Os idosos do futuro serão mais saudáveis, mais ativos e produtivos, terão níveis elevados de escolaridade e exigirão ter uma participação socioeconômica elevada a diversos níveis. A velhice ativa será o grande desafio do milênio. As políticas públicas deverão ter presente essa perspectiva no momento de elaborar o planejamento com vistas ao desenvolvimento, já que dialeticamente a sociedade se desenvolve a partir da tensão constante de forças que a determinam e a força grisalha parece ser cada vez mais marcante.
Neilson Santos Meneses *
Vivemos uma sociedade cada vez mais grisalha e o envelhecimento populacional não constitui mais novidade no Brasil onde os idosos já representam mais de 21 milhões de pessoas e 11% da população total (Pnad, 2011). O país apresenta uma expectativa de vida crescente devendo a mesma atingir, segundo apontam as estimativas, 75 anos em 2020. Ademais, dados da Unfpa 2012 estimam que em dez anos o mundo atinja 01 bilhão de idosos.
Esse processo tem revelado novas facetas que repercutem no surgimento de uma força social que é cada vez mais evidente, a força grisalha. É possível observar essa realidade a partir de vários aspectos que caracterizam o momento atual. Entre esses aspectos vale destacar a força do movimento social dos idosos na busca por seus direitos como nos conta Fernandez e Santos (2007): “a análise da conjuntura envolvida na construção das políticas destinadas à pessoa idosa revela a força do movimento social dos idosos – “força grisalha”, onde alguns se comportam como verdadeiros atores e protagonistas coletivos na luta pelos seus direitos, por conquistas sociais e pela cidadania”.
A participação social dos idosos e o envelhecimento ativo pode ser definido, segundo Bermejo (2006), como um processo de participação contínua em questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e cívicas e nesse sentido é crescente a participação dos idosos em associações. Exemplo disso está não só na crescente formação de grupos de idosos e de aposentados, mas também na participação dos mesmos em ONGs, sindicatos, grupos religiosos e movimentos sociais diversos.
Além dessa forte integração a movimentos sociais e associativistas, verifica-se uma população idosa participativa do ponto de vista eleitoral, o voto é obrigatório para brasileiros entre 18 e 70 anos, porém muitos idosos de 70 anos e mais não abrem mão de comparecer e votar, demonstrando uma disposição para continuar ativo e contribuindo com a sociedade. Esses idosos com mais de 70 anos representaram cerca de 6,5 milhões de votos e eram proporcionalmente 4,7 % do eleitorado brasileiro, segundo dados das últimas eleições divulgados pelo TSE. Caso consideremos o poder do voto da população acima dos 60 anos, o eleitorado idoso já é bastante significativo, representando aproximadamente 16% do eleitorado do país e cerca de 22,5 milhões de votos. A contribuição dos idosos na dinâmica social parece ser um fenômeno ascendente, à medida que aumenta a esperança de vida e cresce proporcionalmente o número de idosos na população.
Outro aspecto que demonstra a força grisalha está na importância crescente que o idoso representa em relação ao poder de compra, muitos idosos acabam retardando a aposentadoria e alguns mesmos aposentados voltam ao mercado de trabalho, onde já se verifica um crescimento constante da PEA (população economicamente ativa) idosa no total da PEA brasileira, que em 2011 contava com cerca de 6,5 milhões de idosos (PNAD 2011).
Em todo o país, mais idosos estão mantendo postos de trabalho e ampliando sua renda e com isso tornam-se alvo de bancos e de empresas dos mais diversos ramos como as de viagens, eletrodomésticos, academias de ginástica, segmentos de beleza e outras formas de consumo. A ideia de que os gastos dos idosos se resumiriam a gastos com saúde e supermercado se vê pouco a pouco superada a partir do aumento da expectativa de vida e da nova mentalidade do envelhecimento ativo. Além disso, cresce o número de idosos fazendo investimentos e abrindo empresas o que contribui para desmistificar a ideia do idoso apenas como encargo social. Na verdade os recursos econômicos dos idosos, inclusive os recebidos de aposentadorias e pensões, alimentam a atividade econômica e contribuem para gerar riqueza.
Com o alargamento da vida e o contínuo crescimento do número de idosos, em algum momento a valorização excessiva da juventude e a visão depreciativa da velhice entrarão em choque e os orçamentos públicos terão de definir prioridades que levem em conta o contraste entre as necessidades dos idosos e da juventude. Exemplo disso está na questão da aposentadoria, já que nessa situação, em geral, se transferem os recursos dos trabalhadores mais jovens para os mais velhos, o que tem gerado insegurança quanto ao futuro do sistema previdenciário. Todavia, se analisarmos do ponto de vista das famílias, ocorre justamente o contrário, a renda em geral se transfere dos mais velhos para os mais jovens, dos pais para filhos e de avós para netos.
Observa-se, segundo os dados da Pnad 2011, que mais de 63% de idosos brasileiros são chefes de família, representando 23,4% dos chefes de família no Brasil, sugerindo um novo papel ativo nas famílias e obviamente menor dependência e maior contribuição econômica dos idosos para as famílias brasileiras. Segundo informe Brasil para III conferência regional intergovernamental sobre envelhecimento na América Latina e Caribe 2012 “Uma maneira de avaliar o papel que os idosos vêm assumindo em termos de apoio às famílias onde estão inseridos é através da participação da sua renda na renda familiar. Em 2009, nas famílias que continham idosos, estes contribuíam com 64,8% da renda familiar”.
E não é só como força econômica que os idosos têm sido importantes para famílias, eles têm contribuído também para coesão familiar, nos cuidados com os netos, tendo em conta a necessidade das mães de se inserirem no mercado de trabalho. À medida que mais pessoas cheguem à terceira idade em boas condições econômicas e de saúde, deverá crescer a participação e contribuição dos idosos às famílias e para sociedade, mesmo por que estas são recomendações presentes e fomentadas institucionalmente no Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento e na Política Nacional do Idoso.
Não deve passar despercebido que as mudanças na população têm impactado na realidade socioeconômica e territorial a partir do surgimento dessa nova força social. Talvez seja hora de repensar a visão do idoso como alguém incapaz, incompetente e passivo e alertar-se para a força social, política e econômica que os idosos já representam. Segundo o relatório sobre envelhecimento no século XXI (Unfpa/Helpage 2012) existe um dividendo de longevidade a ser colhido, para isso, é necessário que se encaminhe medidas acertadas que possibilitem um envelhecimento com acesso a saúde, renda mínima suficiente, possibilitar redes sociais de proteção, incluindo o apoio a redes comunitárias e famílias e, ainda, desfazer mitos sobre envelhecimento apenas como carga social, além de evidentemente garantir proteção jurídica.
A participação social dos idosos pode ser vista como um beneficio e contribuição para o desenvolvimento econômico do país, além de beneficiar a qualidade de vida dos próprios idosos, visto que muitos estudos têm relacionados a maior inserção social do idoso a maior satisfação e menor depressão, isto é, a participação social contribui com a saúde do idoso e retroalimenta seu impulso participativo. Nesta perspectiva, Ivo (2008) indica que “os idosos do futuro serão mais saudáveis, mais ativos e produtivos, terão níveis elevados de escolaridade e exigirão ter uma participação socioeconômica elevada a diversos níveis. A velhice ativa será o grande desafio do milênio”. As políticas públicas deverão ter presente essa perspectiva no momento de elaborar o planejamento com vistas ao desenvolvimento, já que dialeticamente a sociedade se desenvolve a partir da tensão constante de forças que a determinam e a força grisalha parece ser cada vez mais marcante.
Talvez o envelhecimento possa ser visto também como um processo emancipação onde seja possível um idoso plenamente integrado à sociedade, um envelhecimento com saúde, autonomia e independência será bom individual e coletivamente, será importante para o desenvolvimento econômico de comunidades, regiões e países. É fundamental impulsionar a participação social ativa e as condições de autonomia e independência, com o intuito de valorização do processo de envelhecimento e dos idosos, para que ocupem um lugar de respeito dentro da estrutura social, já que apresentam muitas possibilidades e potenciais.
Referências
BERMEJO, L. Promoción del envejecimiento activo. Reflexiones para el desarrollo de programas de preparación y adaptación a la jubilación. In Giró, J. Envejecimiento activo. Envejecimiento en positivo. 2006.
FERNANDEZ M.G.M, SANTOS S.R. Políticas públicas e direitos do idoso: desafios da agenda social do Brasil contemporâneo. In: Revista Ciência Política [periódico on-line] 2007 mar/abr. Disponível Aqui
FIBGE, Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar – PNAD. Rio de Janeiro, 1992, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013.
IVO, Patricia A. P. O Grande Desafio: Envelhecimento Activo. Relatório de estagio, Universidade Técnica de Lisboa. ISCSP, Lisboa, 2008.
NAÇÕES UNIDAS. Plano de Ação Internacional Sobre o Envelhecimento 2002. trad. Arlene Santos. Secretaria Especial de Direitos Humanos, Brasília, 2003;
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Estatísticas das eleições de 2012 e 2014. Acceso en: 10 nov. 2014.
UNFPA/HELPAGE INTERNATIONAL – Relatório Envelhecimento no século XXI: Celebração e Desafio. 2012. último acesso em 06/05/2013.
* Neilson Santos Meneses – Doutor em geografia pela Universidade de Zaragoza-Espanha. Prof. do Departamento de Geografia, Universidade Federal de Sergipe. É membro da Rede de colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]