O que nos invoca a pensar as velhices na assistência social, em suas pluralidades, é ir além de uma ordem de preocupação individual e olhar numa preocupação social, pensando a velhice como uma responsabilidade não apenas do universo familiar, mas também, do Estado, Mercado e Sociedade.
Denis Cezar Musial (*)
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O Brasil está envelhecendo. O drama que vivemos no Brasil em relação a políticas públicas para pessoas idosas é um processo complexo e contraditório, apesar de um tema gritante, ao mesmo tempo estamos distante da constituição de políticas públicas que possam proporcionar um envelhecimento com dignidade. O processo de envelhecimento atravessa todas as políticas públicas (saúde, educação, assistência social, habitação, dentre outras), demandando pensar e discutir com urgência os marcos normativos e como os serviços estão olhando o processo de envelhecimento e as velhices, em especial aqui, nos serviços de assistência social.
A velhice é um conceito que apresenta complexidades e perpassa por questões econômicas, sociais, políticas e culturais, rompendo com discursos baseados no senso comum ou ações reducionistas no desenvolvimento de atividades esportivas e de lazer (uma prática recorrente são oficinas de ginástica, artesanato e coral), reproduzindo com isso, nos grupos de convivência de pessoas idosas o famoso BBB (bingo, baile e bolo). Velhice é mais que isso!!!
O que nos invoca a pensar as velhices na assistência social, em suas pluralidades, é ir além de uma ordem de preocupação individual e olhar numa preocupação social, pensando a velhice como uma responsabilidade não apenas do universo familiar, mas também, do Estado, Mercado e Sociedade.
Impera um discurso que a velhice deve ser do cuidado familiar (presente na fala dos trabalhadores do SUAS que a responsabilidade do cuidado dos idosos são dos filhos), sendo necessário propor provocações de que as políticas públicas numa perspectiva universal asseguram apoio familiar (funções protetiva, preventiva e proativa) nos serviços socioassistenciais. Com isso, a velhice não pode ser vista numa esfera privada e apenas individual, sendo necessário pensar nas implicações econômicas, políticas, sociais e culturais que atravessam esse processo.
Neste percurso, pondera-se como exigência por parte do Estado, em reconhecer e legitimar o profissional de Gerontologia enquanto trabalhador do SUAS que possa se inserir nos equipamentos sociais (CRAS, CREAS, Centros de convivência, Unidades de Acolhimento Institucional, dentre outros) para refletir e pensar os processos de envelhecimento e as velhices nestes espaços sócio ocupacionais.
A resolução nº 17/2011 do conselho nacional de assistência social(CNAS) que ratifica as equipes de referência e reconhece as categorias profissionais de nível superior nem reconhece a profissão Gerontologia enquanto trabalhador do SUAS, pautando como um debate necessário para este profissional estar inserido nos serviços socioassistenciais para refletir sobre como está sendo olhado o processo de envelhecimento e as velhices diante das diferenças regionais do Brasil.
Essa especialidade compreende as velhices enquanto um potencial humano numa lógica de romper alguns tabus (velhice não é sinônimo da espera pela morte, todos os velhos não são iguais, velhice não quer dizer dependência, dentre outros…) que permeiam esse momento da condição humana, manifestada em diversas expressões, podendo esse profissional, pautado numa lógica interdisciplinar, atender numa perspectiva protetiva e de garantia dos direitos sociais.
(*) Denis Cezar Musial – Graduação em Serviço Social, especialista em Trabalho Social com Famílias, Mestrado em Desenvolvimento Comunitário pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) . Atualmente, é assistente social e trabalha na Gestão do Trabalho do SUAS e Professor Colaborador da UNICENTRO. Brasil. ORCID: 0000-0001-8096-5686. E-mail: [email protected].