O Conselho Regional de Psicologia do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo – CRP-VALE, promoveu – em parceria com o SENAC na cidade de Guaratinguetá no último dia 04/12/2012 – o debate sobre o tema “Finitude e Luto por meio da visão cinematográfica”.
Divina de Fátima dos Santos * Texto e imagens
O tema em questão foi uma solicitação dos profissionais da área da saúde que, em geral, se deparam com a questão e, muitas vezes, sentem dificuldade de abordar o assunto com tranquilidade. Uma das maiores queixas desses profissionais é pelo fato de não se sentirem preparados para o enfrentamento deste tema, alegando que em suas graduações o assunto não foi devidamente abordado; contudo, muitos afirmam que constantemente são procurados por familiares em situação de luto, ou ainda, pelos próprios indivíduos portadores de alguma doença terminal.
A Terapeuta Familiar Sistêmica, Especialista em Psicologia Hospitalar e Mestranda em Psicologia pela PUC-SP, Mariana Sarkis Braz foi a convidada da noite para abordar este importante tema. Ela tem larga experiência no assunto e vem trabalhando como psicóloga, tanto na UTI quanto no setor de pacientes terminais do Hospital Paulistano em São Paulo, local em que busca dialogar tanto com profissionais da saúde, quanto com familiares e, principalmente, com pacientes com diferentes doenças.
Em geral, na cultura ocidental e especialmente em nosso país, é considerado “tabu” falar sobre doença, morte e luto. A temática muitas vezes tem sido evitada pela maioria das pessoas e, com isso, quando temos que vivenciar tal acontecimento, é comum o estresse entre os envolvidos. Mariana afirma que, na medida em que lidamos e debatemos sobre o assunto tendemos a ter mais tranquilidade para o enfrentamento da situação. Ela afirma também que para dar suporte a alguém, precisamos encarar a morte e o morrer em nós mesmos. Somente quando formos capazes de elaborar esse assunto em nós é que poderemos auxiliar os outros.
Para abordar o tema, além da excelente palestra, Mariana utilizou trechos do filme “Antes de Partir” (EUA, 2008), com Jack Nicholson e Morgan Feeman e dirigido por Bob Reiner. Neste filme Morgan Freeman interpreta Carter Chambers, um homem casado, que há 46 anos trabalha como mecânico. Submetido a um tratamento experimental para combater o câncer, ele se sente mal no trabalho e com isso é internado em um hospital. Logo passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole (interpretado por Jack Nicholson), um rico empresário que também está com câncer e que descobre que tem poucos meses de vida. Os dois acabam realizando uma viagem pelo mundo para aproveitar seus últimos meses de vida e realizar uma lista de desejos das coisas que gostariam de fazer antes de morrer.
Com auxílio das imagens do filme, foram abordados assuntos relacionados às necessidades dos cuidados paliativos em pacientes terminais. Alguns procedimentos médicos dependem do consentimento tanto do paciente – quando este mantém suas faculdades mentais preservadas – quanto dos seus familiares. Ela explicou que o mais importante nesse momento é fazer com que pacientes nessas condições não tenham dor e que existe um grande esforço de equipes de saúde no sentido de minimizar o sofrimento de pacientes e acalmar seus familiares.
Tais momentos são delicados, pois se revestem de forte emoção, apego, medo e culpa, assim como de muitos outros sentimentos que afloram entre os envolvidos no leito de morte ou no momento de receber um diagnóstico médico de uma doença grave e já muito avançada. Segundo ela, é comum os envolvidos fazerem um balanço de suas vidas e essas emoções, em geral, abalam a estrutura familiar.
Cada pessoa encara a morte e o morrer de uma determinada maneira e, é preciso respeitar o tempo individual de cada um. O mesmo pode-se dizer no que se refere ao luto, pois cada pessoa necessita de um tempo, que é próprio e singular. Cada pessoa tem sua forma de superar a dor e de reformular sua vida diante da ausência de uma pessoa querida.
Mariana esclareceu que falar sobre o assunto ajuda todos da família. A conversa com pessoas próximas sobre a quais procedimentos o doente deseja submeter-se é um grande facilitador para amenizar o sofrimento de todos. Ouvir o paciente é fundamental e isso facilita muito todo o trabalho da equipe de saúde. Quando se evita o assunto, muitas vezes, corre-se o risco de realizar procedimentos que o paciente não quer e isso apenas amplia o sofrimento.
Vale lembrar que agora já é possível que os pacientes registrem quais procedimentos médicos (de acordo com limites terapêuticos na fase terminal) desejam receber desde que registrem suas vontades juntamente com seus médicos. Para quem desejar saber mais sobre essa resolução acesse o link Aqui
Para Mariana, é importante que tenhamos consciência e clareza sobre o tema e, que dentro do possível, conversemos com as pessoas próximas sobre nossas vontades se alguma doença ocorrer. Ela, ao final da palestra, fez uma breve dinâmica em que todos os presentes foram convidados a pensar sobre a própria morte e sobre como desejam morrer. E esclareceu que precisamos sim abordar o assunto e quebrar o “tabu” do silêncio.
O encontro foi muito enriquecedor e possibilitou aos presentes conhecerem um pouco mais sobre o tema. O direcionamento da palestra favoreceu a autoanálise e podemos dizer que propiciou uma reflexão sobre a morte e, principalmente, sobre a vida, pois, segundo Mariana, para falar de morte é preciso antes de tudo, falar sobre nossas vidas.
Parabenizamos mais uma vez a equipe gestora do Conselho Regional de Psicologia do Vale do Paraíba e Litoral Norte do estado de São Paulo, CRP-VALE, pela bela e importante iniciativa, e, além de tudo, por possibilitar aos profissionais, aos familiares e aos interessados um debate tão enriquecedor sobre um assunto de extrema importância. Parabenizamos também a palestrante Mariana Sarkis pela segurança e leveza com que tratou de um assunto tão delicado.
* Divina de Fátima dos Santos é Mestre em Gerontologia e Doutoranda em Psicologia pela PUCSP e é colaboradora do CRP-Vale e do Portal do Envelhecimento.