Finalmente um alerta contra a terapia do antienvelhecimento, agora na mira do Conselho Federal de Medicina (CFM). Para quem ainda tem dúvidas, a matéria de 19/10/2013 do Jornal A Folha de S.Paulo, reportagem de Johanna Nublat, esclarece: “A indicação e a divulgação do uso de hormônios e outras substâncias com o objetivo de prevenir ou reverter o envelhecimento passa a ser uma prática vedada a médicos, determina uma resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina), que já havia sido publicada como recomendação em agosto e agora tem força de lei para médicos”.
Então, vocês podem perguntar: Em que situações a reposição hormonal é permitida? O texto afirma que o uso só poderia ser feito “quando houver um déficit comprovado da substância e nos casos de o benefício dessa reposição ser cientificamente provado ou de haver um nexo causal entre a doença e a falta do hormônio”. O que quer dizer que “fica proibido indicar doses extra de hormônios para pacientes que têm níveis normais da substância”.
Com isso o CFM adota uma medida clara de entendimento do uso permitido ou não, tanto para o paciente quando para o profissional da área da saúde.
Alerta geral às substâncias
Segundo a matéria do jornal, “o texto também proíbe a prescrição de vitaminas, antioxidantes e dos chamados hormônios bioidênticos (com estrutura igual à do hormônio natural) com o apelo do antienvelhecimento”. A justificativa dada pelo CFM é a total ausência de evidência científica que respalde essas terapias. Gerson Zafalon, relator da resolução afirma: “Não se pode vender uma ilusão. E uma ilusão que custa caro”.
Diríamos que a ilusão custa, muitas vezes, uma vida. O médico que não cumprir a norma fica sujeito a punições que vão da censura reservada à cassação. O CFM ainda prepara nova resolução para regular a prática ortomolecular.
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Outra prática também condenada “é a de aumentar o nível hormonal para além do considerado normal para a faixa etária com o objetivo de aumentar a massa muscular”, conta Silvia Pereira, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. A médica explica que “a sobrecarga no corpo pelas práticas agora proibidas, pode desencadear problemas como diabetes, hipertensão, distúrbios do sono e câncer”.
Paciente: não mais um “super-homem”
Apesar de fazer algumas ressalvas ao texto, o presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento, Wilmar Jorge Accursio, elogia o fim das promessas de transformar o paciente num “super-homem”. Accursio defende a indicação de hormônios só quando há deficiência. E diz que não há nada contra o hormônio “bioidêntico”; o problema, segundo ele, é o discurso de que ele é inofensivo.
Autora do livro “Segredos do Antienvelhecimento” (Ed. Livre Expressão, 165 páginas), a médica Luciana Aun afirma que a prática é mal compreendida até por causa do nome. “Não é uma coisa feita para estética, por motivos banais. É para prevenir as doenças da velhice”.
Segundo a cirurgiã, é preciso mesmo limitar o uso de hormônios. No entanto, afirma que a resolução do CFM foi feita com base em pareceres dos médicos geriatras, que, para ela, estão atacando algo que “não conhecem bem”. “Médicos sérios estão sofrendo com isso”.
Pegando esse “gancho” da prevenção, trazemos para reflexão reportagem de Rosana Faria de Freitas de 14/10/2013, matéria da UOL, que pergunta: “Você investe em prevenção e pensa no futuro em relação à sua saúde?”.
Prevenção: a chave do enigma?
A endocrinologista Claudia Chang, doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP), explica que existem dois tipos de prevenção:
Primária: seria a intervenção antes que se tenha determinada doença (por exemplo, indivíduos com elevação da glicose no sangue que fazem exercício e se alimentam bem para não desenvolver diabetes); e
Secundária: que ocorre após o diagnóstico (o diabetes já está detectado: então o paciente obedece ao controle adequado para evitar complicações).
A médica afirma que “ambas são essenciais para evitar o mal, ou, no caso de ele já existir, conter sua evolução e minimizar os sintomas”.
Tendo como base sua prática médica, a Dra. Chang acredita que as pessoas se preocupam mais com a prevenção, pensando no futuro: “Elas realizam exames de rotina mais cedo e com maior frequência. Tal comportamento também tem sido observado nas agências regulatórias de saúde, tanto a nível público como privado. Mas é claro que ainda há um longo caminho a percorrer”, apesar de saber que ainda há um grande número de indivíduos só procura o médico quando tem algum sintoma.
Cassio Trevizani, ortopedista e médico do esporte, considera que a prevenção permite maior chance de bons resultados no tratamento de doenças crônicas como diabetes, alzheimer e artrose: “Isso sem falar no custo menor: é mais barato prevenir a remediar. As pessoas se antecipam no caso de distúrbios graves como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e doenças cancerígenas. Mas se esquecem de que também dá para prevenir artrose, tendinite e outros problemas ortopédicos”.
A importância dos exames
Paulo Camiz, geriatra e professor de Clínica Geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP alerta: “Vários exames fazem o rastreamento que permitirá indicar o tratamento certo. O serviço de emergência de todos os hospitais, públicos e privados, está sempre lotado – e muitos problemas lá encontrados poderiam ser prevenidos ou resolvidos no consultório. A própria formação médica nesse sentido é deficiente: na faculdade, treina-se muito mais atendimentos de emergência do que ambulatoriais”.
A reportagem de Nublat ainda traz um tema preocupante no setor ginecológico: “Pesquisa feita no início deste ano, e publicada na revista da Associação Médica Americana, mostrou que a incidência de câncer de mama avançado em mulheres de 25 a 39 anos – mais jovens, portanto – aumentou nos últimos 30 anos nos Estados Unidos”.
O ginecologista Augusto Bussab, especializado em reprodução humana ressalta: “Na minha área, prevenir significa tratar e curar um câncer diagnosticado precocemente. Ou detectar uma infecção que, se não cuidada, levaria a problemas mais sérios, como infertilidade ou mesmo câncer”.
A palavra final
A Dra. Chang finaliza alertando os leitores para a importância em se fazer exames de rotina, como os ginecológicos para as mulheres e os de acompanhamento urológico para os homens acima de 45 anos – ou antes, caso apresentem fatores de risco: “Também é fundamental fazer acompanhamento regular com um médico, pois tudo – investigação clínica, pedido de exames, tratamentos – partirá daí”, afirma a médica.
Referências
FREITAS, R.F. (2013). Você se cuida o suficiente para ter uma velhice saudável? Descubra. Disponível Aqui. Acesso em 24/10/2013.
NUBLAT, J. (2013). Práticas do antienvelhecimento são vetadas pelo Conselho Federal de Medicina. Disponível Aqui. Acesso em 25/08/2013.