A morte pode esperar se você tem um bom motivo para seguir vivo

A morte pode esperar se você tem um bom motivo para seguir vivo

O filme trata do reencontro entre pai e filho, a interação entre avô e neto, e a morte.


O que motiva Rory MacNeil (Brian Cox) a seguir vivo no filme Antes de Partir é para nos dar o gostinho ao seu arquirrival Alister Campbell de mijar sobre o seu túmulo porque, quem for primeiro, com certeza receberá a urina do outro. Eles são os últimos representantes na ilha de suas respectivas famílias, porém se encontram muito debilitados, cuja morte está à espreita. Campbell precisaria de transplante de fígado e rins, MacNeil sequer sabe o motivo pelo qual anda caindo de boca no chão.

Na pequena cidade de Vallassay, na ilha de Hebridean, não há muito o que fazer além de um mergulho no mar (Rory faz isso diariamente, pelado), estocar lenha, pastorar ovelhas, tomar uísque no único pub da vila e se meter em confusão. Rory também se distrai esculpindo madeira com um canivete que passa de geração em geração, mas que foi recusado pelo filho, quebrando a corrente.

Não há médico na cidade, por isso são tratados por um veterinário. E é ele quem aconselha Rory: se quer viver mais que seu rival, viaje para uma cidade grande para se tratar. O filho de Rory, Ian, vive em São Francisco. O pai, a contragosto, embarca numa jornada onde encontrará melhores motivos para seguir vivendo. Ian pensa que o pai vem para vê-lo. A nora, Emily, imagina que seja para conhecer o neto, Jamie, de poucos meses. Mas Rory sequer sabe da existência do neto, pois não lê as mensagens enviadas pelo filho, com o qual segue brigado por não ser um verdadeiro homem como ele.

Filmes escoceses, de maneira geral, exploram as belas paisagens de suas ilhas que são de encher os olhos. Este, no entanto, dá só uma panorâmica, mostra com maior aproximação os penhascos de giz, e o que destaca mesmo são as ladeiras da bela São Francisco, sua famosa ponte, seu bondinho…, mas o pouco que mostra da ilha já é suficiente para justificar a presença de turistas no pub, fazendo selfies enquanto entornam cerveja e o melhor uísque do mundo. Aliás, como bom irlandês, Rory viaja com uma mala cheia de garrafas que bebe como água.

O filme, então, é esse reencontro entre pai e filho (que se reconciliam, mas bem no final, depois de muitas patadas); a descoberta do neto (Rory jura fazer dele um verdadeiro MacNeil); e um romance inesperado com uma bela mulher. Trata-se de uma tragicomédia, logo, prepare-se para as falas machistas de Rory, um homem do campo, grosso, que nunca pediu desculpas a uma mulher, (mas acaba pedindo). A arenga com o rival, Campbell, aparece várias vezes na história e, desta, ele sai vitorioso, seu adversário vai antes para a cova, pois sem o rival por perto para brigar perde o motivo de viver.

Embora seu câncer se encontre no estágio mais alto – quando a quimioterapia já não faz efeito – Rory se recusa a viver como um moribundo. Ignora a cama hospitalar comprada pelo filho e vai dormir no sofá, ao lado do berço do neto, com o qual faz um pacto: só vou embora quando você falar seanair (significa vovô em gaélico hebridiano).

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O gaélico é uma história que corre por fora. Ao descobrirem que essa é sua língua materna, a faculdade o convence a participar de uma pesquisa para preservar idiomas em risco. Ele dá um show para alunos de letras e seu mestre. Mas plasticamente o ponto alto do filme Antes de Partir, que estreou em 2021 (não confundir com o filme de mesmo nome estrelado por Jack Nicholson e Morgan Freeman, de 2007), é a interação entre avô e neto. As poucas vezes que os dois contracenam já é suficiente para valer a pena a dar uma espiadinha no filme. Durante as filmagens o bebê fala e anda e, no fim, consegue falar vovô em gaélico (seanair). Feliz, o avô se despede desta vida e deixa o canivete, a casa, o mar, os penhascos e o céu estrelado como herança para os MacNeil que ficam (seduzidos pela ilha).     

Serviço
Filme Antes de Partir
Plataforma: Prime Vídeo

Fotos: Divulgação


A velhice na literatura
Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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