Alzheimer – uma doença difícil que exige e merece atenção

Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em maio/2012, os casos de demência, uma síndrome provocada principalmente pela Doença de Alzheimer, poderá dobrar até 2030 e mais que triplicar até 2050 e atingir 115,4 milhões de pessoas no mundo.


Este é o primeiro relatório dedicado à demência. Não seria diferente se pensarmos que um novo caso da doença é detectado no mundo a cada 4 segundos. Em 2050, a previsão é de um novo caso a cada segundo.

Os números assustam e, pior, denunciam um cenário atual alarmante: cerca de 35,6 milhões de pessoas no mundo sofrem de demência, uma síndrome provocada por diversas doenças do cérebro que afetam a memória, o raciocínio, o comportamento e a aptidão para realizar tarefas cotidianas.

Marc Wortmann, diretor da ONG ADI (Alzheimer Desease International) durante uma entrevista coletiva em Genebra desabafou: “Temos que agir, nós devemos parar com essa epidemia”. Tais palavras se devem ao fato de que a Doença de Alzheimer é a causa mais comum da demência, podendo representar 70% dos casos.

Custos elevados

Na visão dos especialistas os custos anuais para tratamento da doença chegam a 304 bilhões de dólares. Este valor prevê os gastos com saúde e assistência social bem como a redução ou perda de salário dos doentes e dos profissionais da área.

Segundo estudos existem registros da doença em todos os países, entretanto a maior incidência, 58%, ocorre nos países mais pobres ou em desenvolvimento. Esta proporção pode ser superior a 70% em 2050 diante do aumento da taxa de envelhecimento da população de países como China, Índia e Brasil, afirmou o diretor do departamento de doença mental e abuso de substâncias psicoativas da OMS, Shekhar Saxena.

Para Saxena “É um grito de alerta” aos países mais pobres para criação de políticas nacionais para enfrentar a doença. Nos países mais pobres e em desenvolvimento, normalmente os casos são abordados quando a demência já está em estado avançado. Atualmente a demência não tem cura, mas alguns tratamentos permitem retardar o avanço da doença.

No relatório, a OMS recomenda às autoridades sanitárias a adoção de programas focados principalmente para reduzir a estigmatização da doença, melhoraria na qualidade dos tratamentos, criação de condições para melhorar o diagnóstico da demência e a formação dos profissionais para identificar precocemente a doença.

Diagnóstico Precoce

Cientistas alemães da Universidade de Leipzig desenvolveram um novo método de diagnóstico para a Demência de Alzheimer que permite identificar a doença anos antes de o paciente apresentar os primeiros sintomas. O procedimento foi apresentado no 50º Congresso da Sociedade Alemã de Medicina Nuclear, realizado na cidade de Bremen, no norte do país, por um grupo de cientistas dirigidos pelo especialista Osama Sabri, Diretor da Clínica e Policlínica de Medicina Nuclear da Universidade de Leipzig.

Duas substâncias floram desenvolvidas com o objetivo de reconhecer alterações do tecido cerebral no qual são depositadas determinadas proteínas muito antes de o paciente apresentar os primeiros sintomas de perda de memória. Os depósitos de proteínas, as chamadas placas beta-amiloides, se produzem no cérebro pelo menos dez anos antes do surgimento dos primeiros sintomas da doença, assinalou a equipe da Universidade de Leipzig, no leste da Alemanha.

Um novo produto farmacêutico de baixa radiação permite reconhecer essas placas com uma tomografia especial de emissões de positrons, segundo o estudo de Sabri, que espera lançar sua criação ao mercado ainda neste ano: “Uma significativa melhoria do diagnóstico da Doença de Alzheimer”, afirma o especialista.

Benefícios

O procedimento desenvolvido permite não só reconhecer de maneira muito precoce a doença, mas também diferenciá-la de outras formas de demência, assim como controlar o desenvolvimento da Doença de Alzheimer em pacientes e comprovar se o tratamento consegue frear a degeneração cerebral.

Sabri e equipe realizam atualmente um estudo com uma segunda substância em 20 pacientes que sofrem da demência em sua fase inicial para reconhecer alterações de determinados receptores no cérebro provocadas pela mesma proteína. Ele assinala que “Os novos procedimentos melhoram o atendimento ao paciente”, mas reconhece que segue sem existir um tratamento adequado para enfrentar a Doença de Alzheimer.

Segundo os organizadores do congresso, o novo método de diagnóstico é importante do ponto de vista científico, mas fornece pouco ao paciente, uma vez que não existe um tratamento efetivo para lutar contra a doença. Eles acrescentam que, embora permita reconhecer as citadas proteínas, não serve para saber se a doença se desenvolverá posteriormente, nem a que idade isso aconteceria.

Aqui no Brasil, foi publicado no Jornal Folha de S.Paulo, de 02/06/2012, matéria intitulada “Um exame para o mal de Alzheimer” sobre um exame diagnóstico em radiologia que poderia identificar precocemente a doença de Alzheimer. Infelizmente, a matéria traz como título equivocadamente a expressão “mal de Alzheimer”, embora o nome correto seja “doença de Alzheimer”. Volta e meia nos deparamos com títulos desse tipo e em todos eles fazemos as devidas críticas a alguns meios de comunicação, como a Folha de S.Paulo, que continuam equivocadamente a chamá-la de “mal” de Alzheimer, cuja referência, sem dúvida, é mais forte e sensacionalista, como já assinalou a pesquisadora Maria da Graça Bernardes e Silva, no artigo “A Doença de Alzheimer: controvérsias, velhice e esquecimento na mídia impressa”, publicado na revista Kairós (V.11(2), dez. 2008, pp. 141-158). A doença foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome. No Código Internacional de Doenças (CID) ela recebe o nome Doença de Alzheimer, CID G30. Portanto, não leva a palavra “mal” como muitos profissionais da saúde o fazem, certamente orientandos pelo manual de redação que rege o veículo para o qual trabalham.

Acreditamos que está na hora da Folha de S.Paulo, importante meio de divulgação científica, mudar seu manual, a fim de continuar prestando um bom serviço à sociedade.

Estes estudos pertencem aos médicos Bradford Dickerson e David Wolk, na “Neurology” de maio.

Eles relatam ter identificado, pela imagem de ressonância magnética, marcadores precoces do estágio pré-clínico da doença. O exame usa sinais de campo magnético convertidos em imagens topográficas e não expõe o paciente às radiações da radiografia tradicional.

Método

Os autores mediram nove importantes áreas do cérebro relacionadas a funções cognitivas, como memória e linguagem, que são precocemente afetadas pelo alzheimer. E consideraram a medida da espessura cortical como um biomarcador possivelmente capaz de detectar a doença na fase pré-clínica.

O estudo incluiu 159 pessoas, com média de 76 anos, sem sinais de Alzheimer. Dessas, 19 foram classificadas como de alto risco para a fase pré-clínica da doença; 116 apresentaram risco médio e 24, baixo risco.

Os adultos considerados normais (sem sinais da doença), mas que apresentaram espessura do córtex cerebral menor na ressonância, passaram a apresentar sintomas de declínio cognitivo após três anos. Esse achado permitiu considerar a possibilidade de a espessura cortical ser considerada marcador precoce para a doença de Alzheimer.

Desconhecimento

Parece estranho para muitos, mas um estudo realizado recentemente por especialistas King’s College de Londres e do Karolinska Institutet, da Suécia, a pedido da organização Alzheimer’s Disease International, mostra que 75% dos portadores da doença de Alzheimer não sabem que sofrem da doença e que o diagnóstico demora, em média, três anos.

Muito pior que o desconhecimento é saber que mesmo após a divulgação da notícia, apenas 20% dos pacientes aderiram ao tratamento. Em 2010, um levantamento feito pela Academia Brasileira de Neurologia revelou que a demora no diagnóstico correto e no acesso aos remédios adequados dificulta o tratamento.

O que se encontra frequentemente é a constatação de que a Doença de Alzheimer costuma ser detectada num estágio avançado. Isto porque os familiares confundem a perda de memória resultante da demência com a que acontece naturalmente com a idade.

Os profissionais envolvidos no diagnóstico são neurologistas, psiquiatras e geriatras. Quanto mais precoce for a detecção, melhor será a resposta aos medicamentos e mais lenta será a evolução da doença. Nas fases moderada e grave, a doença costuma se manifestar por alterações no comportamento e perda da memória num ritmo mais acelerado.

Entre os principais sinais iniciais da doença de Alzheimer, estão a perda da memória recente; dificuldade de lembrar o nome de pessoas ou objetos; dificuldade de expressão; apatia, depressão ou alterações no comportamento; e dificuldade de localização espacial e temporal.

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11 palavras-chave para entender a Doença de Alzheimer

Segundo a especialista Marga Nieto, psicóloga especializada em geriatria, o entendimento da Doença de Alzheimer pode ser facilitado quando se conhece as palavras ou conceitos básicos com os quais se explica a demência. Para isso ela compartilha com os leitores um glossário de 11 palavras-chave para entender a doença.

  1. Neurônio: a unidade básica que compõe o sistema nervoso. A sua função é a de transmitir impulsos nervosos.
  2. Neurotransmissor: é uma substância química que transmite a informação para as diferentes áreas do sistema nervoso. Exerce controle sobre os neurônios.
  3. Acetilcolina: um neurotransmissor que regula a capacidade de registrar informações, arquivamento e recuperação, no momento que precisamos. Quando o sistema que regula a acetilcolina é afetado, surgem problemas de memória. Na demência de Alzheimer há um déficit deste neurotransmissor.
  4. Sinapses nervosas: São os pontos onde as extremidades de neurônios vizinhos se encontram e o estímulo (impulso nervoso) passa de um neurônio para o seguinte por meio de mediadores químicos, os neurotransmissores.
  5. Delírio: ideia falsa, absurdo e irracional que o indivíduo tem de si mesmo ou de seu entorno. Não pode ser contestada com argumentos lógicos, estas ideias são consideradas verdadeiras pelo indivíduo.
  6. A síndrome confusional aguda: Se caracteriza pela lentidão, baixo nível de alerta, desorientação e sonolência.
  7. Desorientação: Deterioração da consciência do tempo, lugar e posição do individuo em relação a outras pessoas.
  8. Alucinação: É uma percepção sensorial falsa, já que não existe um estímulo externo real. As alucinações podem ser visuais, auditivas, táteis, olfativas e gustativas.
  9. Lóbulo frontal: Algumas de suas funções são: o controle de impulsos, juízo, linguagem, memória funcional (nos permite trabalhar e acessar a memória de curto prazo), socialização, etc.
  10. Agnosia: Consiste na deterioração da capacidade para reconhecer ou identificar objetos, apesar de manterem a função sensorial intacta. É a perda da capacidade de reconhecer objetos, pessoas, sons, formas.
  11. Ansiedade: É um sentimento de medo, desassossego, preocupação por causas que nem sempre se conhecem. Muitas vezes vem acompanhada de sintomas físicos como taquicardia, respiração rápida, tontura, cefaleia, etc.

Vacinação?

A Doença de Alzheimer é uma das doenças que mais recebe recursos para pesquisas. Uma das últimas indica como possível solução uma vacina, CAD106, já testada na Suécia. Segundo estudo do Instituto sueco Karolinska, publicado no periódico médico Lancet Neurology, a vacina conseguiu fortalecer o sistema imunológico, levando o próprio organismo a destruir as proteínas causadoras da doença. A matéria “Vacina contra Alzheimer é bem sucedida em testes clínicos”, publicada na revista Veja em 7 de junho, cita que há dez anos, quando se realizou os primeiros estudos de vacinação – que ativavam determinadas células brancas do sangue (células-T) – em humanos, os efeitos adversos foram muitos, uma vez que começaram a atacar o próprio tecido cerebral e por isso a pesquisa havia sido encerrada.

No entanto, o novo estudo, que envolve imunização ativa, usa um tipo de vacina desenvolvida para acionar o sistema de defesa do organismo contra os beta-amiloides e não mais o tecido cerebral. O artigo assinala que os pesquisadores descobriram nos últimos três anos de estudo que 80% dos pacientes desenvolveram seus próprios anticorpos contra o beta-amiloide, sem sofrer quaisquer efeitos adversos. Com estes resultados os cientistas apostam que a vacina CAD106 pode se tornar um tratamento tolerável para pacientes com Alzheimer nos níveis leve ao moderado. No entanto muita cautela, pois para se testar a eficácia da vacina, outros testes, com um número bem maior de pessoas com demência, devem ser realizados.

Óleo de peixe?

Uma recente pesquisa rastreou a saúde de pessoas que consumiam óleos de peixe ao longo de três anos e meio e concluiu até o momento que consumir óleo de peixe e outros suplementos ricos em ômega-3 para evitar a demência pode ser uma perda de tempo. De acordo com os pesquisadores que integram o Cochrane Reviews, um coletivo de profissionais da área médica de diferentes países que analisa temas diversos sobre cuidados de saúde, esses suplementos não oferecem mais proteção do que analgésicos. O coletivo analisou três estudos sobre o tema, que envolveram 3.500 pessoas. A análise foi publicada na revista especializada National Academy of Sciences. Mas especialistas afirmam ser necessário realizar mais pesquisas para se alcançar resultados mais conclusivos.

Criatividade e sensibilização

O trabalho das agências de publicidade é digno de admiração. Não só pela criatividade, mas principalmente pela sensibilidade em tratar questões delicadas que merecem atenção por parte da sociedade em geral.

É o caso do trabalho desenvolvido pela agência “Jon Von Matt”, da Alemanha. Ela criou uma ação de marketing direto criativa e eficiente a custo quase zero para a “The Alzheimer’s Society Baden-Württemberg”, instituição que combate a “doença do esquecimento”.

A agência mandou 9000 cartas sem selo pedindo doações. Como os correios devolvem todas que estão nestas condições, a grande “sacada” foi colocar o endereço do destinatário no campo do remetente para o público-alvo receber a suposta carta que ele “enviou” há alguns dias.

Como as pessoas não lembram de ter feito isto, elas experimentam por alguns minutos como um paciente que sofre de Alzheimer se sente. O conteúdo da carta explica o procedimento e incentiva a doação.

A instituição conseguiu doações de 35% das pessoas que receberam a carta e a ação foi premiada com Bronze no “Clio Awrads” e entrou no short list de Cannes.

A campanha “Regala Memoria”, criada em 2009 pela associação espanhola AFAL que luta para ajudar pessoas que sofrem de Alzheimer, assim como seus familiares, também é muito interessante, pois é grane o impacto que ela tem sobre as pessoas abordadas e por quem assiste ao vídeo (veja abaixo). Pessoas são paradas na rua por outras desconhecidas perguntando se elas não lembram delas, recebendo um não como resposta. Ao final é entregue um cartão dizendo que é assim que as pessoas com demência se sentem.

Enfim, iniciativas como essas mostram que publicidade se sustenta de boas ideias para gerar resultado, independente da mídia utilizada. Boas ideias devem ser copiadas, mas antes de tudo, aprendidas, na acepção da palavra.

Referências

ABRAMCZYK, J. (2012). Um exame para o mal de Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 02/06/2012.

ESTADAO (2012). Novo diagnóstico precoce é desenvolvido para prevenir Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 01/05/2012.

NIETO, M. (2012). 11 palabras para entender qué es el Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 23/05/2012.

O GLOBO (2012). 75% dos portadores de Alzheimer desconhecem a doença. Disponível Aqui. Acesso em 27/05/2012.

RFI (2012). A cada 4 segundos aparece um caso de demência no mundo, diz OMS. Disponível Aqui. Acesso em 25/05/2012.

ROBERTS, Michelle. Óleo de peixe não ajuda a prevenir demência. Disponível Aqui. Acesso em 13/06/2012.

VEJA. Vacina contra Alzheimer é bem sucedida em testes clínicos. Disponível Aqui. Acesso em 07/06/2012.

VÍDEO (2012). Cartas contra Alzheimer. Disponível Aqui. Acesso em 14/05/2012.

VÍDEO (2009). Campaña “Regala Memoria”. Disponível Aqui

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