Carta denúncia: O que será de nossas vidas quando dependermos da alma humana de terceiros?

Venho relatar minha total indignação para com o ser humano. Meu nome é Madrilena Starling e na manhã de 25 de Agosto de 2012, o meu avô Ruy da Silva Starling, 79 anos, um homem independente, saudável, que vai e vem onde bem quer, digno, consciente, veio a ser vítima e destaque de uma série de descaso e falta de humanidade para com sua pessoa.

Madrilena Starling *

 

Meu avô na data citada, tinha uma Ressonância Magnética agendada para as 12:15 h com uso de contraste na clínica INRAD na região da área hospitalar. Como procedimento, ainda mais se tratando de um paciente idoso, não poderia submeter-se ao exame sem acompanhante e muito menos sair imediatamente da clinica logo após, pois pode haver reações adversas causadas pela substância do procedimento. Ele foi submetido ao exame conforme agendado, mas também foi liberado imediatamente após o término do exame para que saísse da clinica sem qualquer acompanhante, não dando tempo a nós familiares de chegarmos para acompanhá-lo o tempo necessário de observação (geralmente é de pelo menos 3 a 4 horas) e de levá-lo para casa em segurança.

A clínica INRAD era até então considerada umas das melhores clinicas na área de diagnóstico por imagem, mas provou que não tem profissionalismo e muito menos zela pela vida humana, que é o seu objeto de trabalho, uma vez que não poderiam tê-lo liberado sozinho, dando assim, início a uma série de danos a nossa vida e principalmente a meu avô de forma definitiva.

Saindo da clínica sozinho, estando zonzo e faminto devido ao jejum necessário, meu avô foi para casa da sua irmã no bairro Santa Terezinha para recuperar um pouco, antes de ir para casa, pois moramos em Contagem, na região metropolitana de BH.

Pouco antes de 16h ele tomou o ônibus da linha 3503 (Santa Terezinha/ São Gabriel) rumo ao centro da cidade para de lá tomar o ônibus para casa. Dentro do ônibus a falta de atenção e de respeito para com os idosos é total, vemos todos os dias maus tratos, desrespeitos e intolerância para com os mesmos… Meu avô entrou no coletivo sentou-se ao lado do motorista e em frente ao agente de bordo (cobrador) nos bancos reservados na parte dianteira, isso pouco antes de 16hs da tarde, a irmã dele nos contatou comunicando que ele havia acabado de entrar no ônibus rumo a nossa casa, só que lá ele não chegou.

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Entramos em total desespero quando já quase as 18h ele não havia aparecido, por volta de 19h começamos a ligar para conhecidos e parentes para saber do seu paradeiro, as 20h começamos a ligar para SAMU, resgate, policia militar, Civil, pronto socorro, as 21h começamos a percorrer hospitais da região central e até IML rezando a Deus para que o achássemos e que estivesse bem e em segurança. Por volta das 22:45 recebemos uma ligação de um Guarda municipal, avisando que meu avô acabara de ser deixado pelo motorista da linha 3503 na porta da UPA do Santa Terezinha, ou seja, quase 7 horas depois de sua entrada no ônibus, onde, em torno de 5 vezes foi de um ponto final ao outro.

O motorista e o cobrador não tiveram a mínima dignidade de lembrar, pelo menos olhar para o meu avô que estava sentado ao lado deles e questionar se ele não desceria do ônibus na 1º vez que chegou ao São Gabriel, como os mesmos estavam deixando serviço e recolheriam o ônibus para a garagem não sendo possível largá-lo lá, resolveram 7 horas depois, questionar se não desceria, neste momento ele não tinha mais lucidez, não sabia quem era, onde estava e mal falava, ele foi vítima de um AVC (ranking 5) de grande proporção, onde devido a demora de socorro , ou, onde eu e meus familiares entendemos omissão de socorro, ele teve metade do cérebro do lado esquerdo perdido, levando-o a uma paralisia total do lado direito do corpo, impedindo que ele deambule, fale e seja o mesmo homem independente e normal que sempre foi.

Na UPA do bairro Santa Terezinha (região Pampulha) quando chegamos pensávamos encontrar meu avô em atendimento dentro do posto médico, pois haviam dito que ele estava lá e que já estava liberado. Para nossa surpresa ele estava sentado do lado de fora, no banco da garagem da UPA sem qualquer atendimento, quando tentamos erguê-lo ele já não andava mais, e nem falava nada, estava com a face caída, sem nenhuma reação que demonstrasse conhecimento de sua pessoa ou de outros, isso já quase 23:15 da noite, muitas horas se passaram sem que meu avô tivesse o mínimo e o devido cuidado necessário.

Faz 16 dias que estamos dentro do hospital Odilon Berens lutando pela vida dele e que ele possa viver com o mínimo de dignidade e com o máximo de carinho e atenção que podemos dar a ele, rezando com fé em Deus que possamos levá-lo para casa. Hoje 13/09/2012 meu avô está em cima de uma cama, sem falar, paralisado, precisando do uso de fraldas, se alimentando por sonda – por não ter mais a condição de deglutir, com total dependência para tudo, graças ao descaso e falta de humanidade das pessoas que não se lembraram de que ele é ser humano. Se o tivessem socorrido a tempo o AVC não teria tomado tamanha proporção e as consequências seriam mínimas, o estrago causado seria bem menor e ele estaria seguindo a vida normalmente e nós familiares também.

Quero deixar aqui minha indignação para que tais absurdos não venham a acontecer com outros, que devido à omissão de socorro que não passem pelo que estamos passando, que não tenham que passar pelo sofrimento, dor, angústia, revolta e indignação que estamos tendo neste momento. Que alguma atitude seja tomada em pró da vida, que não sejamos largados a própria sorte dentro dos transportes públicos de Belo Horizonte e de lugar nenhum, que as UPA´s se preocupem em atender a todos que lá estão e não só aqueles que tenham condição de preencher ficha de atendimento, que os guardas municipais tenham o mínimo de treinamento e instrução para repassar a aqueles que precisam de atendimento, afinal estão lá para zelar por nós e não apenas como fiscal de praça, portão ou portaria dos postos de saúde e hospitais.

Muitas coisas poderiam ter sido evitadas se preocupássemos mais com o próximo e não só com o próprio umbigo, isso está custando à vida do meu avô e quem Sá a vida de outros que neste momento não podem expressar esse sentimento de revolta e abandono que estamos sentindo. Algo tem que ser feito para termos segurança para pegarmos um coletivo e sermos socorridos se preciso for, sermos atendidos em clinicas e UPA sem maiores danos e termos a certeza que vão zelar pela nossa saúde e nossa vida além da integridade física. Que tenhamos guardas municipais para zelar pela vida humana e patrimônios e não os cofres públicos gastarem milhões colocando-os para cuidar de portarias e portões.

Repassem esta denúncia, para quem sabe conseguirmos que alguma vida seja salva ou que impeça que mais alguém sofra por um ente querido abandonado em transportes coletivos ou clinicas médicas públicas e privadas.

“Meu Deus, onde iremos parar se nem mais valorizam a vida e a dignidade humana do próximo?”

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