Unip realiza atualização em Gerontologia

O IV Seminário de Atualização em Gerontologia, realizado na Universidade Paulista (UNIP), campus Paraíso, Cidade de São Paulo, promovido pelo Curso de Especialização em Gerontologia, sob a Coordenação Geral da Profa. Irene Gaeta, no dia 04 de junho de 2011, contou com a participação de 100 inscritos, procedentes dos campus: Cidade Universitária, Marquês, Paraíso, Alphaville, Ribeirão e Assis; professores e alunos dos cursos de Fisioterapia e Psicologia e da Pós-Graduação de Gerontologia, bem como profissionais da saúde atuantes em São Paulo, Distrito Federal e Maceió.

Arlete Salimene, Bernadete de Oliveira *

 

Sérgio Paschoal, Papaléo Netto e Irene Gaetta, na Primeira Discussão

O evento contou com ícones da Gerontologia no Brasil, Prof. Matheus Papaléo Netto e Prof. Sérgio Márcio Pacheco Paschoal, que discutiram com a plateia temas e práticas gerontológicas da atualidade, contribuindo na busca de melhores possibilidades para atuar junto à população que envelhece, e na identificação de conquistas e mudanças interdisciplinares; reflexão sobre o atendimento das necessidades urgentes e emergentes dessa população, dos familiares e profissionais no cenário atual e futuro do Envelhecimento e Longevidade Humana Brasileira.

Jesuíno Irineu Argentino, diretor da Pós Graduação da UNIP, Campus Paraíso, abriu o evento, assinalando a importância do mesmo. Ele disse: Compreendemos a importância de formarmos profissionais com foco interdisciplinar para atuar com o segmento idoso que sofreu aumento na última década”.

Irene Gaeta falou sobre “A vida como um processo ininterrupto” no qual passamos a estar em constante desenvolvimento. Para ela, quando falamos em velhice devemos pensar em termos de processo, em ciclo da vida, a velhice não é um fato estático, é o resultado e o prolongamento de um processo.

Prosseguiu, dizendo que a Gerontologia desenvolveu-se em três planos: biológico, psicológico e social. Na verdade, consiste em uma ciência interdisciplinar, onde não se trata de explicar porque os fenômenos se produzem, mas de descrever sinteticamente, com a maior exatidão possível, suas manifestações. A proposta é de trazer um novo olhar sobre o envelhecimento humano, enquanto possibilidade de desenvolvimento da personalidade.

Gaeta lembrou que Jung afirmava que homens e mulheres na meia idade sofrem um processo de individuação, no qual expressam aspectos da personalidade até então negligenciados. Por isso, algumas questões podem ser fundamentais na meia idade, como, por exemplo, abrir mão da imagem da juventude e entrar em contato com a finitude. Por isso cada profissional é um agente de transformação social na área de Gerontologia. Ela finalizou, lembrando que dentro da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, a segunda metade da vida é denominada de metanóia, onde se pode experimentar a autoconsciência como parte de algo mais amplo.

Sérgio Paschoal, convidou os participantes à reflexão sobre o Cuidado

Sérgio Márcio Pacheco Paschoal focou o tema: “Cuidados e Qualidade de Vida na Velhice”. Para ele o Cuidado está na prática das ações em saúde, está presente, principalmente, nas situações terapêuticas. O Cuidado está na interação entre dois sujeitos, visando o alívio do sofrimento, ou alcance de um bem-estar, sempre mediado por saberes voltados para essas finalidades. Paschoal convidou os participantes à reflexão sobre a questão Quem Cuida e Como é este Cuidado para o segmento idoso? Quem são os Cuidadores? Como formar Cuidadores? Como monitorar os idosos, cuidar dos que moram sozinhos? Contextualizou a transição demográfica e epidemiológica atual, partindo dos conceitos de Curso de Vida e Capacidade Funcional, para abordar ações necessárias e políticas públicas implementadas pela Prefeitura de São Paulo, Secretaria da Saúde, que visam contribuir para a possível melhora e/ou manutenção da Qualidade de Vida do segmento idoso: Acompanhante de Idosos, Refeições sobre Roda, Centro Dia e Assistência Domiciliar.

Matheus Papaléo Netto falou sobre a “Avaliação Gerontológica Multidimensional”, afirmando que “ainda hoje, parece que o processo de envelhecimento é só para os estudiosos! Pois, depende-se muito do que foi feito, mas ainda há muito por se fazer. A Geriatria é um ramo da Gerontologia. Para compreender as múltiplas facetas do processo de envelhecimento é necessária a atenção global ampla, é necessária uma atenção multiprofissional, como abordagem individual e coletiva”.

Para Papaléo, a avaliação da capacidade funcional às vezes é mais importante do que o exame físico-clínico. O Cuidador é fundamental e auxilia na passagem de informações para a equipe. Destacou, ainda, a repercussão da depressão e da demência na qualidade de vida do idoso e de seu familiar, e/ou de quem cuida. Pois, são situações estressantes, graves, nas quais se encontram doentes, tanto os idosos, quanto os seus cuidadores. Acrescentou que na depressão há a variação do humor e mesmo assim não é dada muita importância para esse diagnóstico, que pode ocorrer por vários motivos… perda de amigos, por exemplo. Não é raro o idoso suicidar-se em consequência da depressão. A demência é muito estudada. Houve avanços? Sim, na administração de medicamentos, quando o tratamento é precoce. Mas, leva a morte. O entusiasmo com o qual Papaléo apresentou o tema, envolveu o público que o aplaudiu de pé com visível emoção.

Carolina Broncanello Regina (foto) falou sobre “Doença de Alzheimer, avaliação de memória e envelhecimento”. Enfocou a importância de ‘lembrar de se lembrar’, pois a memória durante o processo de envelhecimento pode se tornar frágil, especialmente, devido aos baixos níveis de acetilcolina, substância que auxilia no estimulo – rapidez – de lembrar, da memória. Segundo ela, a primeira manifestação da Doença de Alzheimer é a impossibilidade de reconhecer o cheiro, é a perda do olfato que muitas vezes passa desapercebida.

A patestrante relatou um experimento pioneiro de ciência cerebral feito na Escola de Freiras de Nossa Senhora do Monte do Bom Conselho em Mankato, Minnesota, com 678 religiosas católicas, moradoras de 75 a 107 anos, recrutadas em 1991; que talvez esteja revelando mais sobre manter o cérebro vivo e saudável do que qualquer outro até agora. Fazem parte do grupo sete centenárias e muitas outras que estão no mesmo caminho. A longevidade das voluntárias pode ser atribuída em parte considerável ao seu impecável estilo de vida. Elas não bebem nem fumam, vivem tranquilamente, exercitam a serenidade e se alimentam de maneira saudável e moderada. Ainda assim, diferenças individuais entre as freiras podem ajudar a desvendar os caminhos para obter uma mente sadia por mais tempo.

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Uma pequena parte das religiosas tinha Doença de Alzheimer, mas muitas não apresentaram nenhum sinal de demência ou senilidade. Entre estas estão a irmã Matthia. Ela nasceu em 1894 e manteve-se mentalmente sadia até sua morte, durante um sono tranquilo, aos 104 anos. Alegre e produtiva, tricotava luvas para os pobres todos os dias até o fim da vida. Um exame post-mortem de seu cérebro não revelou indícios de envelhecimento excessivo. Mas em alguns outros casos, notou-se que embora as irmãs não tenham aparentado senilidade em vida, tinham um cérebro que parecia devastado pela demência.

“Da Universidade à Responsabilidade Social”, tema abordado por Bernadete de Oliveira, que falou sobre a importância da sociedade civil em organizar-se para planejar e desenvolver ações que transformem e renovem as práticas sociais relacionadas ao envelhecimento e a longevidade humana. Ainda hoje, os conceitos de Responsabilidade Social e Filantropia são confundidos; associam-se a ideia à prestação de contas: alguém deve justificar a própria atuação perante outrem; ou ainda, a entendem como sendo a obrigação do administrador de prestar contas ao Estado dos bens recebidos por ele, como imposto de renda. Entretanto, tais perspectivas não se aplicam no mundo contemporâneo.

Lembrou que as Universidades estão inseridas em um dado ambiente social. Por isso, a atitude ética da universidade está em todas as suas atividades e diz respeito às interações com funcionários, fornecedores, estudantes, acionistas, governo, meio ambiente, sociedade e comunidade de seu entorno. A questão da responsabilidade social vai, portanto, além da uma postura legal, da prática filantrópica, do apoio à comunidade – vai além dos muros da universidade. Significa mudança de atitude, numa perspectiva que foca a qualidade das relações, a geração de possibilidades para todos – inserir na pauta pública e privada a temática do envelhecimento e da longevidade humana.

Trouxe, como exemplo, a atuação do OLHE – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento, por meio de seus Programas: Portal do Envelhecimento, Condomínio Amigo e Cuidar é Viver, destacando que a Pesquisa é transversal, está presente em todos os Programas; bem como, sua Missão de disseminar, aplicar e transferir conhecimento qualificado, sobre o envelhecimento e a longevidade humana, viabilizando projetos que visam um envelhecer com futuro. Destacou o empenho atual do OLHE em sensibilizar o segundo setor no sentido de fornecer apoio de forma sustentável e solidária para que a ONG possa prosseguir com programas compatíveis com as diretrizes governamentais sobre o envelhecimento em nosso país.

Arlete Salimene, Verônica Correia da Silva, Bernadete de Oliveira, Maria Luisa Araújo Silva, Irene Gaeta e Ailton da Silva Soares

Arlete Salimene, acrescentou ao enfoque interdisciplinar do evento, o tema: “Políticas Públicas e Direitos dos Idosos”, fazendo referência à historicidade das conquistas sociais da população idosa em nosso país. Desde o período da ditadura militar à promulgação da Constituição Federal de 1988, passando pelos movimentos sociais na década de 1980, à Política Nacional do Idoso, ao Estatuto do Idoso. Contextualizou a visibilidade social do idoso e do envelhecimento no Brasil como ainda em consolidação, que nos processos de democratização conferiu ao idoso direitos de cidadania, expressos em leis. Direitos fundamentais inalienáveis tais como: direito ao trabalho, à liberdade, à vida digna são paradigmas universais e legitimados, porém, em constante movimento a ser cuidado no cotidiano da vida social e familiar. Referiu sobre o tripé da Seguridade Social: Sistema Único de Saúde, Sistema Único de Assistência Social e Seguridade Social como sendo a estrutura de proteção e promoção à pessoa idosa no Brasil.

Jovino Paes Júnior, deu início à exposição da Segunda Mesa: “Envelhecimento Bem-Sucedido”, ao analisar as diversas facetas da alterações fisiológicas do processo de envelhecimento, destacando a importância da atividade física, da boa alimentação e das orientações da equipe multidisciplinar quanto às dúvidas que envolvem a prevenção de doenças e a busca da boa saúde pelo idoso, seu familiar, ou acompanhante e/ou cuidador.

Em seguida, André Feitas falou sobre o conhecimento empírico do “Atendimento Domiciliar em Saúde-Setor Privado”, destacando as diferenças entre os serviços de Home Care, Internação Domiciliar, Atendimento Domiciliar, Gerenciamento e Monitoramento de Doenças Crônicas e Care Manegement. Sugeriu o Poema “Se”, de Hermógenes (Disponível Aqui).

Já André Tadeu Sugawara, fisiatra, enfocou o “Idoso Dependente” sob a perspectiva da deficiência física adquirida ao longo do curso da vida, desde as provocadas por traumas até às provenientes de doenças que geram seqüelas físicas. A partir de sua apresentação, enfatizou que é preciso que o profissional da saúde reveja seus conceitos sobre incapacidade e dependência, pois conceitos equivocados levam, muitas vezes, a castração da autonomia da pessoa que apresenta alguma deficiência física. O profissional ou o familiar, por vezes, pode promover o sentimento de menor valia no idoso e isso gera um insucesso do plano de vida desta pessoa, bem como, ineficiência e fragilidade. São micro transformações que devem ser provocadas nos próprios profissionais, na equipe, na família e na comunidade – é preciso mudar o entrono, pois a dependência não é apenas biológica é uma característica humana.

Destacou a Política de Minimização de Danos, citando exemplos práticos, tais como: lavar o pé segurando no registro do chuveiro, que pode estar solto, como evitar o possível acidente nessa situação? Tecnologia simples: em pé segurar em barras, ou sentado em uma cadeira de área, sabonete dentro da meia cuna. Mas, isso aparentemente tão simples, depende de como a pessoa aceitará a deficiência. Para Sugawara, tudo começa quando se pergunta: O que o senhor tem? E a resposta é a doença como conceito de identidade. Aí é preciso que a pessoa entenda que a doença faz parte da sua história de vida, que tem um nome, uma profissão, uma família e assim por diante. Tudo isso porque a sociedade e a família fazem parte da equipe multidisciplinar que atende esta pessoa, este idoso. Relatou um caso emblemático de um idoso com disfagia (dificuldade de engolir) que foi jantar com a família em um restaurante, em São Paulo, e o proprietário (gerente) pediu que ele se retirasse: …as pessoas da mesa do lado não conseguiam comer.

Tudo vai depender de como as pessoas enfrentarão, de como eu vou me comportar com estas situações de dependência. Quantos mudam o cabo da colher para se alimentar sozinho? Quantos a esposa trata como filho, oferecendo comida na boca, tratando a pessoa no diminutivo, trocando fraldas e acabando com a vida sexual do casal? Quantos são informados que seu parente está deficiente e que isso não significa ser infantilizado ou necessariamente ter dar comida na boca? Para quantos vem a consciência – o que estou fazendo com o meu pai?

A palestra de encerramento “Simbologia e Concretude no Pensamento Trans-Humano”, ministrada por Ricardo Pires de Souza, trouxe uma visão do conhecimento como gerador exponencial do mito pós-humano, como sendo a fusão mente e máquina, a revolução da informação e da biotecnologia. Provocou a plateia, perguntando, emblematicamente (sem respostas): O que Somos? O que sou Eu? Deixando para a reflexão a visão pós-humana na qual o melhoramento bio-tecnológico das capacidades humanas pode prolongar o tempo de vida.

O evento foi finalizado com o debate participativo sobre a perspectiva do envelhecimento saudável, digno, inclusivo e ativo. A sociedade muitas vezes imediatista, individualista, excludente e preconceituosa, que a despeito de tantas conquistas, realizadas e consolidadas, ainda reluta em olhar para seu próprio envelhecimento como possibilidade de vida criativa e produtiva. Os profissionais atuantes na prática cotidiana da saúde e da área da promoção do bem estar e proteção ao idoso saíram fortalecidos deste evento, no sentido de persistirem na busca de métodos científicos na atenção ao idoso, e sobre as questões do envelhecimento em nosso país a par da ênfase que deve recair sobre o papel do Estado, da sociedade civil e da família. O evento, sobretudo, possibilitou ao segmento idoso sair vitorioso em vista do engajamento, compromisso e vocação ética do grupo participante, plateia e palestrantes.

* Arlete Salimene, Doutora em Serviço Social, pesquisadora, professora do Curso de Gerontologia da UNIP e diretora do Serviço Social da Instituto de Medicina Física e Reabilitação do HC FMUSP – Rede de Lucy Montoro. E-mail: [email protected]

** Bernadete de Oliveira, Doutoranda em Ciências Sociais (PUCSP), mestre em Gerontologia (PUCSP), membro do OLHE – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento e professora do Curso de Gerontologia da UNIP. E-mail: [email protected]

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