Elza Berquó identifica um novo comportamento nas mulheres acima dos 60 anos: elas dançam, viajam, fazem ginástica – e algumas iniciam relacionamentos homossexuais. Ela diz: “Eu acho que não há limite para nada. Se está com alguma necessidade sexual, pode se arrumar de alguma forma. Agora saiu uma droga para a mulher que seria uma espécie de Viagra feminino, pois a libido da mulher pode cair.
Vejo o futuro muito promissor para todas as idades, para o sexo e tudo mais.”
“O sexo é um direito das mulheres na velhice”, diz a demógrafa Elza Berquó, 83 anos, em entrevista à Graziele Oliveira, da Revista Época. Ela é pioneira ao introduzir a demografia ao meio acadêmico brasileiro e ao usar esse campo do conhecimento como ferramenta para tentar compreender parte das transformações da sociedade e fundadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Em um de seus estudos, a pirâmide da solidão (1986), ela trata do excedente de mulheres idosas em nossa sociedade e sua implicação quanto aos seus estados conjugais, atribuindo isso à regra cultural segundo a qual as mulheres se relacionam principalmente com homens da mesma idade ou mais velhos. Segundo ela, essas mulheres excedentes “parecem estar se sentindo muito bem. Elas vão para a ginástica, para a dança, viajam, tiram férias, vão num cruzeiro e vão indo…”
O tema da pirâmide da solidão foi tratado recentemente em um artigo publicado pelo Portal do Envelhecimento, intitulado ‘Envelhecimento e “Pirâmide da Solidão” no Brasil e na América Latina’, do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, no qual, o autor explica que “em todos os países do mundo têm mais mulheres nas partes altas da pirâmide populacional. A especificidade da América Latina é que o superávit feminino ocorre precocemente nos grupos etários. Quanto menor é a razão de sexo, maior é a proporção de mulheres idosas morando sozinhas nos domicílios particulares. Na literatura demográfica, esse fenômeno foi denominado de “pirâmide da solidão”, indicando a existência de um crescente número de mulheres idosas sem cônjuges no topo da estrutura etária”.
O demógrafo chama a atenção para o desequilíbrio na razão de sexo ao nascer. Segundo ele, nascem mais homens em todos os países do mundo do que mulheres. Ele assinala que “na média mundial, a razão de sexo ao nascer varia entre 3% e 5% a favor dos homens. Números muito acima desta média, podem indicar alguma forma de preferência pelos filhos do sexo masculino ou a prática de “femicído” ou “fetocídio”, como ocorre na China.
A questão é que embora nasçam mais homens, são as mulheres que mais envelhecem, colocando aí a questão da sexualidade, tema da entrevista de Elza Berquó à Revista Época. Ela diz que existem muitas mulheres acima de 60 anos que são homossexuais, tal qual as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela global Babilônia e que já teve cena cortada.
Perguntada sobre o motivo de as mulheres não terem mais direito ao sexo, ela responde:
– Direito essas mulheres têm, resta saber se há gente disponível. Pelo que nós estamos vendo, não há tanto. Acontece que, no sexo, você pode se satisfazer de várias maneiras. Pode ter companhias amigáveis sem sexo. Eu tive dois casamentos. De um eu me separei e do outro enviuvei, há sete anos, e, realmente, a falta que você sente é de um companheiro, o resto você sublima de outra maneira. O companheiro no cotidiano e na forma de ver o mundo, isso faz muita falta. Existe gente que consegue resolver e arruma outro, não é? Depende de cada um. Eu acho que não há limite para nada. Se está com alguma necessidade sexual, pode se arrumar de alguma forma. Agora saiu uma droga para a mulher que seria uma espécie de Viagra feminino, pois a libido da mulher pode cair. Vejo o futuro muito promissor para todas as idades, para o sexo e tudo mais.
Quanto à questão de se envelhecer em um ambiente que valoriza o corpo saudável e bonito, Elza Berquó diz:
– Eu acho que esse tipo de comportamento não vai mudar. Se você olhar para o tapete vermelho, as mulheres estão cada vez mais deslumbrantes e, se não o são, são fabricadas para ser. Então é uma concorrência dificílima. Quando trabalhei com a pirâmide da solidão, cheguei a dizer que seria interessante para as mulheres bem mais velhas poder viver com outras. Isso porque o desgaste físico é das duas, então tudo bem. Agora, com o homem não. O homem jamais toleraria esse desgaste, a menos que a mulher tenha envelhecido com ele. O homem não sente libido nenhuma por uma mulher idosa. Mas conheço vários casos de mulheres solucionando isso numa relação homossexual. Isso não é inviável.
Elza Berquó é mineira, formada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP). Para conhecer sua biografia, sugerimos a leitura da matéria “Guerreira gentil e generosa”, publicada na Revista CIÊNCIAHOJE N. 305, julho 2013.
Leia a entrevista completa Aqui
Referências
BERQUÓ, Elza. Pirâmide da solidão. Campinas: Núcleo de Estudos de População/UNICAMP, 1986. (Mimeo)
ALVEZ, José Eustáquio Diniz. Envelhecimento e “Pirâmide da Solidão” no Brasil e na América Latina. Disponível Aqui