Se queremos viver mais, há que se pagar um preço alto para tal façanha. Qual seria o objeto de desejo da maioria da população? Ser imortal como os Deuses até virarmos heróis na luta contra o tempo. O tempo, moeda de troca valiosa para vivermos mais.
Travamos diariamente uma batalha contra nossas fragilidades, especificamente as demências e dentre elas, a que mais amedronta: a doença de Alzheimer. Como, infelizmente ou felizmente, a imortalidade ainda está longe do paraíso vivente que a medicina pode nos oferecer, o mais conveniente, pelo menos por enquanto, talvez seja, fincar os pés no chão e acompanhar de olhos e ouvidos bem abertos as últimas pesquisas, tratamentos e alternativas divulgadas no circuito científico nacional e internacional. Segundo um estudo apresentado no mês de fevereiro de 2013 na cidade de Burgos, na Espanha, a doença de Alzheimer é o “preço” que os “Homo sapiens” devem pagar para que seus cérebros possam evoluir. O estudo, realizado pelo cientista do Centro Nacional de Pesquisa Humana Emiliano Bruner e pela neuropsiquiatra Heidi Jacobs, do Instituto Alemão de Neurociência de Jülich, foi publicado na revista Journal of Alzheimer’s Disease. Para Bruner, esse trabalho abre um novo campo de pesquisa sobre a doença, que até agora era associada aos danos celulares nas áreas temporais e frontais do cérebro. Bruner acredita que os danos causados nas áreas temporais e frontais, associados ao Alzheimer, não são a causa da doença, mas uma de suas consequências.
Ele considerou “lógico” que a seleção natural não tenha eliminado o Alzheimer, pois a doença surge sobretudo em idades avançadas, quando o indivíduo já não pode mais se reproduzir. Bruner insistiu que seu trabalho não busca uma cura para a doença, mas uma interpretação diferente que indica a necessidade do envolvimento de profissionais de várias disciplinas, inclusive aqueles que se dedicam aos estudos comparativos entre primatas humanos e não humanos.
O Poder do bilinguismo
Outra estudo recente realizado por pesquisadores canadenses demonstra que o cérebro das pessoas bilíngues estão mais protegidos do declínio cognitivo e podem ter retardado o aparecimento de doenças degenerativas. O estudo, “Bilinguismo: consequências para a mente e o cérebro”, publicado na revista médica “Trends in Cognitive Sciences”, indica que o envelhecimento das pessoas fluentes em dois idiomas é menos suscetível a doenças como o Alzheimer.
Os autores do estudo, pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de York (Canadá), esclarecem: “O bilinguismo tem um efeito leve entre os adultos, mas um impacto maior na velhice, um conceito conhecido como ‘reserva cognitiva’”. Outro estudo canadense divulgado em 2010 apontou que o bilinguismo pode ajudar a atrasar em até cinco anos a aparição dos sintomas do Alzheimer.
Demência versus custos elevados
Segundo pesquisa divulgada no mês de abril de 2013, a demência tem um custo anual superior ao do câncer ou das doenças do coração nos Estados Unidos, atingindo valores anuais que vão de US$ 157 bilhões a US$ 215 bilhões. Muitos dos custos derivam dos cuidados de longo prazo exigidos para as pessoas que sofrem de demência, e espera-se que os gastos dobrem em 2040 com o envelhecimento da população, advertiu o estudo feito pela organização sem fins lucrativos RAND Corporation, que publicado na edição de 4 de abril do New England Journal of Medicine.
Michael Hurd, autor principal do estudo e economista sênior da RAND, afirmou: “A carga econômica de cuidar de pessoas com demência nos Estados Unidos é cada vez maior. Nossas descobertas apontam a urgência dos recentes esforços federais para desenvolver um plano coordenado com a finalidade de resolver o impacto crescente da demência na sociedade
americana”.
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Segundo o estudo da New England Journal of Medicine, a demência afeta 15% das pessoas com idades acima de 70 anos e custa para a sociedade entre 41.000 e 56.000 dólares por pessoa anualmente.“Nossos cálculos sugerem que o envelhecimento da população americana resultará em um aumento de 80% em todos os custos sociais por adulto em 2040”, afirmou. “Nossas estimativas situam a demência entre as doenças com maior custo para a sociedade”, emendou.
Diagnóstico precoce, uma saída?
Um artigo publicado pela revista científica ‘Neurology’ aponta que o número de pessoas com Alzheimer deverá triplicar até 2050. Apesar de basear-se em parâmetros dos Estados Unidos, o estudo chama a atenção para a necessidade de aumento das pesquisas e das estratégias de prevenção da doença no mundo.
O estudo, realizado em Chicago, teve a participação de 10.800 voluntários com idades acima de 65 anos. Eles tiveram os riscos da doença monitorados a cada três anos. Os resultados foram cruzados com dados atuais de população e mortalidade dos Estados Unidos mostrando que, em 40 anos, a população com a doença pode chegar a 13,8 milhões, contra os 4,7 milhões em 2010. Para André Gustavo Lima, da Academia Brasileira de Neurologia, o principal cuidado para garantir a qualidade de vida de pacientes com Alzheimer é o diagnóstico precoce. “É difícil saber previamente quem vai desenvolver a doença ou não. Por isso, o importante é identificá-la o mais cedo possível. Nosso país deve se estruturar para dar suporte não só às pessoas com Alzheimer, mas à população idosa que está por vir”, diz Gustavo.
Romã, uma aliada
Pesquisa da Universidade de São Paulo constatou que a romã pode ser um forte aliado na prevenção do mal de Alzheimer. O motivo é o alto teor de substâncias antioxidantes presentes na casca da fruta. De acordo Maressa Morzelle, autora da pesquisa, os antioxidantes combatem os radicais livres que matam as células do corpo, provocando doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer. Maressa buscou alternativas para transformar o extrato em pó, tornando-o mais prático para o consumo.
Outra forma de detecção precoce da doença é o que sugere o resultado do estudo do Dr. Randall Bateman, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Segundo ele, formas hereditárias da doença de Alzheimer podem ser detectadas até 20 anos antes que surjam os problemas com a memória e com o raciocínio. O trabalho foi apresentado em Conferência
Internacional da Associação sobre Doença de Alzheimer, em Paris.
Os resultados confirmam e ampliam conhecimentos anteriores, obtidos do estudo das formas mais comuns da doença de Alzheimer, incluindo dados que sugerem que mudanças nos níveis de marcadores biológicos no fluido espinhal podem ser detectadas anos antes da demência. Os pesquisadores planejam começar os primeiros testes para essa avaliação já no ano que vem.
Exame de sangue no diagnóstico do Alzheimer
Pesquisadores dos Estados Unidos disseram que um exame de sangue simples pode ser capaz de diagnosticar o mal de Alzheimer, uma descoberta que pode ampliar a detecção da doença.
Outras equipes já haviam descoberto um diagnóstico precoce a partir do fluido vertebral, o que exige uma punção na coluna, procedimento que pode ser doloroso. Além disso, empresas especializadas em diagnóstico por imagem estão concluindo os testes de novos agentes capazes de tornar as placas (lesões) cerebrais visíveis em tomografias, um recurso disponível
apenas em centros especializados.
Um exame de sangue tornaria o diagnóstico muito mais simples, segundo Sid O’Bryant, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Texas Tech, em Lubbock. “Um exame sanguíneo abre acesso a todos. Qualquer clínica pode fazer isso. Até mesmo enfermeiras de cuidados domésticos podem fazer”, disse O’Bryant, cujas conclusões foram publicadas na revista “Archives of Neurology”.
Menos neurolépticos e mais apoio familiar
Um diagnóstico mais precoce, menos medicamentos neurolépticos e ajuda familiar com mais respaldo são as propostas de especialistas europeus reunidos em Paris para evocar o mal de Alzheimer e outras doenças degenerativas. Para diminuir estes tratamentos que podem ser nocivos para os pacientes, o projeto Alcove recomenda enfoques que deixam de lado a farmacologia e dão mais ênfase a um acompanhamento melhor do pessoal de ajuda familiar.
“Não há receita milagrosa”, admitiu Harriet Fine Soveri, médica finlandesa que coordenou os trabalhos do grupo dedicados à assistência para transtornos de comportamento. Consultada sobre os enfoques não farmacológicos, a médica afirmou que “tudo depende da situação”. “Se o transtorno está relacionado à dor, é preciso tratar a dor, se ao contrário se trata de uma perda de referências, é preciso educar os assistentes para avaliar as necessidades do paciente”, explicou.
Vacina, uma possibilidade real?
Uma vacina para o mal de Alzheimer pode ter sido encontrada. É o que afirmam cientistas espanhóis do Centro de Investigação Biomédica EuroEspes, liderados pelo médico Ramón Cacabelos, que disseram ter criado a primeira vacina preventiva e terapêutica eficaz contra o Alzheimer. A patente já foi obtida nos Estados Unidos para o futuro testes em seres humanos. A aplicação da EB-101 foi bem sucedida em animais transgênicos portadores das principais mutações genéticas responsáveis pela doença em seres humanos. Nos estudos, os especialistas conseguiram evitar que os animais desenvolvessem a patologia ao longo da vida e que foram reduzidos de forma “espetacular” os traços patogênicos que caracterizam o Alzheimer.
Segundo Cacabelos, agora basta esperar que os testes em humanos sejam
aprovados para que a vacina se torne uma realidade em um prazo de seis a 10 anos. De acordo com a equipe, com base nos experimentos feitos com ratos, a vacina poderia duplicar as esperanças de vida em pacientes con Alzheimer. Para os cientistas, porém, o fundamental é melhorar as condições e a dignidade dos pacientes que sofrem com a doença. Entre 25 e 30 milhões de pessoas têm Alzheimer no mundo.
Tecnologia, uma aliada
Uma moradora de Belfast, na Irlanda, afirma ter encontrado com a ajuda de usuários de Twitter sua mãe, que sofre do mal de Alzheimer e havia desaparecido, segundo informações da “BBC”. A idosa foi encontrada a 12 quilômetros de onde mora, na cidade de Lisburn. Diane Mehaffey saiu para passear com seus cães por volta das 9h da manhã na última quarta- feira (3). À tarde, a sua filha, Joanne, voltou para casa e não a encontrou. Ela tentou ligar para o celular de Diane, mas não havia sinal na rede.
Joanne diz que resolveu então usar o computador para tentar encontrar a mãe. Ela publicou um apelo no Twitter e no Facebook, com a foto da mãe desaparecida. “Essa é minha mãe e ela está desaparecida. Ajude a trazê-la de volta para casa em segurança”, escreveu no post, que foi retuitado mais de cem vezes.”Eu sabia que o Twitter é uma ferramenta poderosa. Eu só precisava que uma pessoa a visse. E foi o que aconteceu”, contou à “BBC”.
Alternativas criativas
O Fantástico foi até a Holanda para mostrar uma cidadezinha que se parece com qualquer outra. Mas que mantém um segredo muito bem guardado dos próprios moradores. No salão de beleza, duas senhoras capricham no visual. Querem ficar bonitas para o encontro no clube cultural, onde é o dia de música clássica.
Enquanto isso, muitos moradores aproveitam para dar um pulo até o mercado, para fazer as compras do almoço. Alguns preferem comer no conforto do restaurante. E outros curtem apenas um simples chá, no bar.O que parece a descrição do dia-a-dia de uma pacata vila holandesa é, na verdade, a revelação de um segredo médico. Os bastidores de um revolucionário sistema de tratamento para um dos mais terríveis males que afetam o cérebro: a demência.
Mas que ninguém se engane: nesta comunidade, quem não é paciente, é profissional da área da saúde. Quem chega meio desavisado pode até achar que está numa vila qualquer, num bairro comum. E é exatamente essa a proposta deste lar para pacientes psiquiátricos em Weesp, na periferia de Amsterdam, no interior da Holanda.Lá os pacientes se sentem em casa. E os médicos, enfermeiros, os assistentes sociais, agem como se fossem comerciantes ou trabalhadores dos vários estabelecimentos ou ainda simplesmente vizinhos.
Alternativas criativas são sempre bem-vindas e importantes para se lidar com uma doença como o Alzheimer. Lembramos que a Revista Portal de Divulgação (Disponível Aqui) divulgou artigo em março de 2012 que aborda outra iniciativa semelhante a essa da Holanda: “Hospital alemão ajuda pacientes com Alzheimer utilizando paradas de ônibus fantasmas. Esta estratégia não farmacológica é simples e criativa, mas pensada e estudada com responsabilidade. Pode e deve ser considerada no enfrentamento de problemas, aparentemente, sem solução”.
Referências
ESTADAO (2013). Bilíngues tem mais chances de retardar o surgimento do Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 14/04/2013.
UOL (2013). Com ajuda do Twitter, irlandesa diz ter achado mãe com Alzheimer desaparecida. Disponível Aqui. Acesso em 04/04/2013.
AFP (2013). Demência custa mais caro do que o câncer nos Estados Unidos. Disponível Aqui. Acesso em 04/04/2013.
NET10 (2013). Especialistas europeus propõem melhor assistência a doentes com Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 31/ 03/2013.
G1.GLOBO (2013). Pacientes com Alzheimer levam vida normal em vila de tratamento. Disponível Aqui. Acesso em 15/03/2013.
UOL (2013). Cientistas dizem que Alzheimer faz parte do processo evolutivo do homem. Disponível Aqui. Acesso em 02/03/2013.
FOLHA DE S.PAULO (2013). Exame de sangue pode detectar Alzheimer, diz estudo. Disponível Aqui. Acesso em 18/02/2013.
O DIA (2013). Estudo prevê mais casos de Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 18/02/2013.
DIÁRIO DA SAÚDE (2013). Alzheimer genético pode ser detectado 20 anos antes dos sintomas. Disponível Aqui. Acesso em 18/02/2013.
OPERA MUNDI (2013). Cientistas espanhóis dizem ter criado primeira vacina contra Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 18/02/2013.