Múltiplos pontos os unem. Um dos mais importantes, o profundo amor pela natureza, pelos pássaros de Cunha, pela riqueza dessa bela região do interior de São Paulo. Renate e Árpád se conheceram via internet. Ele na Holanda, ela no Brasil. A conexão se formou, inexoravelmente. Apaixonados por viagens, ele veio ao Brasil, ela foi à Holanda. E assim vivem, o astral de Renate e de Árpád unidos sob as bênçãos da alegria pura e simples de estarem juntos.
Guilherme Salgado Rocha / Fotos: Arquivo pessoal de Renate Emilie Esslinger
Portal – Por favor, alguns dados essenciais. Nome completo e onde nasceram, por exemplo.
Renate – Meu nome é Renate Emilie Esslinger, nasci em 1958, no Paraná. Fiz o segundo grau no Brasil, e depois o curso técnico de tradutora intérprete na cidade de Hamburgo, Alemanha.
Árpád – O meu nome é Árpád László Cserép, assim mesmo, com diversos acentos, o que faz diferença em húngaro. Nasci em 1947, na Áustria, onde vivi dez anos. Depois, dividi minha vida entre a Alemanha e a Holanda. Tenho cidadania holandesa. Meus pais moravam em um campo de refugiados. Quando fugiram da Hungria, minha mãe estava grávida de mim, e então nasci na Áustria. Tenho, do mesmo modo que a Renate, o segundo grau.
Portal – Vocês se conheceram pela internet, não? Contem um pouco dessa história…
Renate – Nós nos conhecemos quando eu tentava entender o programa ICQ. Ele acabou me ajudando. Conversa vai, conversa vem, descobrimos muitas coisas em comum em nossa história familiar e de vida. Acabamos trocando e-mails, cartas – sim, cartas mesmo – e papeando ao vivo na internet.
Árpád – A curiosidade foi aumentando. Eu mesmo sugeri vir ao Brasil para conhecê-la. Isso era final de 1998. A partir de então passamos a nos ver regularmente, uma vez por ano no Brasil, uma vez por ano na Holanda. Em 2002 a Renate foi morar comigo em uma pequena cidade da Holanda.
Portal – Ambos têm filhos?
Renate – Tenho dois filhos maravilhosos que residem em Campinas.
Árpád – E eu tenho um filho que vive na Holanda e uma filha que hoje reside no México, após passar dois anos em São Paulo.
Portal – Por que se fixaram em Cunha?
Árpád – Escolhemos Cunha porque aqui a família da Renate tem uma chácara há mais de 20 anos. A loucura da cidade grande nenhum de nós curte. A chácara em Cunha é um perfeito paraíso. Chegamos em outubro de 2009.
Portal – O que fazem na cidade?
Renate – Somos aposentados, e nos dedicamos a fotografar, a levar cultura para a população local da cidade e da zona rural, a lançar campanhas que consideramos importantes. Quase todos nos conhecem como “aqueles que andam com as máquinas por aí, tirando fotos”. Quando há procura, dou aula de inglês e alemão.
Portal – Há um tema central nas fotografias?
Árpád – Nosso maior prazer é fotografar os reinos animal e vegetal que nos rodeiam, ou seja, toda a região de Cunha. E viagens. Já lançamos três exposições. No Museu da Imagem e do Som de Campinas expusemos fotos da Índia e de Mianmar. A exposição se intitulou “Mianmar e Índia pela lente de dois mochileiros”. As imagens estão em https://miscampinas.com.br/evento_51-mianmar_e_India_pela_lente_de_2_mochileiros.htm. Em seguida, houve a exposição “Cunha em Foto & Arte”, na qual expusemos fotografias tiradas na área urbana e rural de Cunha, além de trabalhos de dois artistas hoje residentes em Berlim. Pessoalmente, recebemos mais de 900 alunos da rede pública.
Renate – E a terceira foi “Pássaros da Mata Atlântica”, na qual, em parceria com a Prefeitura e o Núcleo Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar, apresentamos fotografias de pássaros da Mata Atlântica, em conjunto com pinturas de uma artista local e seus alunos, além de desenhos de alunos da Escola Municipal Professor Benedito Aguiar Santana. O link é https://www.bocaina.org.br/acontece/menu-principal-eventos/402-exposicao-passaros-da-mata-atlantica-pesm-nucleo-cunha-estrada-do-paraibuna-km-20-05-agosto-a-08-setembro-2011.
Portal – Além disso, pelo que disseram, o Árpád adora filmar…
Árpád – Sim, já produzi dois filmes. O primeiro foi “O Último dos Moicanos”, singela homenagem à olaria artesanal de Cunha, selecionado para a fase estadual do Mapa Cultural Paulista 2011/2012.
Renate – Esse filme poderá ser visto no MIS de São Paulo, no dia 1º de junho próximo. Durante as filmagens, Árpád fez diversas fotos, e uma delas deu a ele o prêmio Talentos da Maturidade 2010. A foto foi intitulada “Enraizado” (https://www.talentosdamaturidade.com.br/balaton).
Portal – Há um segundo filme.
Árpád – Chama-se “Cunha, a Festa do Divino 2011”, que retrata uma das mais significativas festas tradicionais de Cunha, a Festa do Divino Espírito Santo. O filme concentra-se na novena e no dia da festa. Agora, no dia 20 de maio, a população de Cunha poderá reviver a emoção da grande festa na tela do cinema da cidade.
Portal – Além desse amor pela cidade e pela cultural local, há a alegria de viajarem juntos.
Renate – Ambos temos espírito mochileiro, e dessa forma já conhecemos diversos países. Gastamos bem menos, pois pernoitamos em albergues da juventude, alojamentos para mochileiros e pousadas mais simples.
Árpád – Todas as viagens que fizemos as consideramos diferentes, pois quase nunca bancamos os turistas tradicionais. Geralmente nos misturamos à população nativa, pegando a condução que as pessoas usam, comendo o que comem, percorrendo, além dos pontos turísticos, os lugares frequentados pelas pessoas do lugar.
Renate – Não costumamos nos isolar, e sempre que possível nos juntamos ao povo, nos afastando de grupos turísticos.
Portal – Alguma viagem especial?
Renate – Nossa viagem ao Egito foi muito emocionante. Viajamos uma semana ao longo do rio Nilo, conhecendo diversas maravilhas quando o barco atracava. Aliás, uma das poucas viagens em que tivemos de seguir um guia e conviver com outros turistas. O Egito não permitia que turistas viajassem desacompanhados. No entanto, por último, deixamos o barco e seguimos de trem para o Cairo. Tanta história antiga, tantas belezas!
Árpád – Muito diferente foi certamente nossa passagem pela Índia em 2008. Mais de dois meses em um país de enormes contrastes, de diversas religiões. No verão, aproximadamente 45 graus à sombra. Visitamos basicamente a região do Rajastão. Passamos por várias cidades, pelo deserto, andamos no lombo de camelo, de trem, de ônibus – juro que nunca mais -, de carona na cabine de um caminhão – nunca mais também.
Renate – Convivemos com budistas, islamitas, hindus… Mumbai e Nova Deli são duas cidades que fazem nossa grande São Paulo parecer uma pacata cidade. Por onde andamos, o típico odor de uma Índia carente de infraestrutura.
Portal – Renate, como se sente em relação à idade?
Renate – A idade é uma questão de números. Minha idade, uma questão de postura. Sou uma mulher adulta em eterna fase de crescimento. Crescimento cultural e espiritual. Tenho a curiosidade de quem está em desenvolvimento, tenho imenso prazer em dividir experiências pelas quais passei. Acho extremamente importante não nos isolarmos e, sem dúvida, prezo demais a liberdade à qual hoje tenho direito mais do que nunca. Gosto de superlativos. No mais, trabalho quando quero, lanço ou cancelo projetos quando acho conveniente, posso ser séria ou brincar, sempre respeito a minha própria pessoa. Criei dois filhos, trabalhei muito, e hoje tenho o que preciso para ser feliz, especialmente um parceiro que divide comigo a alegria de viver.
Portal – Vocês estão lançando uma campanha em favor do meio ambiente. Como é?
Árpád – A campanha “Canto sem Fronteira” foi lançada há poucos dias. A ideia veio por causa de nosso contato direto com aves em nosso jardim. Criamos um vídeo com fotos e filmes nossos, o qual está na internet em português, alemão e holandês. Em breve teremos o vídeo em outros idiomas. Em Cunha, o filme será exibido em escolas das redes pública e particular, da zona urbana e da rural. Pretendemos esclarecer pais e alunos a respeito da captura, comercialização e apreensão de aves silvestres.
Renate – Uma campanha para todas as idades, para todas as classes, para os cinco continentes. Os pássaros são mantidos em gaiolas em todos os lugares do mundo. O tráfico de animais silvestres movimenta altas somas de dinheiro sujo. Foram confeccionadas camisetas com as fotos e o lema da campanha: “Pássaro em liberdade, canto sem fronteira”.
Árpád – As camisetas serão vendidas ao público em geral. Dependendo das vendas, sortearemos camisetas entre os alunos da rede pública. Sem dúvida, uma campanha de longa duração, nada de curto prazo. Informar e esclarecer, os objetivos maiores.
Renate – Contamos com o público para divulgar a campanha. O Portal do Envelhecimento, com esta entrevista, certamente adere à campanha. Todos podem nos ajudar. Basta clicar no link Aqui e recomendar o vídeo aos amigos e familiares. A questão é levantar a bandeira em sua cidade, na escola, no bairro, na sua igreja. Nossa meta é somar.