Estudos apontam benefícios à saúde física e mental das pessoas idosas na relação com animais que vivem em ILPIs.
Marta Cristina da Silva, Wellington Lourenço Oliveira e Thais Bento Lima da Silva (*)
As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) demandam profissionais com conhecimentos específicos em gerontologia, com o objetivo de atender às necessidades de saúde, bem-estar e qualidade de vida dos residentes. Além dessas demandas, é fundamental compreender as preferências individuais dos residentes para que o cuidado seja centrado na pessoa.
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Pois, muitas vezes, quando o idoso passa a residir em uma ILPI deseja ter o seu animal, o qual possui vínculo, por perto. A presença do animal em uma ILPI pode se aproximar de um ambiente semelhante à casa em que residia e manter a identidade da pessoa idosa.
Estudos apontam benefícios à saúde física e mental dos idosos na relação com animais. Porém, o companheirismo animal gera maior exposição ao animal, comparado às esporádicas intervenções assistidas por animais. É possível que isso esteja associado a maior apoio emocional e social, motivação para mobilidade e riscos reduzidos para doenças.
Experiência canadense
A presença controlada de animais de companhia em ILPIs é uma abordagem adotada por instituições localizadas em Calgary, Canadá, que segue o formato de “vila”, oferecendo desde moradia independente até cuidados de longa duração. Neste tipo de instituição, os residentes têm a liberdade para decorar os apartamentos e, em alguns casos, podem corresidir com seus animais de estimação, desde que sejam autônomos. São permitidos animais, desde que as vacinas estejam atualizadas e que sejam acompanhados por seus donos na instituição.

Imagem: print do site da United Active Living
Os residentes circulam com seus animais, com frequência cães de pequeno porte, pelas áreas coletivas da instituição, exceto onde alimentos ou bebidas são servidos. De acordo com as regras da instituição, os animais devem ser mantidos em guias. No local se observa um bom convívio entre os animais, seus donos, os demais idosos, visitantes e funcionários. Os residentes percorrem todo o ambiente com seus animais de companhia, possibilitando interações espontâneas e frequentes entre o animal e todos ao seu redor. Essa interação promove um ambiente de felicidade e alegria mútua, além de bem-estar psicológico e atividade física ao tutor do animal.
Em relação ao regulamento para a corresidência de animais, o residente é responsável por todos os cuidados com o seu animal, a saber: alimentação regular, higiene e limpeza. É estabelecido também que o animal deve ser treinado para realizar suas necessidades em local apropriado, estar em boa saúde, com aprovação veterinária e documentação comprobatória. Portanto, a autorização de corresidência de animais requer a assinatura de um termo de responsabilidade e o pagamento de uma taxa única.
Destaca-se que um envelhecimento saudável depende de ambientes físicos favoráveis em que as pessoas idosas possam se engajar ativamente, mantendo um estilo de vida significativo. Ao promoverem identidade, autoestima e pertencimento, esses ambientes contribuem para a preservação da autonomia e do bem-estar dos residentes. As ILPIs desempenham um papel essencial no incentivo ao desenvolvimento contínuo das capacidades dos idosos, assegurando sua qualidade de vida.
A experiência na ILPI canadense demonstra que a corresidência com animais é possível, desde que com organização, infraestrutura e controle sanitário adequados. Essa prática tem potencial para contribuir para o bem-estar de pessoas idosas em ILPIs, uma vez que atende às suas preferências e vontades. Em ILPIs brasileiras, a corresidência com animais de estimação é uma alternativa promissora para promover o bem-estar dos idosos em ILPIs, desde que bem planejada. A criação de um ambiente favorável e o incentivo à autonomia das pessoas idosas são essenciais para melhorar a qualidade do cuidado.
Referências
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(*) Marta Cristina da Silva –Fisioterapeuta (1996) e Educadora Física (1992), atualmente participa do programa de pós-graduação em Gerontologia (aluna especial) na EACH/USP. Especializou-se em “O Aparelho Locomotor no Esporte” pela UNIFESP e possui pós-graduação em Saúde Coletiva com ênfase em Saúde da Família pela Universidade Nove de Julho. Com mais de 20 anos de experiência na área da Gerontologia em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) de São Paulo, atuou como fisioterapeuta e coordenadora assistencial. Além disso, possui experiência no atendimento fisioterapêutico a ex-atletas em fase de aposentadoria.Em 2019 e 2023, realizou visitas técnicas em instituições de Long Term Care em Alberta, Canadá. E-mail: [email protected].
Wellington Lourenço Oliveira – Psicólogo e Professor Universitário. Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Possui experiências em centro-dia para idosos, núcleo de convivência para idosos, e núcleo de proteção jurídico-social e apoio psicológico. E-mail: [email protected]
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
Foto de Dom Bucci/pexels.
