É crucial compreender e abordar a Deterioração Rápida da Saúde Bucal para assegurar uma melhor qualidade de vida para a população idosa.
Monira Samaan Kallás (*)
O envelhecimento populacional global tem elevado a saúde bucal de pessoas idosas a uma área de grande relevância e complexidade. Neste cenário, a Deterioração Rápida da Saúde Bucal (em inglês: Rapid Oral Health Deterioration – ROHD), surge como um conceito fundamental para identificar e intervir em casos onde a saúde bucal de idosos declina de forma mais acelerada do que o esperado, frequentemente desencadeada por um declínio na saúde geral. A relevância da saúde bucal na manutenção da saúde sistêmica e do bem-estar dos idosos é amplamente documentada. É crucial compreender e abordar a ROHD para assegurar uma melhor qualidade de vida para esta população crescente, que agora retém mais dentes, muitas vezes com restaurações complexas.
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A Deterioração Rápida da Saúde Bucal é influenciada por uma interação multifacetada de fatores que podem ser agrupados em três categorias principais:
Condições de saúde geral: Incluem demência, depressão, diabetes, diminuição da destreza manual, sistema imunológico comprometido, deficiências sensoriais, acidente vascular cerebral e polifarmácia (uso de múltiplos medicamentos).
Fatores socioeconômicos: Englobam autonomia reduzida, renda limitada, hábitos alimentares, institucionalização, falta de seguro odontológico e barreiras de acesso a transporte e serviços de saúde.
Condições de saúde bucal: Abrangem xerostomia (boca seca), recessão gengival, má higiene bucal, dentições extensivamente restauradas ou com próteses removíveis, cáries não tratadas, doença periodontal e perda dentária.
Para preparar futuros profissionais de saúde bucal para enfrentar esses desafios, a Universidade de Lowa desenvolveu uma ferramenta de ensino inovadora. Baseada no processo de pensamento de especialistas, a ferramenta utiliza um conjunto de 10 perguntas abertas que guiam os estudantes de odontologia na coleta e avaliação de dados, priorização de fatores, análise do risco de Deterioração Rápida da Saúde Bucal (ROHD) e elaboração de planos de tratamento individualizados. Os artigos demonstram a eficácia deste modelo no aprimoramento das habilidades de pensamento crítico e autoavaliação dos alunos. O modelo categoriza o risco de ROHD em quatro estágios distintos, desde a ausência de fatores de risco até a deterioração já estabelecida, fornecendo uma orientação clara para a intervenção.
Os resultados de um relatório de 5 anos indicam que mais de 75% dos alunos obtiveram nota A ou G (aplicaram e/ou compreenderam os princípios), a concordância entre os avaliadores foi superior a 85% (sendo maior que 94% para a maioria das questões), e o desempenho dos alunos melhorou ao longo do período. Além disso, 94,4% dos alunos consideraram a ferramenta importante ou muito importante para o dentista geral.

A prevenção e o manejo da Deterioração Rápida da Saúde Bucal requerem a implementação de diversas estratégias essenciais. A higiene bucal rigorosa é primordial, seja ela realizada de forma independente ou com o auxílio de cuidadores, utilizando ferramentas adaptadas ou escovas elétricas para otimizar a remoção da placa. A exposição a fluoretos tópicos de alta concentração (pastas de 5000 ppm, vernizes e diamino fluoreto de prata – SDF) é crucial para reduzir e deter lesões cariosas, especialmente em pacientes com xerostomia. O manejo da xerostomia, frequentemente associada à polifarmácia, exige hidratação adequada, revisão de medicamentos em colaboração com a equipe de saúde e, se necessário, o uso de estimulantes ou substitutos salivares. A nutrição também desempenha um papel bidirecional; a escolha de alimentos com menos açúcar é vital para a saúde bucal e geral. O manejo também inclui o tratamento da doença periodontal, cáries não tratadas e a manutenção de dentições e próteses funcionais.
É fundamental reconhecer que a Deterioração Rápida da Saúde Bucal é uma manifestação extrema de doença bucal, fortemente influenciada pelos Determinantes Sociais de Saúde(DSS) mais amplos. Fatores como educação e status socioeconômico impactam diretamente as práticas de prevenção e o acesso aos serviços de saúde. Os artigos enfatizam a necessidade de uma abordagem “upstream”, focando na prevenção e em mudanças políticas e sistêmicas que abordem as causas-raiz da desvantagem, em vez de apenas tratar a doença já instalada. A colaboração interprofissional entre dentistas, médicos, assistentes sociais e cuidadores é apontada como crucial para uma atenção holística e centrada no paciente. Em suma, a compreensão da Deterioração Rápida da Saúde Bucal e a aplicação de modelos de avaliação de risco são passos vitais para enfrentar os desafios da saúde bucal em idosos, promovendo um envelhecimento mais saudável e com maior dignidade.
(*) Monira Samaan Kallás – Cirurgiã-dentista em consultório, hospitalar e home care. Dentista no Núcleo Avançado de Geriatria (NAGe) do Hospital Sírio Libanês. Docente nos cursos de Geriatria e Empreendedorismo e Gerontologia no Hospital Sírio Libanês. Coordenadora do curso de Odontologia e Gerontologia e Farmacologia e Odontogeriatria no Hospital Sírio Libanês. Monitora da Disciplina em Economia e Saúde do Programa de Mestrado em Telessaúde UERJ. Discente do MBA em Gestão de Saúde no Insper. E-mail: monirask@gmail.com. Instagram: @moniraskallas e @dentista_todabocatemumcorpo
Foto de Antoni Shkraba Studio/pexels.

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