação, o psiquiatra Orestes Forlenza, professor pesquisador do Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) lembra: “Existem dois tipos de medicamento para tratar o problema, que podem ser usados juntos ou separados: os anticolinesterásicos, que repõem acetilcolina (mediador químico cerebral da memória e aprendizagem) e os antiglutamatérgicos (que diminuem a sobrecarga de cálcio, reduzindo a morte dos neurônios)”.

A ideia é combinar à terapia medicamentosa a tratamentos de reabilitação cognitiva, de atividade física e de orientação nutricional. Com os avanços no tratamento, hoje, alguém com a doença consegue viver de 15 a 18 anos com ela. “Muitos pacientes, se bem estimulados, têm excelente qualidade de vida, divertem-se, relacionam-se de maneira prazerosa e agradável e levam uma vida bem organizada”, afirma Paulino.

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A chave de tudo: as células-tronco

As células-tronco serão peças-chave para encontrar a cura da doença de Alzheimer. Quanto a isso o neurocientista Lawrence Goldstein, professor da Universidade da Califórnia em San Diego e um dos principais pesquisadores da área, não tem dúvidas.

Mas Goldstein não vê futuro em pesquisas que buscam desenvolver terapias de substituição dos neurônios defeituosos. Para ele, as células-tronco são, na verdade, ferramentas que permitirão compreender o que acontece de errado no cérebro e leva ao desenvolvimento da doença.

Com auxílio da tecnologia que permite criar células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês), o cientista desenvolveu um método que permite transformar células da pele de pacientes com Alzheimer em neurônios. O objetivo, agora, é estudar neurônios de portadores de uma forma hereditária da doença para descobrir quais são os processos bioquímicos alterados que poderiam ser manipulados – por meio de drogas ou métodos genéticos – a fim de reverter o problema.

De passagem por Campinas para participar do workshop “Advanced Topics in Genomics and Cell Biology” – organizado em maio pelo Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD) e pelo Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), com apoio da FAPESP –, Lawrence revelou à Agência FAPESP detalhes sobre os estudos em andamento que estão divulgados no site Aqui

A calma gera calma

Estudo recente de uma equipe da Universidade da Califórnia, em San Francisco (UCSF), assinala que pessoas com doença de Alzheimer e declínio mental tendem a imitar as emoções das pessoas ao seu redor. Esta transferência de emoções, conhecido como contágio emocional, é uma forma rudimentar de empatia, que permite às pessoas compartilhar e experimentar as emoções dos outros, comentou a pesquisadora Virginia Sturm, professora assistente no departamento de neurologia da UCSF.

Segundo ela, na doença de Alzheimer e outras demências algumas pessoas podem sentir muito mais forte as emoções de outras pessoas. Em outras palavras, como a capacidade cognitiva é prejudicada, há um aumento em outros processos emocionais. Isto significa que se os cuidadores estão ansiosos ou com raiva, os pacientes vão capturar e copiar essas emoções. Além disso, se o cuidador está calmo e alegre, os pacientes imitarão as emoções positivas.

Para a pesquisadora, “esta é uma maneira que as pessoas com Alzheimer encontram para se conectar com outras pessoas”. Portanto, cuidadores calmos e contentes ajudam muito a manter as pessoas com Alzheimer calmas e contentes.

Referências

BUENO, C. (2013). Casos de alzheimer têm crescido pelo mundo; saiba alguns mitos e verdades. Disponível Aqui. Acesso em 03/06/2013.

HEALTHDAY NEWS (2013). Los pacientes de Alzheimer imitan las emociones de las personas que les rodean, según un estúdio. Disponível Aqui. Acesso em 03/06/2013.

TOLEDO, K. (2013). Células-tronco são chave para entender Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 05/06/2013.

VARELLA, D. (2013). Doença de Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 05/06/2013.

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