Uma Lição de Vida

Uma Lição de Vida

No filme “Uma Lição de Vida”, o personagem idoso que decide pensar no seu futuro, que quer ter mais uma chance de aprender a ler e escrever, enfrenta diversas dificuldades: a primeira delas é não ser aceito na escola, de conviver com crianças de 5 anos. Outro ponto que pode ser destacado é o fato das pessoas da região afirmarem que o idoso não poderia estar em seu perfeito juízo em insistir na ideia de querer algo novo nessa altura da vida.

Raquel Ficklscherer e Ruth Gelehrter da Costa Lopes (*)

 

 

Baseado em uma história real, “Uma Lição de Vida” (2014, Direção: Justin Chadwick), retrata a história de um queniano, que aos seus 84 anos de idade decide aprender a ler e a escrever, porém, deve encarar as barreiras e as limitações que a sociedade impõe aos idosos. Ex-combatente de um grupo de revolucionários que lutou contra os ingleses pela independência do Quênia, ele recebe uma carta da Presidência de seu país e resolve se matricular em uma escola primária com o objetivo de decifrá-la.

A partir da história em questão, a ideia aqui é provocar uma reflexão a respeito do aspecto biopsicossocial dos idosos na atualidade, pensar sobre um processo de envelhecimento que se concentre no sujeito, nas suas questões e dilemas.

O envelhecimento faz parte do desenvolvimento do ser humano, é inevitável. Esta fase pode ser vivenciada de diferentes formas, porém, para algumas pessoas, que estão neste processo ou na iminência do mesmo, isso pode gerar certa ansiedade e angústia.

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Além das mudanças físicas, como o aparecimento de rugas e cabelos brancos, perda de habilidade e mobilidade, enfrentamos a percepção social negativa e o contato constante com o sentimento de finitude. Os idosos são vistos como encargos, estão à margem da sociedade, sem nenhuma função social e perspectiva de futuro.

No passado, o idoso era visto com respeito e admiração, como uma pessoa que carrega uma bagagem de conhecimento e experiências adquiridas durante uma vida inteira. Porém a sociedade urbana transformou essa visão – o ritmo acelerado de vida marginaliza aqueles que não são mais capazes de seguir o ritmo esperado.

A vida moderna é marcada por diversos problemas sociais, como a desigualdade, a violência, entre outros, que fazem com que a ansiedade esteja presente na vida de pessoas de todas as faixas etárias. Na visão daquela que está nos primeiros vinte anos de vida, penso que os jovens conseguem encarar esse sofrimento causado pela ansiedade passageira, mas os idosos não tem essa perspectiva.

Para os jovens, o presente sofrimento talvez represente o simples adiamento da satisfação e, por isso mesmo, provoque ações construtivas. Eles certamente esperam (ter esperança) de que, em um tempo futuro, as coisas mudem. E podem lutar para que isso aconteça.

Goldfarb (2006) lembra que para os mais velhos, a violência, o sofrimento e a sensação de desamparo, provocados pela desproteção no presente, somados à forte consciência de finitude, impedem-nos de pensar no futuro como tempo no qual a satisfação seja possível.

Devido à imagem de inutilidade que nossa sociedade tem do velho, estes não se sentem à vontade para começar algo novo e pensar no futuro. Pesquisas apontam que os velhos preferem permanecer em suas casas e somente se mudam para acompanhar suas famílias, enquanto os jovens tendem a migrar mais.

No filme “Uma Lição de Vida”, o personagem idoso que decide pensar no seu futuro, que quer ter mais uma chance de aprender a ler e escrever, enfrenta diversas dificuldades: a primeira delas é não ser aceito na escola, de conviver com crianças de 5 anos.

Outro ponto que pode ser destacado é o fato das pessoas da região afirmarem que o idoso não poderia estar em seu perfeito juízo em insistir na ideia de querer algo novo nessa altura da vida. A partir desse ponto podemos construir uma reflexão a respeito de como enxergamos essas pessoas, pensar em medidas que mudem esse pensamento como a intergeracionalidade e a inclusão dos velhos à sociedade.

Referências

GOLDFARB, D.C. (2006). Velhices fragilizadas : espaços e ações preventivas. In: Velhices: Reflexões Contemporâneas. São Paulo: PUC-SP: SESC.

(*) Aluna do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Supervisora Atendimento Psicoterapêutico à Terceira Fase da Vida. É docente do Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia e do Curso de Psicologia, FACHS.

Ruth G. da Costa Lopes

Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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Ruth G. da Costa Lopes

Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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