Segundo o médico Saul Almeida da Silva, quanto mais cedo for possível instaurar o tratamento, maior será a chance do paciente se recuperar bem e sem sequelas do AVC
Recentemente, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo registrou um aumento de 20% nos casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o levantamento, foi possível observar 219,4 mil atendimentos ambulatoriais e internações neste ano, enquanto, em 2022, o número ficou em 182,4 mil.
Saul Almeida da Silva, diretor da Emergência Neurológica do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), explica que a incidência de casos é maior em períodos frios — principalmente entre os meses de maio e agosto — em decorrência do processo de vasoconstrição realizado pelo corpo humano. “Esse recurso apresenta-se como uma redução do tamanho das artérias para permitir que o sangue fique mais concentrado na parte central do corpo e menos na periferia, fazendo com que mais calor seja retido”, detalha Silva.
Apesar de contribuir com a manutenção do corpo quente por mais tempo, o processo causa um aumento na pressão arterial, que tem como consequência direta o crescimento da incidência de AVC e de infarto do miocárdio nesse período.
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Perfil
O professor analisa ainda que, neste ano, em particular, observou-se um aumento maior das ocorrências, sendo necessário analisar os motivos para evitar que esse avanço continue. Apesar do aumento dos casos, ainda é possível identificar os principais grupos de risco e as formas de evitar a ocorrência do derrame. “Em geral, 80% dos AVCs apresentam causas preveníveis e modificáveis, e apenas 20% deles apresentam uma incidência relacionada à idade ou a uma predisposição genética”, explica o médico.
Os fatores de risco estão associados a doenças sistêmicas, como a pressão alta, o diabetes, o colesterol alto, o tabagismo, o abuso de álcool e drogas, o sedentarismo, a obesidade e os altos níveis de estresses — sendo todos eles fatores de risco modificáveis que podem sofrer com atuações para evitar o risco de AVC.
Atualmente, também se nota que os homens apresentam maior disposição para a ocorrência desses casos — fator que pode ter suas raízes em questões hormonais ou na maior exposição aos fatores de risco. Sendo importante destacar que é a partir dos 50 anos que os casos se tornam ainda mais frequentes.
Sinais
Perceber a ocorrência do AVC o mais rápido possível é essencial para o tratamento, uma vez que o atendimento rápido faz a diferença na grande maioria dos casos. Por esse motivo, o cuidado com os sinais da doença deve ser primordial.
O especialista avalia que a ocorrência do Acidente Vascular Cerebral pode ocorrer tanto por oclusão como por ruptura. Fatores que demandam um atendimento rápido, já que quanto antes for possível instaurar o tratamento, maior é a chance do paciente se recuperar bem e sem sequelas. Por isso, é importante que a população, como um todo, possa memorizar o mnemônico “SAMU”.
A letra “S” representa o sorriso do indivíduo que deve ser observado, já que é comum que haja a ocorrência de paralisia na face nesses casos. O “A” representa o abraço que pode ser pedido para o paciente, já que é comum a perda de movimento de um dos lados do corpo. O “M” representa a palavra música, sendo interessante pedir para que o sujeito cante para avaliar a dificuldade em falar ou repetir algo. Assim, ao identificar uma dessas três situações, é necessário lembrar da letra “U”, que representa a urgência em encaminhar o paciente o mais rápido possível para o devido tratamento.
Encaminhamento rápido
Ao chegar no pronto socorro, o paciente é encaminhado para a realização de uma tomografia de crânio, que identifica se há sangramento ou oclusão. Silva relata que, em 80% dos casos, é possível observar o entupimento das veias — sendo possível realizar o tratamento por meio de medicações (remédio trombolítico) ou pela remoção do coágulo (trombectomia).
São procedimentos que devem ser instaurados poucas horas após a identificação dos sintomas, já que, com o tempo, as células do cérebro começam a morrer por falta de circulação sanguínea, nutrientes e oxigênio. Por fim, o médico reforça que a prevenção é o melhor remédio para evitar maiores consequências, sendo necessário avaliar a presença de sintomas e apresentar visitas constantes ao médico.
Ilustração: Blausen Medical Communications, Inc. via Wikimedia Commons / CC BY 3.0
Fonte: Jornal da USP no Ar 1ª edição