Estudos brasileiros identificam moléculas da peçonha de vespas capazes de frear o avanço da doença de Parkinson e inibir convulsões da epilepsia. Substâncias mostraram resultados promissores em testes com camundongos sem gerar efeitos colaterais significativos.
Sofia Moutinho / CiênciaHoje. Fotos: Priscilla Galante
Do doloroso veneno da vespa pode vir a esperança de tratamento para duas doenças neurológicas ainda incuráveis: a epilepsia e a doença de Parkinson. Pesquisadores brasileiros extraíram, da peçonha desse inseto perigoso, moléculas que se mostraram eficientes em testes com animais para impedir o avanço de ambas as enfermidades.
Recentemente, depois de estudar cerca de 40 substâncias do veneno, os pesquisadores se depararam com uma molécula natural que parece ter potencial no combate à doença de Parkinson, desordem neurogenerativa que afeta a região do cérebro ligada ao controle fino de movimentos. Batizada de fraternina, a substância foi capaz de impedir o avanço da doença em animais em pequenas doses.
A injeção de quatro doses de 10 microgramas de fraternina em camundongos protegeu os neurônios do cérebro dos animais, que tiveram uma lesão progressiva intencionalmente provocada para simular o Parkinson. A substância impediu que as células cerebrais fossem destruídas pela doença. “Essa substância mostrou ação imediata e capacidade de impedir a morte dos neurônios em qualquer nível da doença”, diz a bióloga Marcia Mortari, da Universidade de Brasília (Unb). Segundo ela, “Se administrada em um paciente com diagnóstico precoce, poderia coibir as sequelas motoras.”
Mortari aposta em uma forma de administração da fraternina por meio de um spray nasal. “Estamos estudando esse método porque seria mais adequado ao paciente de Parkinson do que comprimidos ou injeções e o efeito poderia ser até mais rápido, devido à proximidade do cérebro”, diz.
Segundo a bióloga, seu laboratório é capaz de produzir a fraternina sintética em grande quantidade sem necessidade de coletar vespas. A patente de uso da substância está sendo redigida e será depositada até o final do ano. A pesquisadora ressalta que ainda é preciso realizar vários testes com animais e humanos e estima que o fármaco possa estar pronto para uso em 10 anos.
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