Você tem reserva social e emocional para envelhecer?

Você tem reserva social e emocional para envelhecer?

Ao logo da vida, as pessoas procuram cuidar de sua saúde física ou financeira, sem cuidar dos laços afetivos e da saúde emocional como reserva necessária para um envelhecimento de qualidade. Precisamos de uma reserva social, ter amigos, ter suporte, falar sobre sentimentos e emoções, nos colocar diante do outro para envelhecer bem.

 

O envelhecimento da população brasileira é uma realidade a ser trabalhada por todas as instâncias da sociedade. Exige reorganização econômica, da saúde, da assistência social, segurança pública, da previdência e, até mesmo, de nossas crenças e ideias sobre o que é envelhecer, destino esse de todos nós, exceto em casos de morte prematura. Faz-se necessário uma reorganização familiar para responder às novas demandas de cuidado e de suporte social uma vez que as famílias diminuíram e as mulheres, que ainda são as principais provedoras de cuidados, estão inseridas no mercado de trabalho. Percebe-se que não há espaço para o cuidado dos idosos frágeis, mas também não há olhar para os idosos ativos, mas que estão em progressivo isolamento social.

Esse tema demanda ações de políticas voltadas para suporte social, educação e assistência específica para a população idosa que muitas vezes deixa de ser olhada por todas as instâncias da sociedade, inclusive, pelos próprios idosos: em algumas situações são os primeiros a se isolar, deixar de desejar e sonhar.

Idosos em isolamento social ficam sem suporte para cuidados de saúde física, emocional e social, estão mais sujeitos a agravos e a doenças mentais. Desinvestidos na realidade ficam cada vez mais restritos, com baixo suporte para lidar com as angústias e medos típicos, sem voz e sem escuta.

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

Aquela pessoa idosa que passou boa parte de sua vida envolvida com o trabalho ou com os cuidados da família, sem olhar para suas necessidades, acaba se aposentando, ou com filhos distantes. Os idosos envolvidos com o vazio, ensimesmados, sem novos amigos, muitas vezes em silêncio ficam sem trocas ou espaço para escoar sentimentos, sem investimento narcísico, sem perceber as mudanças da realidade.

A inserção de idosos em grupos além de terapêutico – do ponto de vista de saúde geral, oferece ao idoso outras formas de se relacionar, auxilia no fortalecimento da autoestima e favorece investimento em si e nos outros, reaprendendo a se relacionar, fazer novos laços e propor empoderamento. Precisamos de espaços dispostos a abordar sem tabus ou atitudes maniqueístas questões envolvendo processo de envelhecimento, perdas e ganhos ao longo da vida, fortalecimento emocional para enfrentar as dificuldades típicas, revisão da relação com os filhos, atividade física e importância de autocuidado.

No trabalho com idosos, observo que eles precisam de apoio para lidar com a nova aparência que parece ter surgido de repente, com as limitações físicas possíveis, auxilio para compreender a complexidade da manutenção dos cuidados em saúde, aceitar novos círculos, deixar as crenças e preconceitos de lado, lidar com seus sentimentos e desejos e o medo da dependência física e cognitiva. Além disso, alguns idosos procuram atribuir suas dificuldades aos filhos, aos serviços de saúde ou mesmo à política, mas evitam olhar sua própria história e se colocar como protagonista, e isso pode ser extremamente penoso para qualquer um, portanto, é preciso apoio emocional para isso.

Ao logo da vida, as pessoas procuram cuidar de sua saúde física ou financeira, sem cuidar dos laços afetivos e da saúde emocional como reserva necessária para um envelhecimento de qualidade. Precisamos de uma reserva social, ter amigos, ter suporte, falar sobre sentimentos e emoções, nos colocar diante do outro para envelhecer bem. Caso contrário o envelhecimento se tornará solitário e sofrido. Estar com o outro exige linguagem, raciocínio, autocuidado, traquejo social, pontos fundamentais para prevenção de doenças mentais como depressão e alterações cognitivas. Olhar ao redor e perceber que não está sozinho pode sim ser enriquecedor.

 

Fabiana Petito

Formada em Psicologia pela FMU, especialista em Psicologia Clínica no Hospital do Servidor Público Estadual, pós graduada em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública, Pós graduanda em Gerontologia pela Hospital Osvaldo Cruz. Psicóloga da Unidade de Referência em Saúde do Idoso PMSP- OSACSC.

Compartilhe:

Avatar do Autor

Fabiana Petito

Formada em Psicologia pela FMU, especialista em Psicologia Clínica no Hospital do Servidor Público Estadual, pós graduada em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública, Pós graduanda em Gerontologia pela Hospital Osvaldo Cruz. Psicóloga da Unidade de Referência em Saúde do Idoso PMSP- OSACSC.

Fabiana Petito escreveu 4 posts

Veja todos os posts de Fabiana Petito
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS