As Velhices Atuais São Melhores

Quem diria que um dia falaríamos que os idosos brasileiros “estão mais ativos, produtivos e ajudam a movimentar a economia do País”! Sinal dos novos tempos, é o que afirma, no seu estudo, a jornalista Léa Maria Reis, do Rio de Janeiro. Para ela o tempo em que as “vovós” ficavam em casa fazendo crochê enquanto os “vovôs” jogavam dominó ou batiam papo nos bancos das praças ficou para trás. A autora narra em seu livro Novos Velhos que A população está envelhecendo melhor nas últimas décadas e os velhos ainda colaboram no orçamento familiar.

as-velhices-atuais-sao-melhoresMas apesar dos progressos, ela constata que a mídia ainda trata do assunto superficialmente, abusando de imagens clichês de velhos malhando loucamente e exibindo corpos sarados, outros se aventurando pelos esportes radicais, alguns dançando salsa com jovens atraentes, e uma grande maioria com seus netinhos navegando na internet ou fazendo plásticas. Parece que transitamos pelos extremos. E pensando nisto, a jornalista lembra uma questão muito discutida atualmente, um futuro de velhos: O envelhecimento da população brasileira, em médio prazo, será um imenso problema sócio-político-econômico para o País se não for analisado e atacado hoje.

Surpresa com os resultados da pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que revelam que os idosos, de modo geral, auxiliam mais os jovens, do ponto de vista financeiro, que o contrário. Nas classes populares, com as suas pensões (quase sempre da mulher, da avó ou bisavó) e nas classes médias, ajudam na manutenção de planos de saúde de netos, noras, e nos estudos e viagens das crianças, adolescentes e jovens adultos.

Inclusive em matéria recente, comentou-se sobre filhos que retiram seus pais dos lares, se apropriam das suas pensões, se intitulam cuidadores e acabam por abandoná-los a própria sorte. Lamentável pensar que casos como estes existam e, pior, sejam tão frequentes.

A voz de uma entrevistada do livro diz que Podem criar novos projetos de vida ativa porque tem maior chance de longevidade e procuram qualidade de vida. Esses novos velhos votam, representam, consomem (muito), agem, participam, circulam e produzem. Por isso, o mercado de consumo e os políticos estão de olho neste novo segmento. Uma geração atrás, esses indivíduos estavam retirando-se para os seus aposentos, de pijama, chinelos, em casa, vendo novela e TV o dia inteiro.

Em outras palavras, depois da aposentaria existe muita vida para ser vivida e desfrutada com todos os seus prós e contras do percurso. É isso, de fato, muitos anos que devem ser trabalhados visando novos projetos, novas formas de se ver e se relacionar com o outro. Os anos passam e as transformações vão acontecendo, não há como ser o mesmo de ontem. Somos o que somos, hoje. Já o amanhã, só saberemos quando o dia clarear.

Bem, embora a pesquisa de Reis tenha demonstrado um novo perfil do idoso brasileiro, há diferenças entre estes homens e mulheres que envelhecem. Ela explica que os homens velhos, em geral, são mais passivos e deprimidos. As mulheres, mais enérgicas e participantes.
Para Léa, são resultados benéficos para elas e ecos dos movimentos feministas do passado. Já, falando em sexualidade, os homens idosos são mais ativos e contam com os estímulos médicos. As mulheres têm mais vergonha do corpo, do físico decadente e temem o olhar do parceiro para ele. Reticentes, pouco falam sobre o assunto.

Talvez o movimento feminista que tanto proclamou a liberdade tenha esquecido algo básico: a dificuldade de olhar o próprio corpo e enfrentar a famosa “lei da gravidade” e das transformações inerentes a nossa vontade.

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Voltando para a modernidade tecnológica, a jornalista lembra que no mundo do aperta-botão-e-passa-cartão e da dependência de senhas, ainda há velhos que se confundem e se mostram nervosos com as inovações que regem nossa vida hoje. Mas a maior parte deles se esforça para entrar no universo da tecnologia. Ela complementa: Entendem que deste conhecimento vai depender sua autoestima e sua força. E são muitos os que usam a tecnologia da informática para se comunicarem e não se sentirem sós, para se informarem e se divertirem.

As mudanças e avanços no processo de envelhecimento da população são claros, mas ainda sofremos por uma questão crucial: a sociedade das grandes cidades brasileiras ainda não mostra respeito pelos mais velhos. Há muito que caminhar, diz a jornalista. A responsabilidade pelo idoso em primeiro lugar é do próprio indivíduo, em segundo, é da família e da sociedade e e em terceiro é dever do estado. A sociedade que acolhe devidamente sua população envelhecida – assim como suas crianças – pode ser chamada de realmente civilizada.

A jornalista insiste na necessidade urgente de elaboração de políticas sociais fortes focadas no envelhecimento da população nas áreas da saúde, da assistência social e na revisão das aposentadorias. Sem providências enérgicas em relação ao envelhecimento acelerado, se colocará uma complicada escolha para os governos: investir em educação para as crianças ou investir em bem-estar para os velhos. Não haverá dinheiro para investimento nas duas pontas. E isto começa a ocorrer já, aqui e lá fora, diz Reis.

Segundo a jornalista, Acho que estamos envelhecendo bem melhor que há uma, duas gerações. Mas há ainda muito a fazer na área da saúde, da assistência e, em especial, nos reajustes das magras aposentadorias do INSS e na reformulação paralela de muitas das gordas aposentadorias do funcionalismo público.

Inspiração

O livro “Novos Velhos” é resultado do primeiro curso que a jornalista ministrou na Casa do Saber do Rio de Janeiro, no verão de 2010, sobre o mesmo assunto. O curso teve uma nova edição no verão de 2011 e os dois acabaram sendo a inspiração para fazer o livro, que levou um ano. A jornalista ouviu idosos de ambos os sexos, com 70 anos em média, moradores de várias regiões do Rio de Janeiro e pertencentes à classes socioeconômicas diversas. A grande maioria dos entrevistados exerce alguma atividade profissional e auxiliam de vários modos a família, inclusive financeiramente.

A jornalista Léa Maria Reis publicou outros três volumes nos últimos dez anos – Maturidade, Além da idade do lobo e Cada um envelhece como quer (e como pode) – os quais também serviram de base para o “Novos Velhos”, editado pelo Grupo Editorial Record / Editora Record.

Referências

RIBEIRO, R. (2011). Idosos estão envelhecendo melhor. Disponível Aqui. Acesso em 10/12/2011.

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