O XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, de 27 a 31 de julho, teve como tema Envelhecimento: Funcionalidade, Participação e Sustentabilidade, eixos definidos a partir da necessidade de entender-se a pessoa idosa na sua interação com o ambiente e com suas redes sociais com a promoção de projetos de vida e de velhice ativas a partir da participação dos próprios idosos. Contou com a participação de três mil inscritos, procedentes de todo o território nacional e de países fronteiriços. Foram mais de 1500 trabalhos científicos apresentados, 14 simpósios convidados e outras modalidades, como a ‘roda de conversa’, por exemplo. Considera-se evento altamente exitoso não só pelos números expressivos como pelo conteúdo temático desenvolvido.
Arlete Salimene e Bernadete Oliveira *
A Sessão Solene de Abertura do Congresso: Plateia com mais de 3.000 pesquisadores, gestores, profissionais de saúde de Geriatria e da Gerontologia.A sessão solene de abertura contou com a participação de autoridades governamentais locais e lideranças científicas da SBGG que expuseram suas conquistas em geriatria e em gerontologia, tornando o evento uma realização única como difusão de conhecimentos sobre a velhice e o envelhecimento no Brasil.
Simpósio Programas Inovadores
No dia 29 foi apresentado o Simpósio Programas Inovadores de Assistência Intermediária ao Idoso: Uma necessidade Urgente. O Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE) de São Paulo foi convidado por Laura Mello Machado, do Talentos da Maturidade e Programas Exemplares, do Banco Real Santander, para participar.
Simpósio Programas Inovadores de Assistência Intermediária ao Idoso: uma necessidade urgente: da esq. Para a dir. Bernadete Oliveira (SP), Lorena Pimentel (RN), Marília Berzins (SP), Laura Machado (RJ) e Tulia Garcia (CE).Túlia Fernanda Meira Garcia (CE), como moderadora, apresentou as palestrantes Marília Anselmo Viana da Silva Berzins (SP): Acompanhante de Idosos da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de São Paulo, Bernadete de Oliveira (SP): Condomínio Amigo: Envelhecer com Futuro do Observatório e Lorena Pimentel de Souza (RN): Oficina de Tecnologia Assistiva para Cuidadores de Idosos da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte.
O Acompanhante de Idosos (dependentes) primeiro programa apresentado,tem ajudado pessoas com mais de 60 anos em situação de isolamento a enfrentar o abandono e a melhorar o bem-estarCondomínio Amigo que visa a conquista da autonomia e o exercício de cidadania de pessoas acima de 60 anos individual, ao desenvolver ações de cuidado domiciliar e apoio para as atividades diárias da população idosa com dependência funcional, devido a problemas de saúde física e mental. A preocupação do programa é reforçar a autonomia e a independência dos participantes, na busca da melhoria da qualidade de vida e saúde. Marília apresentou o perfil sociodemográfico dos idosos, os quais relataram em um documentário a satisfação e melhoria da qualidade de vida com as ações, referindo não sentirem-se mais sozinhos, agora que têm os acompanhantes do programa.
Em seguida foi exposto o Condomínio Amigo que visa a conquista da autonomia e o exercício de cidadania de pessoas acima de 60 anos de idade e amplia novas perspectivas para o futuro, ao tornar a rede e o apoio dos condomínios residenciais mais sustentáveis e solidários. Para isso, desenvolve a arquitetura amiga e abrange, por meio de palestras e cursos, sobre a longevidade humana, moradores e funcionários dos condomínios, bem como parcerias com Associação de Síndicos, grandes redes e pequenos comércios de supermercados e farmácias e divulga no Guia Amigo a oferta de bens e serviços qualificados pelo programa para atender às necessidades do público idoso com qualidade, segurança e satisfação. Bernadete relatou o desafio que é desenvolver o programa simultaneamente com a pesquisa, descrevendo a implementação do Condomínio Amigo nas regiões da Mooca, Instituto dos Aposentados e Pensionistas Industriários (IAPI) e da Sé, Copan.
O Condomínio IAPI (Mooca) é composto por 17 torres de quatro pavimentos mais o térreo, com 576 unidades, onde residem aproximadamente 2.300 pessoas, sendo que cerca de 80% são idosos. Esse condomínio é um símbolo da conquista de uma classe operária que hoje mantém em suas estruturas os filhos, netos e até bisnetos dos operários da década de 40 de uma São Paulo onde pulsava o crescimento industrial, paralelamente ao adensamento populacional e vertical.
O Condomínio Edifício COPAN (Sé), ícone da arquitetura paulista e mundialmente conhecido, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, possui alto índice de adensamento populacional nas 1160 unidades que demandam um quadro efetivo de 99 funcionários para aproximadamente 5000 condôminos, destes, aproximadamente 10% são idosos.
A ação em grupos focais por meio de cursos, com a participação de 11 moradores do Condomínio IAPI e 29 funcionários do Condomínio Copan e pesquisa de opinião, com 41 moradores de ambos, foi essencial para conhecer, quantificar e qualificar as redes e o apoio, já existentes nos e suas necessidades.
Destaca-se a discussão iniciada com representantes do Programa RS Amigo do Idoso, debatida por Iride Cristofoli Caberlon (RS) e Ângelo José Gonçalves Bós (RS) sobre a adesão dos idosos ao programa que foi maior na zona rural, do Estado, do que na capital Porto Alegre, levando-nos a deduzir que fatores culturais e de estilo de vida possam favorecer à maior adesão a atividades grupais em zonas rurais.
Por último a Oficina de Tecnologia Assistiva criada, em 2009, por duas terapeutas ocupacionais locais, experiência incluída na programação curricular do curso para cuidadores, promovido pelo Programa de Internação Domiciliar da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte (PID/RN). Constitui-se de uma oficina para aprendizagem sobre adaptações de utensílios domésticos e pessoais para estimular a independência funcional de pacientes com dificuldades físicas. Lorena relatou que na oficina ensinam sobre o uso do material para a adaptação dos utensílios e também estimulam a criatividade dos participantes para novas possibilidades conforme a necessidade do idoso, além de conseguirem baixar consideravelmente o custo de tais equipamentos; trouxe um documentário no qual um idoso mostrou a impossibilidade de segurar uma escova de dente comum e sua felicidade com a adaptação que possibilitou o uso adequado e eficaz da escova de dentes.
Bernadete de Oliveira (SP) representando o Condomínio AmigoProgramas Inovadores:Bernadete de Oliveira (SP) representando o Condomínio Amigo: Envelhecer com Futuro do Observatório e Lorena Pimentel de Souza (RN) a Oficina de Tecnologia Assistiva para Cuidadores de Idosos. Vencedores do Talentos da Maturidade e Programas Exemplares, do Banco Real Santander.
Laura fez referência a Cidade Amiga do Idoso, idealizada pelo Dr. Alexandre Kalache, agradeceu a mesa pela inovação em seus programas e convidou a todos a consultarem o site e participarem com projetos da área do envelhecimento na 12ª edição Concurso Talentos da Maturidade.
Roda de Conversa
Destacamos também a Roda de Conversa: Como Fica a sexualidade do idoso na era dos estimulantes sexuais?, realizada no dia 29, sob a coordenação de Maria do Carmo Lancastre Lins (SP) e Valmari Cristina Aranha (SP) como moderadora, que contou com as debatedoras Arlete Camargo de Melo Salimene (SP), Dulcineia da Mata Ribeiro (RJ) e Nereida Kilza da Costa Lima (ES) e trouxe uma nova modalidade de transmissão de conhecimentos, contando com a participação efetiva da plateia. Os membros da mesa expuseram sobre a sexualidade do idoso do ponto de vista médico, psicológico e sociocultural, destacando o impacto negativo detectado pelo uso indiscriminado dos estimulantes sexuais e o aumento incidente do HIV/AIDS no Brasil e em muitos países do mundo ocidental. A sessão contou com 600 participantes, o que dificultou o debate mais aprofundado. Mesmo assim foi considerado exitoso pela maioria dos presentes que considerou premente necessidade de implementação de políticas públicas na área da saúde para efetivação de medidas socioeducacionais quanto à utilização inadequada do medicamento e quanto ao comportamento sexual na terceira idade, visando a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
E ainda, a Roda de Conversa Urbanização e Envelhecimento: desafio para o suporte social, coordenado por Vicente de Paula Faleiros (DF) e tendo Laura Mello Machado (RJ) como moderadora. Discutiu-se sobre o impacto da urbanização planejada com a minimização de barreiras arquitetônicas e a acessibilidade para todos como fundamentais para conforto, segurança e melhoria da qualidade de vida do idoso, conforme paradigmas internacionais. Destaque para a importância da participação da pessoa idosa nos rumos e implementação de políticas públicas que garantam seus direitos de cidadão e de pessoa humana.
No dia 30, dentre as palestras, destaca-se O Idoso em Atenção Domiciliária, sob a coordenação de Nereida Kilza Lima (ES), Lívia Terezinha Devéns (SP), moderadora e o palestrante Julio Moriguti (SP). Foram expostos os aspectos clínicos do idoso dependente funcionalmente, os casos de Alzheimer, doenças neurológicas progressivas e o Acidente Vascular Encefálico: os limites e as possibilidades dos cuidados paliativos no ambiente domiciliar e a questão dos cuidadores formais e informais. A perspectiva do cuidar em domicílio se faz presente diante da postura humanizada, porém sob rígida competência geriátrica, de enfermagem e dos demais profissionais da saúde que integram a atenção domiciliária multidisciplinar.
Concluindo, pode-se afirmar que o XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia logrou o êxito almejado, pois contou com a participação de renomadas personalidades científicas da assistência, do ensino e da pesquisa nas duas áreas do conhecimento sobre o idoso, que só se separam didaticamente. O número de participantes congressistas e o número de trabalhos científicos atestam também o sucesso tão esperado. O sucesso se estende à população idosa, naturalmente, à qual foram agregados valores fundamentados no conhecimento, na militância e nas conquistas sociais ali demonstradas, permanecendo, ainda, o compromisso de continuidade e de novos alcances. O que será demonstrado no XVIII Congresso em 2012. Parabéns à SBGG, aos ilustres conferencistas, aos participantes e aos idosos.
Apresentação em pôster do Programa Inovador Condomínio AmigoApresentação em pôster do Programa Inovador Condomínio Amigo: Envelhecer com Futuro do Observatório Vencedor do Talentos da Maturidade e Programas Exemplares, do Banco Real / Santander, 2008 / 2009.
*Arlete C. M. Salimene – Doutora em Serviço Social PUCSP-Diretora do Serviço Social da Divisão de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; faz parte do Grupo de Pesquisa “Epidemiologia do Envelhecimento de do Cuidador de Idosos Dependentes da PUCSP; professora universitária e especialista em saúde reabilitação de pessoas com deficiência. E-mail: [email protected].
Bernadete De Oliveira – Doutoranda em Ciências Sociais pela PUCSP, mestre em Gerontologia pela PUCSP, membro fundador do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE) e Fisioterapeuta titulada pela SBGG. E-mail: [email protected].